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Vitamina C pode ser aliada contra ansiedade e depressão. Entenda

Estudos apontam para um papel protetor deste micronutriente nas células do sistema nervoso central

Saúde|Fernando Mellis, do R7

Vitamina C é obtida pelo consumo regular de frutas, legumes e verduras frescos
Vitamina C é obtida pelo consumo regular de frutas, legumes e verduras frescos Vitamina C é obtida pelo consumo regular de frutas, legumes e verduras frescos

A mais famosa das vitaminas, sempre lembrada na hora da gripe e do resfriado, pode ter uma participação coadjuvante positiva no tratamento de depressão e ansiedade. Estudos publicados nas últimas duas décadas apontam para uma relação vantajosa na suplementação de vitamina C (ácido ascórbico) durante o tratamento desses transtornos psiquiátricos.

Inicialmente, cabe salientar que ansiedade e depressão são doenças multifatoriais cujas origens não estão associadas à falta de nenhum nutriente e precisam de acompanhamento médico, tanto para diagnóstico quanto para tratamento.

Portanto, o papel do ácido ascórbico nesses transtornos é descrito apenas como uma alternativa terapêutica — associada aos medicamentos convencionais — a ser considerada por médicos em conversa com seus pacientes. 

Pesquisadores já identificaram um componente importante do ácido ascórbico na redução dos níveis de cortisol, o "hormônio do estresse", no organismo.

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O estresse é uma resposta natural do nosso corpo a fatores ambientais compreendidos como ameaça e perigo. Ele causa aceleração dos batimentos cardíacos, irritabilidade, alterações do sono, do apetite e gastrointestinais, entre outras. Costuma passar naturalmente por estar associado a momentos específicos.

Já a ansiedade é um estado de estresse quase que permanente — inclusive com sintomas semelhantes — mesmo que não haja fatores desencadeadores. O indivíduo que sofre desse transtorno costuma ter preocupação excessiva, além de batimentos cardíacos acelerados, tonturas, dor de cabeça etc.

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Em relação à depressão, é comum que pacientes depressivos experimentem um período de estresse crônico.

Seja qual for o quadro psiquiátrico, altos níveis de cortisol por longos períodos causam alguns danos ao organismo, explica o médico psiquiatra Guido Boabaid May, do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein.

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"O cortisol é essencial para o nosso funcionamento. Ele aumenta a nossa resistência à dor, interfere positivamente na metabolização de gordura, carboidrato e proteína. Mas quando é produzido em excesso, em situações de estresse, aumenta o risco de termos depressão, ansiedade, facilita o ganho de peso, doenças cardiovasculares, diminui nossas funções cognitivas, como concentração e raciocínio, aumenta a fadiga e a irritabilidade, diminui a libido, piora a qualidade de sono, pode alterar o ciclo menstrual[...]"

A depressão, acrescenta o médico, envolve outras questões, mas também o aumento dos níveis de cortisol por um tempo prolongado.

"Um estresse contínuo, além do aumento de cortisol, pode afetar a modulação química do cérebro e, aí sim, desencadear sintomas depressivos, que são mais intensos e contínuos. A depressão é causada primeiramente por uma alteração na modulação neuroquímica do cérebro — dos neurotransmissores serotonina, dopamina, noradrenalina, em associação com o aumento da produção de cortisol."

Além de reduzir os níveis de cortisol, a vitamina C tem outras funções, acrescenta o médico nutrólogo Daniel Magnoni, presidente do Imem (Instituto de Metabolismo e Nutrição).

"A vitamina C estabiliza funções cognitivas; então, estabiliza a irritabilidade celular de modo geral, arritmia cardíaca, contração muscular espontânea, e também estaria relacionada de certa forma com a 'irritabilidade' do sistema nervoso central."

Os níveis de ácido ascórbico são de duas a quatro vezes maiores no líquido cefalorraquidiano do que no plasma sanguíneo, o que sugere sua alta concentração no sistema nervoso central.

Foi partindo da premissa de que a vitamina C é uma aliada do sistema nervoso central que cientistas obtiveram resultados animadores em estudos.

Depressão

Depressão pode ter períodos de estresse crônico
Depressão pode ter períodos de estresse crônico Depressão pode ter períodos de estresse crônico

Em um trabalho científico divulgado no ano passado, pesquisadores da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) destacam que "a deficiência de vitamina C está amplamente associada a doenças relacionadas ao estresse".

"Embora a eficácia dessa vitamina nos transtornos do espectro da ansiedade seja menos estabelecida, vários estudos mostraram que a suplementação de ácido ascórbico produz efeito antidepressivo e melhora o humor", afirma artigo publicado no Jornal de Bioquímica Nutricional.

Em 2014, pesquisadores da Líbia investigaram o efeito combinado da vitamina C com antidepressivos em indivíduos que já estavam em tratamento.

Apesar de ter sido analisado um grupo pequeno, de 22 pacientes, eles observaram melhora significativa entre aqueles que haviam tomado a vitamina C, em comparação com os que tomaram apenas o antidepressivo.

Um grupo de cientistas iranianos constatou melhoras nos escores de depressão em trabalhadores de uma refinaria de petróleo que tomaram 250 mg de vitamina C duas vezes ao dia, por 60 dias, na comparação com os que tomaram placebo. Os resultados foram publicados no Journal of Clinical Biochemistry and Nutrition em 2013.

Em outro trabalho científico, pesquisadores da McGill University, em Montreal, no Canadá, analisaram 52 homens e mulheres hospitalizados, com idade média de 64 anos, que receberam 500 mg de vitamina C duas vezes ao dia, por oito dias.

Eles concluíram que a suplementação reduziu em 71% os sintomas de humor e 51% os de estresse psicológico, em artigo publicado em 2014 no The American Journal of Clinical Nutrition.

"O efeito adjuvante do ácido ascórbico em combinação com antidepressivos tem grande potencial para ser incluído nos protocolos de manejo da depressão clínica, especialmente para pacientes refratários", acrescentam os pesquisadores da UFSC.

Ansiedade

Há menos estudos envolvendo a relação da vitamina C na diminuição da ansiedade do que os que existem sobre a depressão. Mesmo assim, um trabalho conduzido por pesquisadores brasileiros em 2015, com 42 estudantes do ensino médio, mostrou benefícios.

Foram comparados dois grupos: um recebeu 500 mg de vitamina C por dia e o outro tomou placebo.

Após 14 dias da suplementação, eles avaliaram o nível de ansiedade dos jovens utilizando o Inventário de Ansiedade de Beck.

"Os resultados mostraram que a vitamina C reduziu os níveis de ansiedade e levou a uma concentração mais elevada de vitamina C no plasma em comparação com o placebo. As frequências cardíacas médias também foram significativamente diferentes entre o grupo de vitamina C e o grupo de controle com placebo", ressaltam os autores.

Os pesquisadores da UFSC reforçam em seu artigo que "o ácido ascórbico também participa indiretamente como um antioxidante, regenerando a vitamina E e contribuindo para a homeostase oxidante/antioxidante da membrana plasmática".

Sabe-se que o estresse oxidativo pode contribuir para a fisiopatologia dos transtornos de ansiedade.

Quando suplementar

Suplementação deve sempre ser feita com acompanhamento médico
Suplementação deve sempre ser feita com acompanhamento médico Suplementação deve sempre ser feita com acompanhamento médico

A ingestão de 100 mg a 200 mg por dia de vitamina C (cerca de cinco porções do reino vegetal) é suficiente para manter as concentrações sanguíneas em um estado de saturação adequado (50 a 75 µmol/L).

Abaixo de 23 µmol/L, a pessoa já pode apresentar sinais de insuficiência de vitamina C, que incluem sangramentos nas gengivas e na conjuntiva ocular, manchas roxas pelo corpo, fadiga, letargia e alterações de humor, como irritabilidade e depressão.

Daniel Magnoni observa que não é da noite para o dia que esses níveis caem, mas sim após alguns meses sem que o indivíduo consuma as quantidades ideais de ácido ascórbico.

Segundo o nutrólogo, "é muito rara a deficiência de vitamina C".

"Se você comer três frutas por dia, já está resolvido. Se você suplementar, a dose varia de 30 mg a 100 mg por dia, é muito pouco. Quando existe necessidade, pode suplementar, só não pode suplementar em excesso."

O psiquiatra Guido May pondera que é preciso primeiro identificar se o paciente tem deficiência de vitamina C ou se é uma pessoa com níveis normais do micronutriente, mas que poderia ter algum benefício com um aumento da dose diária.

"Parece que já existe algum consenso, com alguma evidência, que sugere que a vitamina C acaba sendo neuroprotetiva, protegendo a saúde dos neurônios e do cérebro. Doses adequadas de vitamina C acabam aumentando a disposição, a vitalidade, a função cognitiva. Isso acaba provavelmente contribuindo para aumento de escores de melhora, principalmente para pacientes de depressão."

Todavia, por não ser um tema em que há diretrizes, a suplementação da vitamina C é uma decisão que deve ser tomada sempre entre paciente e médico. O excesso de vitaminas também pode ser prejudicial, alerta o psiquiatra.

"Vale a pena ter uma dieta rica e, se não for o caso, faça uma suplementação dentro dos níveis recomendados de segurança. Caso contrário, sobrecarrega os rins, o fígado e o bolso também."

A vitamina C é obtida naturalmente pelo consumo regular de frutas frescas, como acerola, laranja, caju, kiwi, limão, tangerina, manga, morango, abacaxi, melancia etc. Também é possível encontrá-la em legumes cozidos ou refogados, como couve-flor, batata doce e repolho roxo.

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