'Quase 5 conto que eu passo', diz ex-assessor em áudio sobre suposta rachadinha para Janones
Nova gravação obtida pelo R7 faz parte de uma manifestação protocolada no MPF que revela o esquema
Brasília|Bruna Lima, do R7, em Brasília
Um novo áudio obtido pelo R7 mostra um ex-assessor do deputado federal André Janones (Avante-MG) alegando que precisava repassar quase R$ 5.000 do próprio salário mensalmente ao suposto esquema de rachadinha no gabinete do parlamentar.
A gravação faz parte de uma manifestação protocolada em 2021 no Ministério Público Federal que denunciou o crime. Janones nega qualquer recebimento ilícito de verba dos funcionários.
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O processo corre em sigilo. Mas a reportagem conversou com o denunciante, o ex-assessor Fabricio Ferreira. Foi ele quem gravou o áudio de uma conversa com Alisson Camargos, outro ex-assessor de Janones que atualmente ocupa o cargo de secretário de Meio Ambiente na Prefeitura Municipal de Ituiutaba (MG).
Sem saber que estava sendo gravado, Camargos confessa: "Quase R$ 5 [mil] conto que eu passo para ele [Janones], Fabricio. Nem R$ 9.000 eu estou tirando. R$ 9.000, assim, no papel, entendeu?". Camargos diz também que o esquema demonstra que eles não são amigos do parlamentar. "Nós somos funcionários", completa.
Responsável pela gravação, Fabricio Ferreira contou à reportagem que o esquema era mensal e que, no caso de Camargos, "ele repassava R$ 5.000 de um salário de R$ 9.000, aproximadamente 60% do salário". Ferreira também afirma que outras pessoas precisariam fazer os repasses para Janones e que quem articulava o recebimento, em éspecie, era a então assessora Leandra Guedes (Avante), atual prefeita de Ituiutaba.
Janones era muito hábil. Os assessores tinham que sacar o dinheiro e já passar para ele. Ouvi muitas conversas entre assessores de que ele guardava vários pacotes%2C envelopes de dinheiro na casa dele.
O caso é investigado pela Polícia Federal, mas corre sob sigilo. Além de Ferreira, o jornalista Cefas Luiz, também ex-assessor de Janones, denunciou o esquema. Em 5 de fevereiro de 2019, ele gravou a primeira reunião após os funcionários tomarem posse, ocasião em que Janones pede a servidores parte do salário para pagar despesas de campanha. Esse áudio foi revelado pela primeira vez nesta segunda-feira (27) e já motivou uma notícia-crime encabeçada por deputados da oposição.
Leia mais: Deputados da oposição apresentam notícia-crime contra Janones por suposta rachadinha
Cefas disse à reportagem que "o esquema rodou no gabinete e era mensal". Assim como Ferreira, alegou que a prefeita de Ituiutaba, Leandra Guedes, na época assessora de Janones, seria a responsável por coordenar o esquema dentro do gabinete.
Em nota, a prefeita Leandra Guedes (Avante) disse não ter conhecimento do conteúdo divulgado nesta segunda-feira (27) e que jamais presenciou ou participou de qualquer conduta ilegal.
O R7 procurou o secretário de Meio Ambiente, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
Outro lado
Janones nega ter cometido rachadinha e afirma que a gravação foi "clandestina e criminosa" e se trata de um áudio "retirado de contexto" e para tentar imputar a ele um crime que afirma jamais ter cometido. "Essas denúncias vazias nunca se tornaram uma ação penal ou qualquer processo, por não haver materialidade. Não são verdade, e sim escândalos fabricados", completa. Além de negar ter recebido dinheiro dos assessores, Janones afirma que toparia abrir mão do sigilo bancário. "Eu não tenho o que esconder", garante.
Entenda
De acordo com o áudio supostamente gravado por um ex-assessor de Janones, a verba da rachadinha seria usada para cobrir um rombo de R$ 675 mil nas contas pessoais do político, que afirma ter precisado vender casa e carro e usado o dinheiro da poupança e da previdência para bancar a corrida eleitoral.
Na conversa com a equipe, após declarar a intenção de obter parte do salário dos assessores para fins pessoais, Janones reafirma que não admitirá cargos-fantasmas, em uma tentativa de legitimar o suposto esquema. O deputado disse, ainda, não temer a perda de mandato. "Se eu tiver que ser colocado contra a parede, não estou fazendo nenhuma questão desse mandato. Para mim, hoje, renunciar é uma coisa tão natural." Segundo Janones, esse esquema seria "justo".