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Mãe espera 22 anos para conseguir certidão de óbito de criança morta em sequestro

A morte de Miriam Brandão, em 1992, chocou o País; documento saiu no fim de dezembro

Minas Gerais|Márcia Costanti, do R7

Menina foi raptada em casa enquanto ainda dormia
Menina foi raptada em casa enquanto ainda dormia
Para mãe de Miriam, conquista representa "fim de um ciclo"
Para mãe de Miriam, conquista representa "fim de um ciclo"

—É um misto de alívio e tristeza pela confirmação de um fato que eu jamais queria ter vivido. E indignação porque eu tive que me submeter à ineficiência dos órgãos competentes.

O desabafo é da socióloga Jocélia Brandão, mãe da menina Miriam Brandão, sequestrada e assassinada em Belo Horizonte com apenas cinco anos, em dezembro de 1992. O crime chocou o País, mas, foi somente 22 anos depois, no dia 30 de dezembro de 2014, que ela pôde receber a certidão de óbito da filha.

Miriam foi raptada enquanto ainda dormia pelos irmãos William Gontijo Ferreira e Wellington Gontijo Ferreira. Eles receberam ajuda de Rosemeire Pinheiro da Silva que, na época, trabalhava na farmácia da mãe da criança. O tormento da família durou cerca de duas semanas. Foi somente no dia 7 de janeiro que a notícia veio à tona: a menina foi morta por asfixia, teve o corpo esquartejado e carbonizado.

A mãe de Miriam começou o processo para conseguir a certidão de óbito ainda na Vara Criminal, mas foi encaminhada para outras esferas do Poder Judiciário e a espera se arrastou. No início do ano passado, o juiz da Vara de Sucessões de Belo Horizonte determinou a expedição do documento, que só foi entregue ao advogado da família depois de várias tentativas.


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Ela conta que teve ainda mais esperanças quando a mãe da modelo Eliza Samudio, executada em 2010, recebeu o benefício judicial, em 2013. Embora afirme que a conquista não muda todo o sofrimento causado pela tragédia, Jocélia considera que “fecha um ciclo” em sua vida. Atualmente, os acusados já cumpriram condenação e estão soltos.

—É só um papel, mas todo ser humano tem direito a essa certidão. Isso não vai mudar a situação, mas como mãe eu fico feliz porque ela foi respeitada em seu direito de cidadã, fecha esse ciclo de crueldade.


O presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-MG (Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais), William Santos, critica a demora do poder Judiciário. Ele explica que, assim como no caso de Eliza, o juiz da Vara Criminal tinha autonomia para agilizar o processo e providenciar o documento.

—A nossa legislação determina que em casos de desaparecimento de pessoas o juiz pode determinar a expedição da certidão. Temos precedentes em que essa espera demorou cinco, seis anos, mas isso não é normal. Mudou de competência de juiz para juiz e só fez aumentar a angústia dessa família.

Instituto Miriam Brandão

Jocélia está envolvida agora com os planos de oficialização do instituto que carrega o nome da filha. O objetivo é oferecer suporte jurídico e psicológico às vítimas de violência, especialmente crianças e idosos.

— Eu que passei por isso sei o quanto você fica abalado e o Estado não está nem aí. Sou beneficiada porque vi as pessoas serem julgadas e condenadas, mas têm famílias e mães que não sabem que foram os algozes dos filhos ou de seus parentes queridos.

A reportagem do R7 entrou em contato com a assessoria de imprensa do Fórum Lafayette para falar sobre o caso, mas não obteve retorno até o fim desta publicação.

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