Videogame violento não causa agressividade, diz psiquiatra
Hamilton Mourão disse que massacre em Suzano se deve à influência de videogames violentos; especialista afirma que jogo não estimula violência
Saúde|Deborah Giannini, do R7

Jogos violentos de videogame podem refletir o estado emocional de um adolescente, mas não são capazes de provocar comportamentos agressivos, segundo o psiquiatra Diego Tavares, do Grupo de Estudos de Doenças Afetivas (Gruda) do Hospital das Clínicas de São Paulo. "O jogo é consequência e não a causa. É a ponta do iceberg de um estado emocional prévio", afirma.
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Segundo ele, os jogos podem até aliviar sentimentos negativos.
Ao lamentar o massacre, o vice-presidente, Hamilton Mourão, disse que o caso se deve à influência de videogames violentos e à falta de atividades educativas para crianças e adolescentes.
“Hoje a gente vê essa garotada viciada em videogames e videogames violentos. Só isso que fazem. Quando eu era criança e adolescente, jogava bola, soltava pipa, jogava bola de gude, hoje não vemos mais essas coisas. É isso que temos que estar preocupados”, afirmou.
Os autores do massacre na escola estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, a 50 km de São Paulo, ocorrido nesta quarta-feira (13), teriam predileção por jogos violentos, como o Free Fire, de acordo com reportagem noBalanço Geral, da Record TV.
Dez pessoas morreram e ao menos 10 ficaram feridas por dois jovens que, após atirarem no pátio da escola durante o recreio, se suicidaram. Entre as vítimas estão estudantes e funcionários da escola.
"Quem tem predileção por jogo violento provalemente já apresentava previamente sintomas de alteração de humor como irritabilidade, impaciência, raiva, ódio e hostilidade. Jogos não causam alterações emocionais diretas. O comportamento emerge como estado emocional que não é unico. Quando se busca por jogos agressivos, pode observar que o jovem está agressivo com as pessoas, sejam pais, irmãos, professores", explica.
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O psiquiatra afirma que, não apenas o videogame, mas músicas também são apontadas de forma equivocada como causadoras de comportamentos negativos em adolescentes.
"Já tive caso em que os pais afirmaram que o filho só ouvia músicas depressivas e que isso havia causado a depressão. Na verdade, o jovem já estava apresentando alteração emocional para depressão e estava buscando aquele tipo de música como consequência disso", afirma.
Ele explica que o comportamento agressivo não emerge subitamente. "Provavelmente, o jovem já vinha apresentando comportamento agressivo por pelo menos seis meses no trânsito, na escola, no dia-a-dia. Os pais, que geralmente têm um distanciamento, só percebem isso quando a 'bomba explode'. Quando brigam na escola, quebram as coisas", afirma.
O que pode influenciar no desenvolvimento de um jovem violento, segundo o psiquiatra, é a presença de um transtorno não diagnosticado e não tratado, que tenha entre suas manifestações a raiva e a agressividade. De acordo com ele, os principais são transtorno disruptivo de regulação do humor e o transtorno de conduta, na infância, e a bipolaridade, na fase adulta.
Ele afirma que frustações e humilhações públicas, como o bullying, não são capazes de estimular, isoladamente, atos violentos. “O ambiente não gera comportamento, ele precipita. É só um estressor. É preciso que haja uma predisposição para aquele comportamento”, finaliza.