Morre Hugo Chávez, o líder que mudou a história da Venezuela
Presidente venezuelano lutava contra um câncer na região pélvica desde meados de 2011
Internacional|Do R7
O presidente venezuelano Hugo Chávez, de 58 anos, que lutava contra uma severa infecção respiratória após ter passado por uma delicada quarta cirurgia contra um câncer, não resistiu e morreu nesta terça-feira (5) em Caracas às 16h25 (18h55 em Brasília). A informação foi oficializada pelo vice-presidente, Nicolás Maduro, em pronunciamento na TV.
A morte do polêmico e midiático líder lança uma nuvem de incertezas na política do país, já que Chávez não chegou a ser empossado para seu quarto mandato presidencial, que começou em janeiro deste ano. O país deverá convocar novas eleições em um mês.
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Chávez esteve à frente do governo venezuelano por quase 14 anos, período em que reduziu as desigualdades sociais no país, com uma forte política assistencialista, baseada nas maiores reservas de petróleo do mundo.
Por outro lado, deixa um país com violência e inflação em alta, além de uma sociedade radicalmente dividida entre militantes apaixonados e opositores enfurecidos.
Hugo Rafael Chávez Frías nasceu em 28 de julho de 1954, no Estado interiorano de Barinas. O jovem ativista entrou para a carreira militar em 1971 e, em 1975, formou-se na Academia Militar da Venezuela como subtenente, especialista em comunicações, além de ter estudado ciências políticas na Universidade Simón Bolívar.
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Em 1982, ele criou o Exército Bolivariano 200, que, em 1989, passou a se chamar MBR-200. Em 1990, chegou à patente de tenente-coronel.
O MBR-200 esteve à frente da tentativa de golpe de Estado realizada em 4 de fevereiro de 1992, na chamada Operação Zamora. O golpe não foi bem-sucedido e Chávez foi preso.
Mais de uma vez Chávez declarou em público que o período na cadeia foi fundamental para a formação do chamado movimento bolivariano.
Em 1994, o presidente da Venezuela à época, Rafael Caldera, concedeu perdão a Chávez, mas proibiu este e outros participantes do MBR-200 de voltarem ao Exército. Era uma tentativa de impedir que o grupo organizasse outro golpe.
Presidência
Chávez se engajou na vida política e saiu pela América Latina para angariar apoio político. Em 1997 fundou o partido Movimento 5ª República, a fim de disputar a eleição presidencial em 1998.
Ele assumiu o poder em 2 de fevereiro de 1999 para seu primeiro mandato, encerrando o chamado Pacto de Punto Fijo, em que dois partidos venezuelanos dominaram a cena local por cerca de 40 anos.
Logo ao assumir, Chávez levou ao Congresso a proposta de um referendo para uma reforma constitucional. Entre as principais alterações estavam o aumento do mandato de presidente de cinco para seis anos; a limitação a dois mandatos; e a mudança do sistema legislativo, de duas casas (Senado e Câmara dos Deputados) para uma única (a Assembleia Nacional). A nova carta magna destaca ainda mais poderes ao Estado, além de direitos a povos indígenas.
A elite do país — com destaque para empresários e acadêmicos — sentiu que o novo governo, a partir da nova Constituição, tirava dela o poder que exercia. Chávez foi acusado de tentar concentrar o poder. Apesar disso, Chávez é eleito novamente em 2000 para seu primeiro mandato, segundo o novo texto constitucional, com mandato de seis anos e apenas uma reeleição.
Reeleição
Nesse governo, as forças de oposição ganharam expressão, com o empresário Pedro Carmona à frente.
O governo começa a enfrentar uma série de greves, em especial do setor petrolífero, nas mãos de empresas privadas.
Em 2002, o governo de Chávez sofre um golpe: entre 11 e 13 de abril, o líder foi tirado do poder e levado para uma ilha militar.
Enquanto Carmona assume a Presidência, uma revolta de militares conduz Chávez novamente ao poder no dia 14, restabelecendo a ordem democrática no país.
O golpe de 2002 foi um marco na história política da Venezuela, com enfrentamentos e mortes nas ruas, acirrando de vez os conflitos entre chavistas e opositores.
Chávez então passa a enfrentar greves pelo país, em um processo que culminou com um referendo em agosto de 2004 para definir a permanência, ou não, do presidente.
A vitória no referendo confere ainda mais poder ao presidente, que fica ainda mais popular e, em 2006, fatura a reeleição para mais um mandato de seis anos.
Chávez toma posse em janeiro de 2007, contando com uma Assembleia sem oposição, já que, um ano antes, os opositores haviam abandonado as eleições legislativas acusando o processo de fraudulento — o que não ficou provado.
Com um congresso sem resistência, Chávez consegue aprovar grande parte de seus projetos, além de controversas leis, como a Habilitante, que outorgava ao presidente o poder de governar por decreto.
Sua tentativa de mudar a Constituição da Venezuela no final de 2007 e permitir a reeleição indefinida não é aprovada em referendo popular. Mas o assunto voltou à pauta em 2008, sendo aprovado em novo referendo.
Política externa
Nos últimos anos, Chávez expulsou da Venezuela o embaixador de Israel, rompeu relações com os Estados Unidos, se alinhou ao presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, e se aproximou da Coreia de Norte e da China. O presidente americano George W. Bush (2001-2008) incluiu o venezuelano no chamado "Eixo do Mal" — nome dado ao grupo de países que traziam risco à política externa norte-americana.
Na América Latina, Chávez se tornou uma voz forte. Rafael Correa, no Equador, Evo Morales, na Bolívia, Cristina Kirchner, na Argentina, Daniel Ortega, na Nicarágua, além do ex-presidente paraguaio Fernando Lugo e dos irmãos Castro em Cuba, se alinharam a suas posições ideológicas.
Durante o seu governo, a Venezuela passou por uma crise diplomática com a Colômbia por causa das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e os dois países quase entraram em guerra. Os militantes colombianos estariam se abrigando na Venezuela sob a tutela do governo, ato condenado pelos colombianos.
Hugo Chávez e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tiveram boas relações durante seus mandatos. Alguns meses depois de Dilma Rousseff tomar posse, Chávez veio ao Brasil e disse que queria ter com a presidente a mesma amizade que teve com Lula.
Doença
Depois de uma viagem ao Brasil em junho de 2011, Chávez foi ao Equador e a Cuba para uma visita oficial. No entanto, no dia 11 de junho daquele ano, o então ministro das Relações Exteriores e hoje vice-presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou que o líder venezuelano havia sido operado na véspera com urgência por causa de um abscesso pélvico, um acúmulo de secreção na parte inferior do abdômen.
Maduro leu um comunicado que foi transmitido pela emissora estatal VTV, no qual explicou que o presidente estava se recuperando.
A intervenção cirúrgica foi realizada em Havana e obteve "resultados satisfatórios para a saúde do comandante", que já se encontrava em processo de recuperação "em companhia de seus familiares, equipe médica e parte da equipe de governo".
O governo venezuelano confirmou que a doença era um cãncer, mas nunca detalhou a exata localização e gravidade do tumor.
Com isso, vários boatos surgiram desde que o líder começou o tratamento contra a doença.
Desde então, Chávez viajou diversas vezes a Cuba para realizar o tratamento. Em dezembro de 2011, o líder declarou que estava livre do câncer.
No entanto, em fevereiro de 2012, Chávez retorna a Cuba para duas novas cirurgias para retirada de lesões na mesma região do tumor.
No meio do ano passado e em meio ao processo eleitoral, o presidente venezuelano mais uma vez anuncia estar livre do câncer.
Mostrando o vigor habitual, Chávez sobe ao palanques para enfrentar o mais duro opositor até então, Henrique Capriles Radonski, governador do Estado de Miranda, o mais populoso do país.
Chávez vence as eleições em 7 de outubro para seu terceiro mandato de seis.
Mas, em 10 de dezembro, Chávez anuncia que terá de retornar a Cuba para uma quarta cirurgia na região pélvica. A gravidade é tamanha que o presidente indica o vice Nicolás Maduro como o sucessor de seu movimento bolivariano.
Após a complicada cirurgia, Chávez passou mais de dois meses se recuperando em Havana, e, em 18 de fevereiro, foi transferido para a Venezuela. O presidente não resistiu a uma nova e severa infecção e morreu em um hospital em Caracas.