Justiça de Israel retoma julgamento de Benjamin Netanyahu
Primeiro-ministro é acusado de corrupção, fraude e de obter benefícios indevidos de meios de comunicação do país
Internacional|Da AFP
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, fez um "uso ilegítimo" de seu poder - afirmou a promotora do caso, nesta segunda-feira (5), na retomada do julgamento por corrupção do chefe de Governo, ao mesmo tempo em que começam consultas pós-eleitorais cruciais para seu futuro político.
O primeiro-ministro de 71 anos, 15 deles como chefe de Governo, é acusado de corrupção, fraude e abuso de confiança em três casos. Ele nega todas as acusações.
Netanyahu fez "uso ilegítimo do grande poder governamental que lhe foi confiado, entre outras coisas para exigir e obter benefícios indevidos dos proprietários dos principais meios de comunicação em Israel com o objetivo de promover assuntos pessoais, inclusive quando aspirou a reeleição", afirmou a promotora Liat Ben-Ari na abertura do julgamento.
O primeiro-ministro compareceu ao tribunal do distrito de Jerusalém para as declarações iniciais da promotora e saiu antes do anúncio das primeiras testemunhas.
Nos arredores do tribunal, grupos de manifestantes exibiam cartazes com frases como "Mentiroso" e "Vigiamos a democracia". Há vários meses, todos os sábados, grupos exigem a renúncia de Netanyahu diante de sua residência.
Ao mesmo tempo, na manhã da retomada do julgamento, o presidente de Israel, Reuven Rivlin, pretendia iniciar as negociações de dois dias com líderes dos partidos. Estas conversas serão decisivas para o futuro político de Netanyahu.
O Likud, partido de direita do primeiro-ministro, venceu as eleições legislativas de 23 de março, as quartas no país em menos de dois anos, com 30 das 120 cadeiras da Knesset.
E, mesmo que acrescente as cadeiras de seus aliados, o partido não consegue alcançar a maioria de 61 deputados, necessária para formar um governo estável. Muitos partidos rivais querem acabar com seus 12 anos consecutivos de mandato.
Sem um líder de consenso entre seus adversários, Netanyahu tem grandes chances de receber o maior número de recomendações, com o apoio dos 16 deputados dos partidos ultraortodoxos Shas e Judaísmo Unido da Torá, além dos seis da aliança de extrema-direita Sionismo Religioso.
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Em geral, designa-se o candidato que recebe mais recomendações, que então terá 28 dias para formar o governo - um prazo que o presidente pode prolongar por 14 dias.
Na semana passada, Rivlin insinuou, porém, que os cálculos de cadeiras podem não ser o único fator no momento de tomar uma decisão e que, na quarta-feira, designará um deputado capaz de formar um governo para "curar as divisões (...) e reconstruir a sociedade".
"Coalizões fora do comum"
Não está descartada a possibilidade de formação de "coalizões fora do comum" para retirar Israel da estagnação política, afirmou o presidente.
Como a relação de Netanyahu e Rivlin já teve momentos complicados, o Likud interpretou as declarações como um sinal de apoio tácito ao grupo contra "Bibi", como o primeiro-ministro é chamado por seus simpatizantes.
O partido acusa Rivlin, que foi membro do Likud quando era deputado, de extrapolar suas funções, que são apenas honorárias.
No bloco de oposição ao primeiro-ministro, o partido Yesh Atid, do centrista Yair Lapid, é o que tem mais cadeiras no Parlamento (17).
Mas formar uma coalizão anti-Netanyahu exige uma aliança bastante improvável entre Yair Lapid, Gideon Saar, ex-ministro conservador de Netanyahu, Naftali Bennett, líder da direita radical e ex-aliado do primeiro-ministro, e outros partidos do centro e da esquerda.
E, para compor um governo, os dois lados precisam do apoio do partido islamita Raam, de Mansur Abbas, que foi a grande surpresa eleitoral ao conquistar quadro cadeiras na Knesset. Ele se declara aberto a negociar com as duas partes.
O partido Sionismo Religioso advertiu que não integrará um governo ao lado do Raam.
Se nenhum lado conseguir formar uma coalizão, o país pode ser obrigado a convocar novas eleições, o que prolongaria a crise.
O julgamento de Netanyahu não ameaça suas aspirações a curto prazo. Ele seria obrigado a renunciar apenas em caso de uma condenação confirmada e depois de esgotar todos os recursos, o que poderia levar anos.
O processo entra, porém, em uma fase mais intensa nesta segunda-feira com a apresentação de provas.