Ataque ao Planalto em 8 de janeiro deixou prejuízo de R$ 4,3 milhões, diz Presidência
Maior parte dos danos é referente às obras de arte, sendo o quadro 'As Mulatas', de Di Cavalcanti, o mais caro, estimado em R$ 3,2 mi
Brasília|Augusto Fernandes, do R7, em Brasília
Os atos de vandalismo ao Palácio do Planalto em 8 de janeiro causaram um prejuízo de, no mínimo, R$ 4,3 milhões, segundo um levantamento da Presidência da República. O valor total dos danos, no entanto, pode ter sido maior, uma vez que o governo não conseguiu mensurar o valor de algumas obras, objetos e móveis danificados.
Os dados da Presidência foram enviados à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Congresso Nacional que investiga os episódios daquele dia. Segundo o governo, a maior parte dos danos é referente às obras de arte que foram depredadas. Até hoje, algumas delas não foram totalmente restauradas.
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De acordo com a Presidência, 24 bens móveis com importância histórica e artística foram danificados, mas o governo só conseguiu levantar o valor de 15 deles. Os itens foram avaliados em R$ 3,5 milhões. O mais caro foi o quadro "As Mulatas", de Di Cavalcanti, estimado em R$ 3,2 milhões.
Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a obra foi danificada com sete perfurações na parte central do suporte, possivelmente, feitas com auxílio de uma pedra portuguesa.
"A camada pictórica tem aparência estável, assim como a moldura e o chassi. A extensão de cada perfuração (tamanho médio da pedra portuguesa), a característica de cada dano (com destacamento parcial do suporte) e a localização na tela (ao centro de sua extensão) podem levar ao agravamento da deterioração em decorrência da movimentação natural das fibras do tecido em estiramento", detalhou o órgão.
Um dos itens que não teve o valor avaliado pela Presidência foi o relógio de Balthazar Martinot, destruído por um dos invasores. A peça do século 17, considerada patrimônio histórico brasileiro, foi doada pela corte francesa a dom João 6º, em 1808, na época imperial. A embaixada da Suíça no Brasil se colocou à disposição para auxiliar na restauração do relógio.
Vidraças e elevadores
Além dos estragos com obras de arte, a Presidência identificou um prejuízo de cerca de R$ 660 mil com a destruição de vidraças e danificação de elevadores, bem como com a depredação de objetos como cadeiras, monitores de vídeo, telefones, microcomputadores, televisões, câmeras de segurança, bebedouros, sofás, detectores de metal e mesas.
A Presidência avaliou, por fim, que houve dano de ao menos R$ 142 mil com o sumiço de 149 itens, entre eles algemas, gaveteiros, bastões, pedestais, telefones, monitores de vídeo, televisões, púlpitos e até nebulizador e estetoscópio, aparelho de medir pressão.
Contratação para os reparos
A Diretoria Curatorial dos Palácios Presidenciais informou à CPMI que o governo fez ao menos quatro orçamentos para restaurar alguns objetos. Os valores variam de R$ 98 mil a R$ 248,5 mil. Entretanto, o governo ainda não finalizou a contratação para reparar os danos, segundo a diretoria.
Considerando os custos envolvidos com o restauro destes itens danificados%2C compreende-se que esta prestação de serviço não configura gasto para o erário público%2C mas investimento em patrimônio histórico-artístico nacional.
"A reparação, desta forma, implica algo além de uma política de conservação, mas também uma prática de memória", afirmou ela. "Quanto ao custo do restauro, o valor depende não do menor preço praticado, mas, sim, da qualidade do serviço prestado e das competências técnicas do profissional. O trabalho de restauro mal sucedido tem efeitos deletérios e duradouros, muitas vezes irrecuperáveis", acrescentou.
Luisa Günther reconheceu que a situação mais delicada envolve os danos acometidos ao relógio de Balthazar Martinot "em função das especificidades na prestação de serviço de restauro". "Considerando a ausência de conhecimento técnico nacional, o aceite da cooperação internacional oferecida pela Embaixada da Suíça está sendo negociado", destacou.