RJ: Tráfico ordenou execução de envolvidos em morte de crianças
Polícia realizou operação na comunidade Castelar, em Belford Roxo, onde Lucas, Alexandre e Fernando foram mortos
Rio de Janeiro|Victor Tozo, do R7*, com Record TV Rio
A investigação das mortes dos três meninos que desapareceram em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, no ano passado, revelou que a alta cúpula do tráfico de drogas da comunidade Castelar ordenou a execução de todos os envolvidos na sessão de tortura contra as crianças, como queima de arquivo.
A declaração foi dada pelo delegado Uriel Alcântara, da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense, nesta quinta-feira (9), após a realização de uma operação da Polícia Civil na comunidade. Segundo Alcântara, o inquérito do caso está prestes a ser concluído.
Ao longo de 347 dias, a investigação apontou que Lucas Matheus, de 9 anos, Alexandre Silva, de 11, e Fernando Henrique, 12, foram assassinados após furtarem um passarinho que pertenceria a um tio do traficante Stala.
O criminoso teria pedido autorização a dois gerentes do tráfico do Castelar, conhecidos como Doca e Piranha, para dar um “corretivo” nas crianças. Durante uma sessão de tortura, um dos meninos não teria resistido, o que fez os traficantes executarem os outros dois e despejaram os corpos em um rio, na divisa entre Belford Roxo e Duque de Caxias.
Ainda de acordo com Alcântara, as mortes dos meninos passaram a incomodar outras gerências do tráfico da comunidade, especialmente após a saída da prisão do líder conhecido como Abelha, em agosto.
Abelha teria comandado, então, a morte de todos os envolvidos no assassinato dos meninos. Piranha e Tia Paula foram executados. Outros três criminosos desapareceram. A polícia, que havia indiciado os cinco por triplo homicídio e ocultação de cadáver, também investiga os sumiços e as mortes.
Áudios interceptados durante a apuração do caso revelaram que um traficante conhecido como VT ou Vitinho, preso no mês passado, foi o responsável por dizer ao grupo que matasse as outras crianças após a primeira morte. Na conversa, um criminoso diz a uma mulher que VT se entregou à polícia para não ser morto pelo tribunal do tráfico.
"Otário [VT] se entregou porque viu que a gente ia matar ele”, falou o traficante. Em outra conversa, a mulher disse para outra pessoa: “VT se entregou para não morrer na mão do tribunal do tráfico. Stala torturou muito as crianças e ele mandou matar”.
Pouco depois do desaparecimento dos meninos, um homem foi torturado e levado à DHBF e apontado como responsável pelo sumiço. No entanto, segundo a polícia, tudo não passou de uma armação do tráfico, que ordenou o homem a assumir a culpa no caso.
Alcântara disse serem “legítimas” as críticas da população à demora na entrega de respostas sobre o caso, mas afirmou que a investigação foi dificultada por diversos fatores, como a dominação do tráfico na comunidade e o medo das testemunhas de falarem sobre o caso.
A operação realizada nesta manhã cumpriu 31 dos 56 mandados de prisão expedidos pela Justiça. Destes, 15 criminosos já estavam presos e 16 foram detidos hoje. Além disso, dois foram capturados em flagrante.
A ação contou com 250 policiais e interrompeu as aulas em uma escola do município. Não houve troca de tiros, segundo a polícia. Ao todo, 71 pessoas foram ouvidas na investigação e, segundo Alcântara, alguns depoimentos ainda são aguardados para a conclusão do inquérito.
Relembre o caso
Lucas, Alexandre e Fernando desapareceram em 27 de dezembro de 2020, após saírem de casa, na comunidade do Castelar. Eles iriam em direção à feira de Areia Branca e foram vistos pela última vez em imagens de câmeras de segurança divulgadas pelo Ministério Público.
No dia 29 de julho, mais de oito meses após o sumiço, um homem entregou o irmão à polícia, dizendo que ele teria participado da ocultação dos corpos dos meninos, que teriam sido mortos a mando de um traficante.
Depois disso, a polícia iniciou buscas pelos corpos das crianças e um ossada chegou a ser encontrada na região, mas um laudo pericial revelou que se tratavam de ossos de animais. Os meninos nunca foram encontrados.
*Estagiário do R7, sob supervisão de Bruna Oliveira