Lula e Macron criam Comitê de Armamento, e primeira reunião entre os países vai ocorrer até maio
Grupo tem objetivo de ampliar a parceria estratégica no segmento de defesa e identificar novos projetos conjuntos de interesse
Brasília|Plínio Aguiar, do R7, em Brasília
O Brasil e a França assinaram uma carta de intenções que prevê a criação do Comitê de Armamento, com o objetivo de ampliar a parceria estratégica no segmento de defesa e identificar novos projetos conjuntos de interesse. O documento foi celebrado durante a passagem do presidente Emmanuel Macron em Brasília nesta semana.
O comitê será composto por representantes dos Ministérios da Defesa dos dois países. A copresidência do órgão será ocupada pela Secretaria de Produtos de Defesa do Brasil e pela Direção Internacional de Cooperação e Exportação da Direção-Geral do Armamento da França. Uma reunião entre as partes deve ocorrer até 1º de maio deste ano, segundo apurou a reportagem do R7.
"Daremos mais um passo nessa profícua relação. O comitê irá proporcionar a continuidade dos avanços da cooperação bilateral e o intercâmbio de informações na área da política industrial de defesa, buscando a identificação de possíveis sinergias dos projetos conjuntos", afirmou o secretário de Produtos de Defesa do Ministério da Defesa, Rui Chagas Mesquita sobre o grupo.
A visita oficial de três dias de Macron ao Brasil terminou com a assinatura de 23 atos, sendo um dos eixos a cooperação na área de defesa e cooperação em armamento. Os países "decidiram estender sua parceria estratégica e privilegiada na área da defesa numa perspectiva de longo prazo, fundada na cooperação industrial, na transferência de tecnologia, na formação e na aprendizagem".
"Felicitam-se da parceria estratégica Prosub na área dos submarinos, que se baseia numa cooperação de longo prazo e que atingiu marcos importantes. Os dois países acordam manter em alto nível a cooperação voltada à conclusão da construção dos submarinos convencionais e do desenvolvimento da parte não-nuclear do projeto de submarino a propulsão nuclear brasileiro", diz outro trecho do documento assinado por Macron e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"O Brasil e a França reforçarão sua cooperação em cibersegurança por meio de esforços comuns visando a promover um ciberespaço livre, aberto, seguro, estável, acessível e pacífico. Os dois países continuarão a troca de pontos de vista sobre o comportamento responsável dos Estados e a aplicação das normas internacionais no ciberespaço, inclusive através da instauração de processo de diálogo institucional regular das Nações Unidas para a cibersegurança", acrescenta.
Parceria
No setor de defesa, Brasil e França já desenvolveram diversos projetos, como a construção de helicópteros e satélites. Na última quarta-feira (27), a Marinha do Brasil lançou ao mar o terceiro submarino de propulsão diesel-elétrica do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), que faz parte da parceria entre os dois países firmada em 2008.
O submarino tem 71 metros de comprimento e possui deslocamento submerso de 1.870 toneladas. O procedimento de submersão é rápido e leva cerca de 30 minutos. O equipamento pode ficar em operação por até 70 dias e foi construído para superar a profundidade de 250 metros. O gesto de batismo foi feito pela primeira-dama, Rosângela da Silva, mais conhecida como Janja.
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Como mostrou o R7, os dois países articulam também uma possível cooperação na oferta de combustível do primeiro submarino brasileiro convencionalmente armado com propulsão nuclear. O equipamento é desenvolvido pela Marinha brasileira e vai receber o nome de Álvaro Alberto, em homenagem ao patrono da ciência, tecnologia e inovação da Marinha. A previsão de entrega é até 2033.
"Nós acreditamos que sim, que é uma área em que talvez houvesse uma resistência no passado, mas hoje já há conversas sobre essa possibilidade, de que a França coopere conosco inclusive nesse aspecto à luz da energia nuclear, do combustível nuclear", afirmou a embaixadora Maria Luisa Escorel de Moraes, secretária de Europa e América do Norte do Ministério das Relações Exteriores. "Sim, é um assunto estratégico, sensível, delicado, mas sim, os dois países estão conversando sobre isso também", acrescentou.
Lula afirmou ao presidente francês que o Brasil quer conhecimentos da tecnologia nuclear não para fazer guerra, mas sim para garantir o recurso a todos os países que querem a paz. "Quando terminar a nossa conversa amanhã, volte para a França e diga aos franceses que o Brasil está querendo os conhecimentos da tecnologia nuclear não para fazer guerra. Nós queremos ter os conhecimentos para garantir a todos os países que querem paz, que saibam que o Brasil estará ao lado de todos, porque a guerra não constrói, a guerra destrói. O que constrói é desenvolvimento, é conhecimento científico, é conhecimento tecnológico, e é nessa área que queremos fortalecer a parceria com o povo francês", disse.