Pela primeira vez no Haiti, pelo menos 19 mil pessoas atingiram o nível mais alto de insegurança alimentar, o que significa comer apenas uma vez por dia alimentos de má qualidade –– alertou a ONU (Organização das Nações Unidas) nesta sexta-feira (14). "O Haiti está enfrentando uma catástrofe humanitária (...) e o relatório publicado hoje mostra que a gravidade e a extensão da insegurança alimentar no Haiti estão piorando", disse o diretor do PMA (Programa Mundial de Alimentos) para o país, Jean-Martin Bauer, em videoconferência. O relatório a que se refere, publicado nesta sexta-feira, revela que 4,7 milhões de haitianos, cerca de metade da população, sofrem de níveis de insegurança alimentar aguda. Desse total, 19,2 mil estão na fase de "catástrofe" (fase 5 da classificação de segurança alimentar, o nível mais alto), e 1,8 milhão, na fase de "urgência" (fase 4). Todas as famílias classificadas na fase 5 vivem em Cité Soleil, o bairro mais pobre e violento da capital, e representam 0,3% da população desta localidade situada na periferia de Porto Príncipe, segundo a análise do PMA. É "a primeira vez no Haiti" que há pessoas que estão na fase cinco da classificação, ressaltou Bauer, insistindo em que essas pessoas não têm os nutrientes essenciais necessários "para sobreviver". Para a ONU falar em "fome", é preciso que grandes setores da população sejam afetados. O PMA prevê que a situação alimentar piore a cada ano nesse país, um dos mais pobres e vulneráveis a desastres naturais na região. O Haiti, onde a cólera ressurgiu quase três anos após o fim da última epidemia, também é um país atormentado por anos de instabilidade política e pela ação de gangues criminosas. Além disso, sofre com a alta inflação, que desencadeou distúrbios, saques e manifestações contra o primeiro-ministro Ariel Henry depois que ele anunciou um aumento no preço da gasolina. Em nota, o PMA destaca que a insegurança e a falta de combustível dificultam as operações humanitárias e que a ONU está comprometida com "a importância de respeitar os princípios humanitários de humanidade, neutralidade, imparcialidade e independência para que a ajuda chegue aos haitianos". Em 2022, o PMA entregou auxílio emergencial a mais de 100 mil pessoas na região metropolitana de Porto Príncipe. "Temos que ajudar os haitianos a produzir alimentos de melhor qualidade e mais nutritivos para preservar seus meios de subsistência e seu futuro", disse o representante local da ONU para Agricultura e Alimentação, José Luis Fernández Filgueiras, citado no comunicado.