Como drones interceptadores ucranianos reescrevem o manual da guerra aérea
Equipamentos baratos e de fabricação local desafiam mísseis milionários e mudam o equilíbrio nas defesas europeias
Internacional|Do R7
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Produzido pela Ri7a - a Inteligência Artificial do R7

A Ucrânia transformou a guerra aérea moderna. O país passou a usar drones interceptadores, aeronaves pequenas e baratas que colidem diretamente com drones russos em pleno voo.
A estratégia, antes considerada impossível, tornou-se um dos pilares da defesa nacional diante das ondas de ataques lançadas por Moscou.
A ideia surgiu em 2024, quando um instrutor ucraniano propôs usar quadricópteros contra drones inimigos. Soldados riram da sugestão, comparando-a a cenas de Star Wars. Mas, diante da escassez de mísseis e da necessidade de proteger cidades, a proposta virou realidade.
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Hoje, Kiev já produz mil interceptadores por dia e derrubou 150 aeronaves inimigas em uma única ofensiva recente.
A iniciativa atraiu atenção da OTAN. O almirante Pierre Vandier, responsável pela modernização da aliança, chamou os drones interceptadores de uma das soluções mais promissoras para conter ameaças russas. Países como o Reino Unido já anunciaram parceria com Kiev para desenvolver milhares dessas aeronaves.
Drones surgiram de improviso
Esses equipamentos nasceram da urgência. No inverno de 2024, os mísseis antiaéreos da Ucrânia eram escassos e caros demais. Com os bombardeios de drones Shahed de fabricação iraniana e custo estimado entre 20 mil e 70 mil dólares, o país precisou improvisar. As defesas tradicionais, baseadas em metralhadoras e mísseis milionários, não conseguiam acompanhar a intensidade dos ataques.
Engenheiros ucranianos começaram a adaptar drones civis para interceptação aérea. A fundação Come Back Alive, em parceria com o projeto Dronefall, coordenou o esforço com mais de uma dezena de fabricantes locais. O resultado: mais de 3.000 aeronaves russas abatidas desde então. Cada interceptador custa de 2.500 a 6.000 dólares, o que representa uma fração do preço dos mísseis convencionais.
Drone chega a 340 km/h
Um dos modelos mais notáveis é o Sting, criado pela empresa Wild Hornets. O aparelho atinge 340 km/h, é pequeno o bastante para caber em uma mochila e carrega uma ogiva explosiva. Segundo a fabricante, o Sting já derrubou mais de 400 drones Shahed e tem eficiência de 70%. Para operar o equipamento, as equipes precisam reagir em minutos, guiadas por radares que rastreiam as aeronaves inimigas.
O treinamento, no entanto, é complexo. A escola Drone Fight Club, em Kiev, formou mais de 5.000 pilotos, mas apenas algumas dezenas conseguiram concluir o difícil curso de interceptadores, um exame com taxa de aprovação de 30%. A dificuldade é explicada pela exigência de reflexos rápidos e precisão absoluta.
Rússia contra-ataca
A corrida tecnológica não para. A Rússia já utiliza versões turbinadas dos Shaheds, capazes de alcançar 500 km/h, o que ameaça superar a velocidade dos interceptores. Diante disso, engenheiros ucranianos trabalham secretamente em novos modelos com sensores e propulsão aprimorados.
O sucesso das aeronaves ucranianas também reacende o debate sobre o custo das guerras. Um míssil do sistema NASAMS, fornecido pelos EUA, custa cerca de 1 milhão de dólares. Já um drone interceptador custa o equivalente a um laptop. A diferença de valores redefine as estratégias de defesa e inspira exércitos europeus a buscar alternativas de baixo custo.
Enquanto a guerra segue, o campo de batalha ucraniano tornou-se um laboratório tecnológico. De drones marítimos a interceptadores aéreos, Kiev inverteu a lógica de que vencer depende de armas caras. Na prática, as pequenas máquinas pilotadas à distância estão reescrevendo, em tempo real, o manual da guerra moderna.
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