Número 2 da Abin pede para sair e relatório da PF sobre uso ilegal da agência pode derrubar número 1
Diretor-adjunto alega motivos pessoais para sair de agência. Para pessoas próximas, ele resolveu se exonerar antes de ver a “alta cúpula cair com a investigação”

O professor universitário Marco Aurélio Chaves Cepik ficou pouco mais de um ano no cargo de diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência. Antes dele, o policial Federal Alessandro Moretti, que deixou a diretoria quando burburinhos de que a alta cúpula estaria atrapalhando as investigações da Polícia Federal sobre o uso da ferramenta de georreferenciamento First Mile pela gestão do ex-diretor Geral da Abin, Alexandre Ramagem.
Tanto Alessandro Moretti quanto Marco Aurélio Cepik foram indicados ao cargo de número 2 da agência pelo atual diretor Geral da instituição, Luiz Fernando Corrêa. Cepik, no entanto, não é investigado pela PF.
Ao blog, investigadores da PF afirmam que há grande possibilidade de que a PF peça o indiciamento de Corrêa no inquérito, que está para ser finalizado. Luiz Fernando também é policial federal e alvo da investigação por supostamente tentar atrapalhar as investigações sobre o uso do software.
Indicação pessoal
A saída do atual diretor-geral já é dada como certa por muitas fontes ouvidas na PF e na Abin, mas o desgaste envolve mais que a própria agência. Luiz Fernando já foi diretor-geral da Polícia Federal entre 2007 e 2011, sob a presidência de Lula.
O policial é uma indicação pessoal do presidente e hoje, com a subordinação da agência à Casa Civil, o ministro Rui Costa também poderá ser cobrado por manter no cargo Luiz Fernando, mesmo após avisos da PF de que ele estaria tentando abafar informações atrapalhando a investigação.
No final de 2024, a própria PF pediu compartilhamento das informações da investigação com a corregedoria da Abin, para que o órgão pudesse tomar providências internas. O STF e a PGR, no entanto, não concordaram com o compartilhamento.
É em um relatório da ex-corregedora da Abin, oficial de carreira da inteligência, que o inquérito da PF baseia a acusação de interferência de Corrêa e outros subordinados. Ela aponta desmandos da gestão do atual diretor-geral e possíveis atuações que podem indicar interferência por parte da agência para omitir informações sobre o uso do First Mile.
Sob anonimato, uma fonte da investigação chegou a contar que a ex-corregedora recebeu ligações diretas de Corrêa a assediando para que ela não seguisse com o relatório, alegando que “prejudicaria” colegas da agência.
Em setembro, no final do mandato de dois anos, a corregedora foi trocada por um delegado federal da confiança do ministro Alexandre de Moraes.
Investigação arrastada
A investigação sobre o uso ilegal da agência para espionagem de inimigos políticos do ex-Presidente Jair Bolsonaro ficou conhecida como “inquérito da Abin Paralela” e mira o uso desta ferramenta. Arrastada há dois anos, a investigação promete agora chegar ao fim com indiciamento de vários policiais federais que atuavam na Agência e pelo menos 10 oficiais de inteligência da própria Abin, que, segundo fontes acreditam, teriam sido “corrompidos” por ordens ilegais dos que chefiavam o órgão no período.
Durante uma busca e apreensão na casa do ex-número 3 da agência, Paulo Maurício Fortunato, no final de 2023, a PF encontrou US$ 171 mil dólares em espécie. Ao tentar se explicar, o ex-gestor alegou que juntou este dinheiro durante o tempo de serviço que cumpriu como adido de Inteligência na Embaixada do Brasil na Argentina no período de 2010 a 2011.
Para a PF a informação não bate. As cédulas encontradas na casa dele são de 2020 e 2021. Paulo Maurício Fortunato também foi um dos nomes defendidos pelo atual chefe da Abin.
O relatório da PF está em fase final e deve trazer, entre outras coisas, referência ao uso do software Fisrt Mile para além de apenas a localização de pessoas. O software teria um malware, ferramenta capaz de tornar aparelhos eletrônicos vulneráveis à invasão e roubo de dados.