Método usado pela China para contabilizar mortos pela Covid reduz artificialmente os números
Em meio ao aumento do número de casos, o governo considera apenas as pessoas que tiveram insuficiência respiratória como causa direta da morte
Saúde|Do R7
A China assegurou nesta quarta-feira (21) que não registrou uma única morte por Covid-19 na terça-feira (20), depois de alterar os critérios para definir os óbitos provocados pelo coronavírus, apesar de um surto de infecções no país.
Alguns hospitais estão cheios, as prateleiras das farmácias, vazias, e os crematórios, lotados, depois que o governo decidiu acabar, em novembro, com a política de confinamentos, quarentenas e testes em larga escala para conter o coronavírus.
A China seguia desde 2020 uma política de tolerância zero com a Covid, com restrições severas. A estratégia possibilitou a proteção das pessoas com comorbidades e daquelas sem esquema de vacinação completo.
Mas o governo acabou, sem aviso prévio, com a maioria das medidas no início de dezembro, em um momento de crescente irritação da população e de impacto considerável na economia.
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O número de casos disparou desde então, o que provoca o temor de uma taxa de mortalidade elevada entre os idosos, em particular os mais vulneráveis.
O governo chinês anunciou na terça-feira que somente as pessoas que faleceram por insuficiência respiratória causada diretamente pelo coronavírus serão contabilizadas nas estatísticas de morte por Covid-19. De acordo com as autoridades, essa metodologia "científica" apresenta uma imagem muito mais limitada da situação.
"Depois de ser infectado com a variante Ômicron, as principais causas de morte são as doenças subjacentes. Apenas uma pequena parte morre diretamente de insuficiência respiratória causada pela Covid", afirmou Wang Guiqiang, do Primeiro Hospital da Universidade de Pequim, em entrevista coletiva da CNS (Comissão Nacional de Saúde).
A mudança de metodologia significa que muitos óbitos não serão registrados como consequência da Covid.
No entanto, "a OMS está muito preocupada com a evolução da situação na China [...]. Para realizar uma avaliação completa dos riscos da situação, a OMS precisa de informações mais detalhadas sobre a gravidade da doença, as internações hospitalares e as necessidades das Unidades de Terapia Intensiva (UTI)", declarou nesta quarta-feira o presidente da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em sua coletiva de imprensa semanal.
Números e política
A variante Ômicron não ataca tanto os pulmões como outras cepas da Covid-19, afirmou o especialista em saúde Yanzhong Huang, do Conselho de Relações Exteriores, um centro de pesquisas com sede nos Estados Unidos.
"Esta nova definição é uma inversão da norma internacional vigente... que contabilizava como morte por Covid qualquer pessoa que morresse com Covid", disse Huang. "É difícil dizer que não tem motivação política", acrescentou.
Várias cidades permitem agora que os moradores trabalhem mesmo com sintomas de Covid-19. Há algumas semanas, essas pessoas teriam sido enviadas para centros de quarentena em nome da política de "Covid zero".
Ao mesmo tempo, funcionários de crematórios de todo o país afirmaram à AFP que trabalham sem trégua para atender ao crescente número de mortes.
Pequim admitiu, na semana passada, que a dimensão do surto se tornou "impossível" de rastrear desde o fim dos testes obrigatórios.
Um especialista em saúde pública advertiu na terça-feira que a capital enfrentará um surto de contágios nas próximas duas semanas, que deve prosseguir até o fim de janeiro.
"Temos que agir rapidamente e preparar clínicas para febre e recursos para tratamentos graves e de emergência", disse Wang Guangfa, especialista em medicina respiratória do Primeiro Hospital da Universidade de Pequim, ao jornal estatal Global Times.
O país registrou 3.049 novos casos de Covid-19 nesta quarta-feira e nenhuma morte.
De acordo com os números oficiais, apenas sete pacientes morreram de Covid desde o fim das restrições. E, nesta quarta-feira, as autoridades revisaram o balanço para seis óbitos, sem apresentar uma explicação.
O governo dos Estados Unidos afirmou que está disposto a fornecer vacinas contra a Covid-19 à China.
"É do interesse da comunidade internacional que ajudemos coletivamente a China a manter [o surto] sob controle", declarou o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price.
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