Telefonema sugere articulação para demissão da ex-chefe da polícia
Conversa foi entre o atual chefe da corporação e o ex-assessor de um deputado; Andrea Vacchiano comandou a Polícia Civil de MG por 9 meses
Minas Gerais|Shirley Barroso, da RecordTV Minas, com Pablo Nascimento, do R7
Um grampo telefônico gravado com autorização da Justiça mostra os bastidores da trama que pode ter culminado na queda do cargo da ex-chefe da Polícia Civil de Minas Gerais, Andrea Vacchiano.O jornalismo da RecordTV Minas teve acesso, com exclusividade, às gravações. Elas estão entre as prova da operação que investiga o vereador afastado de Belo Horizonte Wellington Magalhães (PSDC).
Na conversa, o atual chefe de corporação, delegado João Otacílio Neto, foi flagrado falando sobre a possível saída da colega em conversa com o ex-assessor do deputado estadual Durval Ângelo (PT), líder do governo na Assembleia.
Ligado ao vereador Wellington Magalhães, o delegado João Otacílio Neto, chefe da Polícia Civil, pede para Elcio Sá Bernardes, ex-assessor do deputado Durval Ângelo, para agendar uma reunião com o parlamentar na ALMG (Assembleia Legislativa de Minas Gerais). A conversa foi gravada em julho de 2016. No mês seguinte, a delegada Andréia Vacchiano foi substituída por João Otacílio Neto.
“Deixa eu te falar uma coisa. Vê se você consegue pra gente, com o Durval, a gente fazer uma reunião, e eu vou pegar todos os nossos companheiros, os delegados assim, que estão em cargo de confiança da polícia. To reunindo aqui agora. Tem que fazer uma reunião com o Durval aí na Assembleia, você consegue marcar isso?” A resposta foi “Fácil”.
Em outro trecho da conversa, a reunião é marcada. Logo em seguida, o delegado João Otacílio cita nominalmente a delegada Andréia Vacchiano e cita um pedido para o então secretário de Governo, Odair Cunha (PT) que deixou o cargo para disputar à reeleição para deputado federal.
“Assim é melhor! Eu vou trazer todos os companheiros. É até bom que a gente faz uma… Trazer a turma toda lá. Sabe porque, Élcio”? Aí tem muita coisa importante pra gente fazer naquela fraude ali. Nós estamos tomando chapéu. O pessoal “tá” segurando. Eu falei pro Odair [Odair Cunha]: Odair, não pode. Essas fraudes têm que ficar na mão da gente! Assim , nós temos companheiros bons pra ficar lá e tal e fica essa p*** aí, esse trem na mão da Andréia… Na mão desse Alexandre não está funcionando," diz o delegado.
Comissão de Cassação
Nesta terça-feira (19), Neto foi convocado para prestar depoimento na comissão especial da Câmara de Belo Horizonte que analisa a cassação do mandato de Wellington Magalhães, mas ele não compareceu. Alegou que tinha outro compromisso.
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O delegado chegou a mandar um representante, que foi rejeitado pelos vereadores. O objetivo da convocação do chefe da Polícia Civil era justamente apurar a relação política de João Otacílio com Wellington Magalhães. Além de interrogar o delegado, os vereadores solicitaram à Justiça cópia das conversas telefônicas entre os dois.
Também convocada pela comissão da Câmara, a delegada Andréia Vacchiano disse que saiu do cargo após ser comunicada pelo secretário de Segurança. Segundo ela, o motivo da exoneração não foi informado.
A ex-chefe da Polícia Civil, em entrevista, confirmou que participou de uma reunião na qual foi pedido que ela atendesse as demandas do vereador Wellington Magalhães. Além de Wellington e ela, estava presente o então secretário de governo Odair Cunha. Ela disse que foi coagida.
“Transcorreu dessa forma, falando que eu deveria atender os pedidos. Foi perguntado porque os pedidos feitos pelo vereador não eram atendidos. Eu expliquei que eu não recebia só os pedidos do vereador. Eu recebia pedidos de vários políticos e várias pessoas. E ao receber esses pedidos, a minha a análise e da minha equipe sempre foi técnica. É de conhecimento de todos aqui a falta de recursos humanos dentro da Polícia Civil, da força de segurança. Eu não podia ao bel prazer transferir policiais para atender pedidos políticos. Então uma análise técnica era feita. Se realmente não havia necessidade, eu não fazia a transferência”.
O presidente da comissão, vereador Dr. Nilton, disse que os trabalhos vão continunar, independente da ausência do delegado João Otacílio.
— Foi feita uma denúncia na Câmara de quebra de decoro parlamentar por parte de vereador Wellington Magalhães que na ação dele como presidente e vereador ele feriu a dignidade da Câmara. Estamos apurando apenas a quebra de decoro. Não estamos apurando nada da área criminal. Isso quem faz é a Justiça.
O advogado de Wellington, Sérgio Santos Rodriques, afirma que não há motivo para cassação do mandato.
— O denunciante coloca várias vezes que ainda que ele seja absolvido na Justiça comum, já houve o prejuízo para a Câmara. Nós não concordamos de forma alguma. Bate muito nessa questão de que houve uma prisão preventiva e isso já denigre a imagem da Câmara.
Na decisão que afastou Wellington do cargo, o juiz do caso os indícios levantados pelo Ministério Público sobre a influência do parlamentar com autoridades. No despacho, o magistrado destacou que o vereador tem relações com membros da Polícia Civil, tanto que recebeu informações privilegiadas sobre operações contra ele. O juiz cita a reunião na qual ficou claro que Andréia deveria ajudar o vereador.
Quando era presidente da Câmara, em 2016, Wellington Magalhães homenageou o delegado João Otacílio com um diploma de honra ao mérito em solenidade oficial.
Contato institucional
Em nota, o chefe da Polícia Civil de Minas Gerais, delegado João Otacílio Neto, afirmou que todos os contatos com representantes do poder Legislativo são exclusivamente institucionais para tratar de questões que dizem respeito à segurança pública.
O deputado Durval Ângelo disse que nunca se reuniu com Neto para tratar da exoneração da delegada Andrea vacchiano. O deputado garantiu ainda que possui relação institucional com o chefe da polícia, como com todos os secretários e ocupantes de cargos de chefia do Estado, uma vez que é líder do governo. O ex-assessor de Ângelo foi procurado via gabinete, mas não se manifestou.
O deputado Odair Cunha declarou que a Secretaria de Governo tem como uma das competências a coordenação da relação política do Executivo Estadual com outros atores políticos do Estado e que cabe, portanto, receber as demandas e encaminhá-las junto aos demais órgãos do poder Executivo. Já sobre a exoneração da delegada, ele disse que é uma análise técnica e, assim sendo, coube à chefia de polícia essa análise, nos termos da lei e que, obviamente, a titular da época sabe disso.
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