RJ: Petrópolis teve ontem chuvas mais intensas que em 2011, diz professor da UFRJ
A cidade registrou ontem ao menos 229 ocorrências relacionadas a chuvas. Houve 189 deslizamentos, e a prefeitura decretou situação de crise
Rio de Janeiro|Da Agência Brasil
O temporal que caiu nesta terça-feira (15) em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, deixando pelo menos 66 pessoas mortas, foi muito mais intenso do que o ocorrido em janeiro de 2011. Naquela ocasião, chuvas torrenciais causaram enchentes e deslizamentos na região, afetando principalmente as cidades de Nova Friburgo e Teresópolis e causando a morte de 918 pessoas.
Petrópolis registrou ontem ao menos 229 ocorrências relacionadas a chuvas. Houve 189 deslizamentos, e a prefeitura decretou situação de crise.
De acordo com Matheus Martins, professor da Escola Politécnica da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e especialista em drenagem urbana, a topografia da cidade é propícia a inundações e deslizamentos, já que ela fica em uma região de encostas e é cortada por rios, sendo o principal o rio Piabanhas, afluente do Paraíba do Sul.
"Quando chove com mais intensidade, a água desce rápido das encostas, atinge o rio, desce com mais velocidade e, quando chega próximo ao centro de Petrópolis, a declividade do rio diminui um pouco e a cheia acaba transbordando para as margens. Isso acontece mais ou menos frequentemente em Petrópolis. Tanto é que, caminhando na avenida no centro de Petrópolis, você vê que a maioria das lojas tem uma comporta que as protege contra as cheias”, explicou Martins.
De acordo com o especialista, porém, a chuva de ontem foi muito mais intensa — tanto em volume como em velocidade — do que as registradas anteriormente pelos postos de monitoramento pluviométrico.
“Fazendo uma comparação com 2011, o posto com o índice mais alto registrou quase 282 milímetros em oito horas. Ontem, o posto do Alto da Serra registrou 221 milímetros em quatro horas. Além disso, a intensidade da chuva, que é a velocidade com que a chuva bate no solo, foi muito maior. A maior intensidade registrada em Nova Friburgo em 2011 foi de 88 milímetros por hora; a de Petrópolis, ontem, no posto do Alto da Serra, chegou a quase 200 milímetros por hora, uma intensidade muito grande”, acrescentou.
Para Martins, a tragédia só não foi maior ontem em Petrópolis porque o solo estava relativamente seco, pois não houve registro de chuvas nos dias anteriores, e o temporal se localizou perto do centro da cidade. Em 2011, o temporal ocorreu após um longo período de chuvas, que já haviam encharcado o solo em toda a região serrana, e se espalhou por vários municípios.
Segundo o professor, com isso, mesmo que a cidade tivesse feito obras de drenagem após 2011, elas não seriam suficientes para evitar estragos. “É uma chuva muito fora do comum. Petrópolis pensou em algumas obras que poderiam diminuir um pouco a cheia máxima, mas aí ficou na questão conceitual para depois fazer uma avaliação econômica e política. Pensou-se em um desvio que passaria por baixo da terra, por trás da catedral, para tirar a água do centro mais rapidamente. Isso poderia melhorar um pouco. Mesmo assim, teria sido uma tragédia”, afirmou.
Martins ressaltou que a melhor maneira de a cidade se preparar para chuvas de tal intensidade é uma boa gestão do espaço urbano, para evitar a ocupação de encostas e margens de rios, e o aprimoramento do sistema de alertas da Defesa Civil. Atualmente, o Sistema de Alertas e Alarmes de Petrópolis dispõe de 18 sirenes, instaladas em comunidades com áreas de risco.
A história da região serrana do estado do Rio é marcada por tragédias que envolvem temporais. Em 1988, após dias ininterruptos de chuva, 134 pessoas morreram devido a deslizamentos e desabamentos ou foram levadas pelas águas da enchente em Petrópolis. Centenas de moradores ficaram desabrigados.
Em 2011, além dos 918 mortos, 30 mil pessoas ficaram desalojadas naquela que é considerada uma das maiores tragédias socioambientais do país. Em 2013, Petrópolis sofreu com chuvas intensas em março, que provocaram mais de 100 deslizamentos e deixaram 30 mortos.