Mostra traz desenhos de Niemeyer que idealizam construção de Brasília
Exposição tem originais e reproduções do que seria base para projeto da praça dos Três Poderes; evento pode ser visto até 22/5
Brasília|Lucas Nanini, do R7, em Brasília
O Espaço Oscar Niemeyer, na praça dos Três Poderes, em Brasília, recebe até 22 de maio a exposição O Mestre e o Aprendiz: Oscar Niemeyer e Gervásio Cardoso, com uma série de desenhos que fizeram parte dos estudos para a criação da praça dos Três Poderes. O evento faz parte da programação que celebra os 62 anos da capital federal. A mostra pode ser visitada gratuitamente de terça a sexta, das 9h às 18h, e no sábado e domingo, das 9h às 17h.
O material é composto de peças originais e reproduções que foram presenteadas por Niemeyer ao arquiteto Gervásio Cardoso. O "aprendiz" trabalhou junto com o mestre na construção de Brasília, sendo estagiário da Novacap e depois contratado como desenhista da companhia. Os dois atuaram juntos por dez anos.
Ao todo, são 14 desenhos a lápis sobre papel-manteiga. A exposição também traz quadros feitos por Gervásio sobre o trabalho de Niemeyer, documentos, fotos e vídeos gravados pelo APDF (Arquivo Público do Distrito Federal).
“Fico feliz e lisonjeado, pois representa o reconhecimento de meu trabalho no planejamento e na construção da nova capital. O evento enfocará, em especial, minha atuação como pioneiro e colaborador de Niemeyer, mas também divulgará uma série de desenhos de minha autoria sobre a obra dele em Brasília. É minha homenagem ao grande mestre”, diz Gervásio.
“Na mostra, a arquitetura é um meio para contar uma história muito importante: a da relação entre mestre e aprendiz. No caso de Oscar e Gervásio, essa história muitas vezes se confunde com a da construção da nova capital”, afirma o curador da mostra, Felipe Ramón Rodríguez.
“A nossa missão é pôr a memória de Brasília em movimento, e essa exposição é uma joia dentro das comemorações do aniversário de 62 anos de Brasília”, diz o secretário de Cultura e Economia Criativa do DF, Bartolomeu Rodrigues.
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“A mostra traz novos elementos do trabalho de Oscar Niemeyer ainda na fase de idealização da capital federal. A partir das memórias de Gervásio Cardoso, podemos ter uma perspectiva mais próxima, tanto do processo criativo de Niemeyer quanto de sua relação com aqueles que o ajudaram a construir Brasília”, diz o subsecretário do Patrimônio Cultural da Secec, Aquiles Brayner.
Inspiração
Gervásio destaca o trabalho de Niemeyer como algo único e inovador desde a concepção. Para ele, o mestre era dono de uma arquitetura moderna, despojada e simples, com enormes vãos e balanços nunca antes vistos, que desafiavam a tecnologia e os padrões disponíveis na época.
“Com base em pequenos croquis iniciais, a ideia ia evoluindo para diversas soluções possíveis que, em determinado momento, eram consolidadas em forma de perspectivas. Num segundo momento, ele se aprofundava mais no estudo dos aspectos técnicos e funcionais até encontrar uma solução que compatibilizasse função e forma”, diz o arquiteto.
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Ele fala que o traço do mestre foi influência positiva desde o começo de sua trajetória, de uma forma natural, como pode ser constatado em seus primeiros estudos junto à equipe da Novacap. O arquiteto destaca os anteprojetos para o Centro de Rádio e Televisão e para a Casa de Detenção de Brasília, ainda nos anos 1960.
“Além dessa influência de ordem técnica, absorvi, na minha convivência e observação diária das atitudes de Niemeyer, valores importantes para minha vida profissional, como generosidade, simplicidade e responsabilidade. Sou eternamente grato a ele pelo apoio prestado a mim no início e ao longo de minha vida profissional.”
O aprendiz
Nascido em Paineiras, em Minas Gerais, em 1943, Gervásio Cardoso se mudou para Patos de Minas em 1952. Foi lá que teve contato com Niemeyer pela primeira vez, em janeiro de 1960. Uma professora disse que o arquiteto passaria a noite na cidade antes de seguir para Brasília.
Três meses antes da inauguração da nova capital, o aprendiz desembarcou no Planalto Central. “Para minha surpresa, com apenas 17 anos de idade, Niemeyer me convidou para estagiar em sua equipe, na Novacap, e em agosto de 1960 fui contratado como desenhista”, relata.
Gervásio conta que logo que conheceu o mestre mostrou a ele um retrato que havia desenhado do próprio Niemeyer feito pelo então aprendiz. A resposta do arquiteto carioca foi a seguinte: “Bonito, mas aqui precisamos de desenho técnico”, relembra o “pupilo”, que disponibilizou o quadro para a exposição.
Gervásio se formou em arquitetura e urbanismo pela UnB (Universidade de Brasília) em 1967. Em 1970, ele estagiou por um ano na Escola Nacional Superior de Belas-Artes de Paris. Entre 1971 e 1972, foi o coordenador-geral do desenvolvimento do anteprojeto de Niemeyer para os edifícios do Anexo II do Senado.
Ele também chefiou os projetos de arquitetura de interiores e paisagismo dos prédios da casa legislativa. Outro destaque de sua atuação foi ter sido responsável pelas obras de acabamento do edifício do Ministério da Justiça, projeto também de Niemeyer, em 1973.
Exposição O Mestre e o Aprendiz: Oscar Niemeyer e Gervásio Cardoso
Local: Espaço Oscar Niemeyer
Endereço: Setor de Administração Federal, praça dos Três Poderes, Bloco J
Informações: (61) 3443-6528; eon@cultura.df.gov.br
Data: até 22 de maio, de terça a domingo
Horários: de terça a sexta, das 9h às 18h; sábado e domingo, das 9h às 17h
Observação: uso de máscara obrigatório