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Ditadura usou aeroportos no Rio como centros de tortura, diz Comissão da Verdade

O corpo de Stuart Angel pode estar enterrado na base aérea de Santa Cruz

Rio de Janeiro|Do R7, com Agência Brasil

Ex-coronel disse à CEV que presos políticos eram levados para zona aérea do aeroporto Santos Dumont
Ex-coronel disse à CEV que presos políticos eram levados para zona aérea do aeroporto Santos Dumont Ex-coronel disse à CEV que presos políticos eram levados para zona aérea do aeroporto Santos Dumont

O coronel reformado Lúcio Barroso, que atuou no Cisa (Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica), disse em depoimento à CEV-Rio (Comissão Estadual da Verdade) que o aeroporto Santos Dumont teria funcionado como local de tortura durante a Ditadura Militar. De acordo com o depoimento do ex-coronel, militantes políticos eram levados para a 3ª zona aérea do aeroporto e levados para tomar banho de mar na cabeceira da pista do Santos Dumont.

Barroso também admitiu à CEV que a Cisa participou do desaparecimento de Stuart Angel, mas negou ter se envolvido no caso. A comissão informou que encontrou no Instituto de Criminalística Carlos Éboli um envelope com fotos de uma ossada descoberta na cabeceira do aeroporto em 18 de outubro de 1971, mas não é possível confirmar se seriam de Angel. Segundo Barros, o sargento Abílio Corrêa de Souza, do Cisa, teria atuado na prisão do militante e também na prisão do ex-deputado Rubens Paiva.

Um relatório apresentado nesta segunda-feira (9) pela CNV (Comissão Nacional da Verdade), o corpo de Stuart Angel pode ter sido enterrado na Base Aérea de Santa Cruz. Ele era militante do MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro) e foi preso, torturado e morto em maio de 1971 em uma prisão clandestina na Base Aérea do Galeão, por agentes do Cisa, que buscavam informações sobre Carlos Lamarca. Não há versão oficial sobre o paradeiro do corpo.

O possível local do enterro foi apontado no depoimento do capitão reformado da Aeronáutica Álvaro Moreira de Oliveira Filho, que ouviu a história do colega José do Nascimento Cabral, já morto.

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Cabral era controlador de voo e servia em Santa Cruz. Segundo Moreira, Cabral relatou ter visto da Torre de Controle uma movimentação noturna incomum, com a interdição da pista de pouso a pedido do brigadeiro João Paulo Moreira Burnier, comandante da base na época, e um corpo sendo enterrado na cabeceira. Os militares que serviam no local disseram que se tratava de Stuart Angel.

De acordo com o secretário executivo da CNV, André Sabóia, a comissão pretende fazer investigações in loco, mas é precisa da colaboração da Aeronáutica para encontrar o corpo.

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—Tecnicamente é possível, mas nós precisamos da colaboração intensa da Aeronáutica para ter informações mais precisas sobre esse fato, porque há comandantes da base aérea do Galeão e de Santa Cruz à época vivos, nós temos esses nomes, a Aeronáutica nos informou. Essas pessoas, além de outros militares e civis que serviram nesses locais, poderão dar informações mais precisas para essas buscas, utilizando as tecnologias mais modernas de radar de solo e outras técnicas.

A CNV vai fazer um pedido formal de informações técnicas sobre o caso. O coordenador da comissão, Pedro Dallari lembra que a versão oficial diz que Stuart é considerado desaparecido, mas dois documentos das Forças Armadas confirmam a morte do estudante.

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— Temos comprovação de que Stuart foi morto. Em um documento de 14 de setembro de 1971 e outro de 1975 ele é dado como morto. Documentos das Forças Armadas dão conta de que a morte ocorreu na Base Aérea do Galeão. As informações anteriores falavam que o corpo teria sido jogado no mar ou enterrado em um cemitério clandestino, agora temos essa informação de Santa Cruz. Nós vemos que o padrão de ocultação de cadáver se mantém, como no caso de Rubens Paiva, que teria sido levado para o Alto da Boa Vista. Os corpos são levados para locais ermos.

Muito emocionada na audiência, a jornalista Hildegard Angel, irmã de Stuart, considerou a informação um alento, depois de tantos anos de negação da verdade.

— Enfim tenho uma informação que me parece objetiva a respeito do paradeiro dos restos mortais do meu irmão. E espero que o ministro da Defesa, embaixador Celso Amorim, e o comandante da Aeronáutica tenham o mesmo espírito colaborativo com o país, porque um país sem história não é um país digno, não é uma pátria. A dignidade só vem através da verdade. Temos que dar aos nossos heróis, aos nossos mártires, a honra da sua verdadeira história.

A mãe de Stuart, a estilista Zuzu Angel, morreu em um acidente de carro em abril de 1976, depois de fazer uma campanha internacional para encontrar o filho, que constrangeu o governo brasileiro. Em 1998, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos reconheceu que a morte dela foi um atentado político.

A viúva de Stuart, Sonia Maria Lopes de Moraes, se exilou na França em 1970, depois de ser presa e perseguida por atuar no movimento estudantil. Voltou ao Brasil após a prisão de Stuart e se mudou para o Chile. Retornou ao Brasil em 1973 e foi presa com o companheiro de organização Antonio Crlos Bicalo Lana em São Vicente, litoral de São Paulo. Os dois foram torturados, mortos e enterrados no Cemitério de Perus, em São Paulo, ela com nome falso.

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