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Tensão causada pela pandemia fez aumentar os casos de bruxismo

Ranger ou apertar os dentes com frequência pode provocar dores e perda da qualidade de vida; saúde mental é a causa frequente

Saúde|Hysa Conrado, do R7

Bruxismo pode resultar em desgaste ou quebra dos dentes, além de dores de cabeça e ouvido
Bruxismo pode resultar em desgaste ou quebra dos dentes, além de dores de cabeça e ouvido Bruxismo pode resultar em desgaste ou quebra dos dentes, além de dores de cabeça e ouvido

Ansiedade, estresse e má qualidade do sono, problemas experienciados de forma cotidiana durante a pandemia de Covid-19, podem ter feito aumentar os casos de bruxismo, um tipo de atividade muscular parafuncional – aquela que não tem função específica – caracterizado pelo ranger ou apertar dos dentes.

Um estudo realizado por UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e Faculdade de Odontologia da USP (Universidade de São Paulo) de Bauru analisou um grupo de 641 dentistas durante o período pandêmico e concluiu que 58% haviam apresentado sintomas de bruxismo durante a noite e 53% durante o dia. 

Acontece que o problema, que ocorre de forma inconsciente, começa de maneira imperceptível durante alguns momentos e pode se intensificar, causando dores de cabeça, nos ouvidos e na coluna, segundo explica o dentista Gustavo Issas, especialista em disfunção temporomandibular pela Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

“O bruxismo tem um fator emocional muito forte, como a ansiedade, a angústia e a preocupação, e nesta pandemia tudo isso aconteceu junto e muito rápido. Muitas vezes os pacientes que rangem os dentes não percebem, porque geralmente isso ocorre durante um curto espaço de tempo à noite, mas com a chegada da pandemia isso mudou, o que levou ao aumento da procura nos consultórios”, afirma Issas.

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O especialista destaca que, em casos mais graves, o bruxismo pode resultar na quebra ou no desgaste dos dentes, podendo quebrar até a raiz, o que leva à necessidade de um implante.

“Outra coisa que nós, dentistas, percebemos é que quando a pessoa range ou aperta os dentes faz marcas na língua e na bochecha. Então, quando o paciente é jovem, percebemos que os dentes não estão gastos, mas a bochecha e a língua estão muito marcadas”, afirma.

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A procura pelo dentista, no entanto, nem sempre é a primeira opção quando os sintomas de agravamento do bruxismo aparecem, o que dificulta o diagnóstico e o tratamento. Isso ocorre porque as dores, seja na cabeça, nos ouvidos, na coluna ou até mesmo nos maxilares, podem ser confundidas com outros problemas.

“Quando a pessoa vai ao dentista, o diagnóstico é feito de forma rápida. Só que muitas vezes a pessoa procura primeiro um clínico geral, um neurologista, um otorrino, por achar que o problema está em outro lugar. É difícil o paciente ter consciência de que precisa ir ao dentista por causa do bruxismo, então isso vai se agravando até que os dentes se desgastam ou quebram, e aí fica mais difícil resolver”, afirma o especialista.

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Como tratar o bruxismo

A principal maneira de impedir os danos causados pelo bruxismo, segundo Issas, é o uso da placa miorrelaxante, feita de acrílico e sob medida, que impede o atrito e provoca o relaxamento da musculatura da boca, diminuindo a tensão.

“Essa placa tem uma espessura adequada para cada paciente. Algumas pessoas usam uma placa de silicone ou de acetato, que não tem essas características, e aí não serve. É preciso ir ao dentista para receber a orientação correta”, afirma o especialista.

Ir ao dentista é importante para o diagnóstico rápido
Ir ao dentista é importante para o diagnóstico rápido Ir ao dentista é importante para o diagnóstico rápido

A placa é indicada não apenas quando os sintomas do bruxismo aparecem de forma intensa, mas também para pacientes que já passaram pelo problema em outras ocasiões ou que tenham realizado muitos tratamentos odontológicos, como coroa e implante.

“Um jovem que não tenha feito nenhuma restauração não precisa da placa, mas para os que já fizeram muitos tratamentos é recomendado o uso de uma placa de mordida para dormir mesmo que não tenham nenhum sinal de bruxismo. Porque, se uma pessoa ranger os dentes durante um segundo por noite, no fim de um ano isso poderá virar um problema”, explica Issas.

Como a saúde mental está relacionada ao bruxismo, o psiquiatra Luiz Scocca, membro da APA (Associação Americana de Psiquiatria), ressalta a importância de acompanhamento especializado nesse campo.

“É preciso vencer o estigma que a psiquiatria tem. É uma medicina muito segura. Não necessariamente a pessoa sai do consultório com um medicamento, às vezes ela sai com indicações de determinadas atividades, orientações em relação ao sono, porque transtornos do sono também podem levar ao bruxismo. A pessoa não vai sair do psiquiatra com um remédio de tarja preta”, afirma Scocca.

O psiquiatra explica que a ansiedade, por exemplo, é um transtorno do corpo e da mente, com sintomas físicos que podem simular várias doenças ou levar ao surgimento de outros problemas, como no caso do bruxismo.

“Um dos sintomas físicos da ansiedade é o aumento da tensão muscular, que pode ser em qualquer músculo, inclusive no masseter, que é a musculatura principal da boca e faz a mordida. O bruxismo ocorre no momento em que a tensão é maior, seja de noite, seja de dia, e o excesso de tensão muscular vai levar às dores e ao desgaste dos dentes”, afirma o especialista.

A recomendação de Scocca para diminuir a tensão e a ansiedade é a aposta em hábitos saudáveis, como a prática de atividade física e uma alimentação equilibrada, que também contribuem para a melhor qualidade do sono.

“Se não houver melhora do bruxismo com a mudança dos hábitos, aí vale a pena procurar um psiquiatra ou um psicólogo para fazer um tipo de terapia que seja eficaz contra o problema. A terapia cognitivo-comportamental é a mais indicada para esses casos”, diz Scocca.

Como evitar o bruxismo

A higiene do sono é uma estratégia recomendada pelo dentista Gustavo Issas para evitar os sintomas do bruxismo durante a noite e está relacionada à diminuição do uso de telas, como celular e televisão, antes de dormir. 

“Pelo menos 40 minutos antes de dormir, desligar o celular, tomar um banho relaxante, um chá, apagar as luzes da casa e deixar o ambiente mais escuro, porque com as luzes acesas o organismo entende que a pessoa está em plena atividade e não na hora de dormir. A atividade física também ajuda muito na prevenção do bruxismo, porque melhora o sono e o metabolismo”, afirma.

Uma pesquisa realizada por universidades brasileiras com 1.368 pessoas mostrou que, durante os primeiros meses de pandemia, 31% dos entrevistados vivenciaram a diminuição do tempo de sono, sendo que 46% afirmaram ter notado uma piora da qualidade do sono. Além disso, 64% passaram a ficar mais tempo em frente às telas e 43,3% reduziram o tempo dedicado à atividade física.

Issas ressalta que quando a pessoa aperta ou range os dentes ocorre uma mudança na postura que pode se refletir na coluna, provocando dores e torcicolo. Além disso, o uso excessivo do celular também impacta a postura e pode aumentar os sintomas do bruxismo.

“Tenho indicado muito a meus pacientes que façam quiropraxia, porque hoje ficamos muitas horas olhando o celular, e isso faz mal para a coluna. Então, às vezes, não conseguimos ajustar os dentes do paciente porque a coluna dele está desajustada em razão do uso do celular e da falta de atividade física”, afirma o dentista.

Além disso, também é importante evitar o consumo de carboidratos antes de dormir ou de refeições exageradas. “Para que o organismo relaxe e não se preocupe em fazer a digestão, porque essa energia que a pessoa ingeriu não será usada”, sugere Issas.

O psiquiatra Luiz Scocca também chama atenção para o consumo de bebidas alcoólicas durante a noite e para o hábito do tabagismo como fatores que prejudicam a qualidade do sono. “O tabagismo aumenta a ansiedade, ao contrário do que se imagina”, afirma.

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