‘Me sinto na Disney, é meu parque de diversão’, diz Nicolas Sarubbi, o ‘menino do Metrô’ sucesso nas redes
Com milhares de seguidores, influenciador combina humor e informação para retratar situações do transporte de SP
Entrevista|Filipe Pereira*, do R7
Utilizar o transporte público é algo rotineiro na vida de milhões de brasileiros em todo o país. Mas seria possível transformar esse assunto tão trivial em algo que renda visualizações e seguidores nas redes sociais? O influencer Nicolas Sarubbi, de 20 anos, comprovou que o tema pode, sim, gerar conteúdo e engajar milhares de pessoas com seus vídeos bem-humorados, misturando entretenimento e prestação de serviço.
A história do paulistano não é muito diferente de outros cidadãos comuns. Após passar um perrengue na Linha 1-Azul do Metrô de São Paulo, Sarubbi decidiu pegar o celular e gravar um vídeo para externalizar a frustração da experiência. O vídeo, mandado como piada para os amigos, viralizou e criou uma chuva de comentários que pediam mais conteúdos parecidos, reclamando sobre outras linhas do transporte metroviário.
Foi com o assédio nas ruas que o influencer sentiu que poderia produzir algo do gênero. “Acho que o principal começou quando o povo passou a me parar na rua e conversei com as pessoas, que falaram: ‘Pô, eu gosto muito de seu conteúdo [...]’. ‘Faz trajeto da Linha 20-Rosa’. ‘Faz um vídeo sobre isso’. E foi, aí, que comecei a entender que, realmente, poderia ser um conteúdo interessante, que as pessoas têm interesse”.
Essa conexão com o público se converteu em números. Em suas redes, o jovem criador acumula mais de 400 mil seguidores e milhões de visualizações em seus conteúdos. Já em sua página do Instagram, o influenciador auxilia os usuários em um canal de informações com mais de 15 mil assinantes, em que atualizações sobre a situação das linhas da CPTM e do Metrô são divulgadas.

No entanto, apesar da confiança dos usuários nas informações divulgadas por Sarubbi, ele deixa claro que não consegue apurar tudo e que recomenda sempre que os seguidores consultem os meios de comunicação oficiais. “Vejo que muita gente me leva realmente a sério, como quando tem greve, eu fico desesperado, porque o povo confia mais em mim do que no jornal. Tenho medo de sei lá, soltar alguma coisa errada sem querer”.
Com tamanha influência, além de mostrar os transportes de outras cidades pelo país, o influenciador começou a ser convidado para apresentar a seus seguidores os bastidores dos trabalhos nas obras das empresas de transporte de São Paulo. Sarubbi já produziu conteúdos nas obras das estações das futuras linhas 17-Ouro, do monotrilho, e 6-Laranja, com esse segundo vídeo acumulando mais de 2,5 milhões de visualizações.
Veja a íntegra da entrevista:
R7: Como é criar esses roteiros que misturam entretenimento com a parte informativa?
Nicolas Sarubbi - As ideias surgem do nada. Teve um desses dias que eu estava com minha amiga num bar da faculdade, lembro que falei para ela: “ó, quero gravar um vídeo aqui”. Vai do nada, isso que é mais entretenimento. E de informações, vejo sempre o que me pedem muito, realmente gosto do que as pessoas estão interessadas em ver. Sempre tento explicar de uma forma fácil para que as pessoas realmente entendam. Então, mexendo no roteiro é sempre meio caótico, porque, como em um caso da Linha Coral, eu mesmo demorei para entender e colocar isso de uma forma que todo mundo entenda. É sempre um problema, dá trabalho e, às vezes, passo um dia para fazer um roteiro. Mas, no final, acaba dando certo.

R7: Como é lidar com toda a atenção do público, nas redes e pessoalmente?
Nicolas Sarubbi - É muito doido até hoje, o fato das pessoas me reconhecerem, sabe? Eu não sei como colocar em palavras. Tem gente que me admira por eu andar de metrô, eu fico: “gente, eu só ando de metrô” [risos]. É só mais uma coisa. Já as informações, muitas coisas aprendi mesmo com as pessoas, que comentam os vídeos. E é um assunto que sempre me interessou, só que nunca fui um expert, só era curioso e ia atrás. Acho muito doido a pessoa ter essa visão minha, sendo que, na minha cabeça, é apenas mais um andando de metrô ali e pronto.
Já chegou gente chorando para falar comigo, não sei o motivo. Adoro, só que fico: “nossa, o pessoal fica nervoso assim para falar comigo?”, isso que não entra muito na minha cabeça. Isso daí para mim é a maior dificuldade, entender que o povo gosta realmente de me ver falando, não é só um passatempo, ali tem gente que vai atrás, que é realmente influenciado pelos meus vídeos. É um negócio que ainda estou tentando entender direito, como funciona essas coisas, que ainda é tudo muito novo, né?
R7: Qual o sentimento que você fica em relação ao impacto que você tem na vida dessas pessoas?
Nicolas Sarubbi - Fico muito feliz, de verdade, porque, querendo ou não, o transporte, hoje em dia, melhorou muito na questão de marketing. Só que tem muitas coisas que o Metrô e a CPTM fazem e não divulgam, sabe? Então, fico muito feliz de conseguir mostrar esse lado, mostrar para as pessoas que o transporte tem muito investimento, pensam que é uma coisa simples. . Achei muito legal, até da minha própria parte mesmo, não imaginava como que era o trabalho para construir uma única estação.
Infelizmente, não é um negócio que todo mundo pode visitar, então, fico feliz de poder mostrar a uma parte da população como que tudo é feito, e mudar essa visão das pessoas. Ao mesmo tempo que aprendo, imagino a pessoa ali, que está em casa, ela vê da Brasilândia que chegou o ‘tatuzão’. Eu não imaginava como era o tatuzão, que era um negócio gigante que ficava girando. Fico me colocando no lugar dos outros, que ia adorar ver aquele vídeo, sabe?
R7: E você já teve a oportunidade de conhecer as linhas férreas outros estados, como do Rio de Janeiro e do Distrito Federal. Como foram essas experiências?
Nicolas Sarubbi - Eu adoro conhecer lugares novos. O primeiro que foi o de Santos. Já tinha ido para a cidade, só que eu era muito pequeno e achei muito bom, porque foi meio que uma desculpa para viajar. E o do Rio de Janeiro foi o mesmo, já tinha ido para o Rio, só que nunca tinha andado no metrô lá. Querendo ou não, o metrô é um negócio muito bom, que você acaba conhecendo muito o lugar por causa dele, né? Conheço São Paulo quase que inteira graças ao Metrô, aprendi a andar em São Paulo graças ao Metrô, ia passear e descobria uma estação nova. Foi igual no Rio de Janeiro, mesmo que o metrô não seja um dos melhores, dá para conhecer muito bem a cidade. Esse ‘intercâmbio’ nas cidades, eu adoro.
R7: Além da obra da futura estação Brasilândia, tem algum momento que te marcou na produção dos vídeos?
Nicolas Sarubbi - Para ser bem sincero, eu me sinto na ‘Disney’ [risos], porque ali é meu parque de diversão, amo estar dentro de obra, qualquer coisa assim. E tirando essa daí do ‘tatuzão’, acho que, de obra que visitei, a do Monotrilho da [futura] Linha 17-Ouro foi muito legal também, e fui em todas as estações praticamente. Acho que, no geral, uma que tenho muito carinho também foi da visita em que entrei no túnel da Linha 5-Lilás, em que acompanhei uma manutenção de madrugada ali. Foi muito legal porque também não tinha noção do trabalho que era para se fazer uma manutenção mínima. Só de estar no túnel — que a linha de lá é caótica, mas o túnel é lindo —, você não imagina o tamanho daquilo, na hora que pisa ali, fica “pô, é enorme”.
R7: Você acha que, criando esse conteúdo, falando sobre transporte, abre portas para que esse tema tenha outro tipo de visão pelo público?
Nicolas Sarubbi - Acho que sim, tanto eu, como a CPTM também — com um marketing absurdo —, a gente conseguiu fazer um negócio de não se levar a sério, mas as pessoas começam a entender melhor, sabe? Que não é só um sistema qualquer, como: “ah, trem só vai e volta ali, o povo entra e acabou”. Não, tem um sistema gigante por trás, tudo trabalhoso. Acho que consegui ajudar também a mostrar esse lado que o povo não via mesmo, os bastidores. Quando você visita uma obra gigantesca, a pessoa realmente não imagina e começa a ver que é um negócio sério, trabalhoso, que envolve milhões de pessoas para fazer uma única estação. Muita gente me leva realmente a sério, como quando tem greve, eu fico desesperado, porque o povo confia mais em mim do que no jornal. Fico desesperado, tenho medo de, sei lá, soltar alguma coisa errada sem querer. Eu não consigo, falo: “gente, olha o jornal, pelo amor de Deus, não fica só comigo”, sabe? Só que nesses momentos que acho que é quando mais me levam a sério, na questão da greve, o povo começa a ver os problemas mesmo e dá um medo de ser levado a sério, porque você pega toda a responsabilidade daquilo.
R7: E quais os próximos planos?
Nicolas Sarubbi - Mais para frente, quero muito tentar de, alguma forma, mostrar para as concessionárias no geral, como o Metrô, CPTM, Via Mobilidade, o potencial de que consigo ajudar eles, sabe? Para divulgar qualquer coisa, porque é muito complicado ainda. Divulgo o Metrô, só que até hoje tenho dificuldade de ir para qualquer obra, para fazer visita. Acho que, no momento, meu maior objetivo é mostrar esse apoio que consigo dar para eles. E também sempre com o objetivo crescer cada vez mais, conseguir divulgar as informações e ajudar as pessoas, e visitar obra de monte, meu maior objetivo, porque adoro [risos].
*Sob a supervisão de Thaís Sant’Anna