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Uso de melatonina está na moda, mesmo sem eficácia comprovada

Suplementação do hormônio produzido pelo corpo é feita para tratar insônia e ajudar na perda de peso, mas excesso traz prejuízo 

Saúde|Carla Canteras, do R7

Melatonina é produzida pelo corpo à noite e no escuro; celular atrapalha essa produção
Melatonina é produzida pelo corpo à noite e no escuro; celular atrapalha essa produção Melatonina é produzida pelo corpo à noite e no escuro; celular atrapalha essa produção

De tempos em tempos surgem produtos apontados como milagrosos para resolver problemas como insônia, obesidade, ansiedade, diminuir o risco de câncer, e por aí vai. O uso de cápsulas de melatonina virou febre entre pessoas que querem dormir melhor e perder peso.

Os médicos, porém, não recomendam fazer a reposição de um hormônio produzido naturalmente pelo organismo. A glândula pineal, localizada na região central do cérebro, é responsável pela produção da melatonina, que tem a função de regular o relógio biológico das pessoas.

“Esse hormônio sinaliza aos órgãos que a noite chegou e que é preciso preparar o corpo para adormecer. A produção tem início por volta das 20h, quando começa a sensação de sono, mas os efeitos só são sentidos quando se modifica para entrar em jejum. Depois de a pessoa entrar no quarto e apagar as luzes, há uma redução da pressão arterial, da temperatura corpórea e do metabolismo para o corpo entrar no sono”, explica Ricardo Teixeira Rienzo, endocrinologista do Hospital Santa Catarina.

No dia 15 de outubro, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou o uso de 0,21 mg de melatonina por dia, como suplemento alimentar. A neurologista Dalva Poyares, pesquisadora do Instituto do Sono de São Paulo, observa que a dose aceita pela agência é pequena e não existem estudos que comprovem a eficácia do hormônio como medicamento.

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“O que a Anvisa aprovou é uma dose pequena, na verdade a dose pequena é uma dose fisiológica. A melatonina ainda não pode ser aprovada como medicamento porque faltam estudos. Hoje são usadas doses empíricas, sem indicação formal, que vão de 1 mg a 10 mg. Esse é um intervalo de doses muito grande”, afirma a médica.

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E completa: “Não consigo dizer 'Você está com dor, então pode tomar desde cinco gotas até 100 gotas de um analgésico'. Sabemos que a dosagem é por quilo de um adulto e de uma criança. Quando falamos de suplemento, não é algo empírico, é algo mensurável. Por exemplo, a pessoa faz exame da vitamina D e está abaixo do desejável, então o médico indica a suplementação”.

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Produção natural é aliada no emagrecimento

Não existem exames para medir o nível de melatonina no corpo, mas o médico Ricardo Rienzo afirma que é possível organizar a rotina para aumentar a produção do hormônio natural e obter os benefícios trazidos por ele.

“Uma noite bem dormida significa que a pessoa tem menos probabilidade de ter muita fome ao longo do dia e comer mais do que o necessário. A melatonina tem papel na síntese e ação da insulina das células, entre outros, atuando na regulação do metabolismo. Ela vai auxiliar no emagrecimento de maneira natural, pela produção do próprio corpo. A indicação é, por volta das 20h, diminuir as atividades físicas e preparar-se para dormir. Isso com certeza vai favorecer a perda de peso. Mas não é necessário tomar melatonina”, ressalta o médico.

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Melatonina não acaba com insônia

No caso da insônia, a pesquisadora explica que a única recomendação é para as pessoas que lidam com problemas de fuso horário, o chamado jet lag. “As pessoas usam para conseguir dormir, mas a única indicação é para quem tem distúrbio do sono por causa de jet lag. A pessoa vai se ajustar ao novo horário e tomar melatonina por poucos dias”, explica Dalva.

E acrescenta: “A melatonina não é indicada para insônia devido à baixa evidência de eficácia. A melatonina tem um efeito no ritmo biológico, então a pessoa pode se beneficiar conseguindo antecipar o horário de dormir. Mas uma dose elevada, que se estima ser acima de 3 mg, pode causar sonolência pela manhã e atrapalhar o dia da pessoa”.

O ideal para o tratamento da insônia, segundo os médicos, é descobrir as causas do problema para tratá-lo do jeito correto. "É importante descobrir a causa, que pode não ser o sono em si, às vezes é ansiedade, irritabilidade ou uma série de outros fatores. Os jovens começam cada vez mais cedo a combater a insônia crescente, justamente porque têm uma exposição excessiva aos equipamentos eletrônicos, também à noite. Na presença da luz azul a melatonina não será produzida. Então, posso tomar a melatonina que eu quiser, mas se eu estiver na frente de um celular isso não vai servir para nada", salienta Rienzo. 

Quais os efeitos do uso excessivo de melatonina?

Além da sonolência, o excesso do uso do hormônio tem contraindicações, como inchaço de pele, boca e língua; há casos de perda de consciência, depressão, irritabilidade, nervosismo; em alguns casos, há até aumento da pressão arterial.

Outro fator apontado por especialistas é que o uso da melatonina pode afetar a produção natural do corpo. “Existe o que chamamos de feedback negativo, que todas as glândulas que produzem hormônio têm. Quanto mais hormônio eu tomo, mais eu paro de produzir. Ou seja, meu organismo interpreta como se eu tivesse o suficiente. Com o tempo, quanto mais hormônios são tomados irregularmente, mais a produção endógena é suprimida”, conclui Rienzo.

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