Cidades-esponja: como adaptar São Paulo ao modelo chinês que salva vidas e ameniza as ilhas de calor
Pesquisador brasileiro defende a restauração das florestas e a colocação de telhados verdes para evitar enchentes

O nome não poderia ser mais sugestivo, uma esponja urbana para absorver o excesso de chuva e evitar transtornos causados pelas frequentes enchentes e alagamentos. Um modelo sustentável que conta ainda com grandes áreas verdes capazes de sequestrar gases poluentes e, de quebra, amenizar as ondas de calor que assolam e matam pessoas pelo mundo todo.
A ideia surge como aqueles desenhos encantadores que se assemelham a uma verdadeira obra de arte, quando de fato são colocados em prática. Mas obviamente que transformar uma cidade comum ou uma selva de pedra como São Paulo, por exemplo, em algo tão moderno e inteligente esbarra na difícil e precária realidade de cidades não planejadas, onde a imensidão de concreto ainda rouba importantes espaços da paisagem.
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O objetivo das mudanças arquitetônicas e urbanísticas que fazem uma cidade entrar para o conceito sustentável de “esponja” é encontrar soluções que ajudem a absorver as águas de chuva — seja em “áreas livres ou construídas”, segundo o artigo publicado pelo Observatório de Inovação para Cidades Sustentáveis.
Difícil, mas não impossível. A China é um dos primeiros países a implementar, em larga escala, a criação de cidades-esponja em seu território. Foram mais de 16 cidades desde 2012, quando começaram os projetos. E agora está remodelando outras 30 cidades para que atendam ao conceito de gestão sustentável das águas pluviais, sendo possível absorver, armazenar e limpar a água da chuva para ser por fim reutilizada.
Considerando que cerca de 4,6 bilhões de pessoas no mundo vivem nas cidades e que a urgência climática vem gerando consequências cada vez mais severas e desastrosas, soluções como essa, baseadas na própria natureza, podem, e muito, reduzir as chances de que tragédias como a do Rio Grande do Sul voltem a se repetir.
Nessa semana moradores de várias cidades brasileiras experimentaram os piores efeitos do clima em cidades que ainda não podem ser consideradas esponjas urbanas. Chuvas volumosas com inundações e casas ilhadas. Temperaturas altas com sensação térmica ultrapassando os 50 graus no sul e no sudeste. Sufocamento em meio as chamadas ilhas de calor urbano que aumentam a temperatura em até 10 graus por causa da extensa superfície de concreto e asfalto.
O climatologista Carlos Nobre, professor da USP, referência mundial em estudos sobre mudanças climáticas e aquecimento global, explica como ainda podemos contornar a falta de planejamento e a gestão desatualizada das águas pluviais a tempo de mudar cenários e alarmantes projeções. Ele cita a floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, como o lugar do Brasil que mais se aproxima do conceito de esponja urbana.

















