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Criação de moeda única na América Latina é complexa e esbarra em dificuldades, afirmam especialistas

Processo de implementação da medida seria lento e poderia trazer mais riscos do que benefícios para o Brasil

Brasília|Clarissa Lemgruber, do R7, em Brasília

Notas de R$ 50 — caso unificação acontecesse, moeda do Brasil deixaria de ser o real
Notas de R$ 50 — caso unificação acontecesse, moeda do Brasil deixaria de ser o real Marcello Casal JrAgência Brasil

O ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim voltou a defender a criação de uma moeda única para os países da América Latina. A proposta ganha ainda mais força com a possibilidade de o ex-prefeito Fernando Haddad — entusiasta da ideia — assumir o Ministério da Fazenda na gestão do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A implementação da medida, porém, esbarraria em um processo lento e complexo, segundo especialistas ouvidos pelo R7. Outro obstáculo seriam as disparidades entre as economias dos países que fazem parte do território.

Para o especialista em finanças Marcos Sarmento, a adoção de uma moeda única não seria uma proposta viável para os próximos quatro anos, já que depende da definição de diversos parâmetros "objetivos e rigorosos" dos países da região que queiram aderir à ideia.

"Apostaria que não vai acontecer. É um processo muito demorado e complexo. Talvez possa haver algum tipo de facilitação de troca entre esses países, mas uma mudança assim demoraria anos. Pode acontecer no futuro, mas não enxergo isso em um horizonte próximo", afirmou.

Especialista em direito econômico e finanças, o advogado Fabiano Jantalia explica que a medida traria muito mais riscos do que benefícios para o Brasil. "Há o risco de [o país] se tornar o grande amparo econômico das demais nações do Mercosul. Hoje, já respondemos por grande parte do volume de negócios em comércio exterior firmados pelos países do bloco. É preciso considerar também que estamos em um estágio de gestão fiscal muito mais avançado e temos uma pauta de exportações que nos coloca como pouco dependentes dos demais países", explicou.


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Na avaliação de Jantalia, do ponto de vista jurídico a proposta é viável, porém "muito complexa". "Não basta simplesmente criar uma moeda. É preciso que haja uma política fiscal, creditícia e monetária uniforme entre os países para que possamos chegar a um estágio mínimo de eficácia", ressalta.


União Europeia x Mercosul

Segundo Marcos Sarmento, a ideia não promoveria integração regional, como defende Celso Amorim. O especialista cita o trabalho feito durante décadas pela União Europeia antes de criar o euro e as diferenças econômicas, históricas e culturais entre os países latino-americanos.

"A integração é que gera como consequência uma moeda, não o contrário. É necessária uma quantidade enorme de regras e um trabalho de muitos anos. Tudo isso levou ao surgimento do euro. No Mercosul, temos países muito díspares, com situações econômicas bem diferentes entre si. Falta muito avanço e estrutura para que a América Latina consiga implementar essa medida. Não dá para passar o carro na frente dos bois", completa. 


Fabiano Jantalia alerta para as diferenças entre os dois blocos econômicos e a "série de desafios" de longo prazo a serem observados e cumpridos pelos países latino-americanos. O advogado explica que a UE e o Mercosul estão em estágios "absolutamente diferentes" e que há ainda um longo e complexo dever de casa a ser feito pelo bloco para que se possa sequer cogitar essa possibilidade.

"Enquanto a UE se encontra na fase de união monetária, que é considerada o último estágio de integração econômica entre os países de um determinado bloco regional, o Mercosul mal se encontra na fase de união aduaneira, que é antecedente. O Mercosul não conseguiu, mesmo após tantos anos, sequer chegar a uma uniformidade no que diz respeito à sua tarifa externa comum", disse.

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