Francisco e Obama, dois ícones do século XXI unidos contra a desigualdade
Internacional|Do R7
Cristina García Casado. Washington, 30 jan (EFE).- São duas das figuras mais icônicas do novo século, suas respectivas chegadas ao poder foram vistas como uma revolução para as instituições que governam e ambos se comprometeram a lutar contra a desigualdade. O primeiro presidente negro dos Estados Unidos e o primeiro papa latino-americano se conhecerão em março no Vaticano. Com a visita, Obama, com sua atual baixa popularidade tem muito a ganhar: sairá na foto junto a um dos líderes mais populares do mundo, que conseguiu convencer tanto os católicos como os que não são com um discurso simples focado na pobreza. De fato, a luta contra a desigualdade é também o carro-chefe do segundo mandato de Obama, que terá em seu encontro com o papa a melhor vitrine e alto-falante para seu propósito de legislatura: reduzir as enormes diferenças econômicas dentro da principal potência do mundo. "Obama teve uma grande sorte que o Vaticano tenha se voltado aos temas de justiça social tradicionais e deixado em segundo plano defender temas tão divisores como o aborto, o casamento homossexual e métodos contraceptivos", disse à Agência Efe Alain L. Sanders, professor do Departamento de Ciências Políticas da Universidade Saint Peter's em Nova Jersey. Dessa forma, Obama está se beneficiando da atitude menos beligerante do novo papa em assuntos nos quais suas opiniões divergem e poderá encaminhar o encontro em direção a temas que os une e pelo que ambos batalharam muito antes de chegar ao poder: a defesa dos menos favorecidos. A sintonia neste assunto é tanta que o presidente dos EUA citou o papa durante um discurso no mês passado sobre a desigualdade salarial no país. No entanto, será inevitável que durante o encontro sejam abordados assuntos como as objeções da Igreja Católica a alguns pontos da reforma da saúde de Obama, como a disponibilização obrigatória de métodos contraceptivos - assunto já debatido na recente visita do Secretário de Estado americano, John Kerry, ao Vaticano. Esta é uma das questões que têm complicado o relacionamento já tenso entre Obama e a Igreja Católica, um cenário que poderia melhorar após o encontro do presidente com a mais alta autoridade da Igreja, que também poderia atrair votos para os democratas no ano de eleições ao Senado. "O papa é muito popular nos EUA, portanto Obama pode usar a foto com ele para atrair os eleitores católicos, principalmente os latinos, que votaram menos em 2012 que em 2008, e também os progressistas que acolheram de muito bom grado o novo papa", disse à Efe o estrategista e analista político Charles D. Ellison. E acrescentou: "Além disso, esta reunião poderia ajudar a melhorar as relações dos EUA com países como o Brasil e o México, que se sentiram traídos ao tomarem conhecimento sobre a espionagem da NSA - Agência de Segurança Nacional - a líderes estrangeiros. De alguma forma, o papa se transformará em um representante destas nações para Obama". Outra questão que certamente será abordada no encontro de março entre os líderes será o conflito na Síria, assunto que no momento ambos têm a mesma opinião, porém discordavam há um ano, quando Obama demonstrava interesse por uma intervenção militar e o papa defendia fazer o possível para evitar este cenário. Além do conteúdo da reunião, a própria imagem dos dois líderes icônicos juntos é histórico: o primeiro negro americano que chegou a Casa Branca apertando as mãos do primeiro latino a liderar a Igreja Católica. Além disso, suas respectivas ascensões ao poder não só foram um marco, mas despertaram esperanças de mudança em suas instituições e os transformaram em ícones de um século ainda nostálgico dos grandes líderes morais do anterior, como o recentemente falecido ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela. Embora fique mais três anos na Casa Branca, Obama perdeu sua grande popularidade inicial e registrou seus piores índices em dezembro, ao contrário do papa, que terminou 2013 nomeado como a personalidade do ano pela revista "Time" entre o reconhecimento mundial por todo seu trabalho de renovação da Igreja. EFE lab/jcf-rsd