Sistema da Abin investigado em operação da PF monitorava até 10 mil celulares; entenda
Agentes fizeram buscas nesta quinta-feira em endereços ligados ao ex-diretor-geral da agência Alexandre Ramagem
Brasília|Rafaela Soares, do R7, e Natália Martins, da Record, em Brasília
A Polícia Federal investiga, desde o ano passado, o uso irregular de um sistema da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) para monitorar autoridades brasileiras, como os ministros do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes. De acordo com as investigações, o programa permitia o monitoramento de até 10 mil celulares a cada 12 meses. Nesta quinta-feira (25), endereços ligado ao deputado federal e ex-diretor-geral da agência Alexandre Ramagem (PL-RJ) foram alvos de buscas por parte dos agentes federais.
Segundo fontes da Abin consultadas pela RECORD BRASÍLIA, o uso da ferramenta não é considerado crime em consultas feitas para dar andamento ou não em investigações, por exemplo. Nestes casos, os agentes envolvidos na apuração ligam para as operadoras e pedem dados de algum suspeito.
Os interlocutores explicam que as investigações apuram se houve a existência de um grupo formado por pessoas, que não eram funcionários de carreira da Abin, que teriam utilizado a máquina pública com objetivos pessoais.
De acordo com a Polícia Federal, para acionar o sistema de geolocalização e ter acesso às informações das pessoas, bastava digitar o número do celular. A aplicação também criava históricos de deslocamento e alertas em tempo real da movimentação dos aparelhos cadastrados.
A operação
Alexandre Ramagem é um dos alvos de uma operação desta quinta-feira (25) que investiga o suposto uso ilegal de uma ferramenta de espionagem em sistemas da Abin. Segundo fontes ligadas à PF, os ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes estão na lista de suposta espionagem.
Leia mais: PF investiga se Abin teria monitorado ilegalmente Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes
O gabinete do parlamentar é um dos locais onde os agentes fazem buscas,. As ações ocorrem também em endereços de outras pessoas no Distrito Federal, Minas Gerais e Rio de Janeiro. A casa e o escritório do deputado também foram alvos. Ramagem deve prestar depoimento na sede da PF.
A RECORD e o R7 procuraram a assessoria do parlamentar, que disse que não iria se posicionar no momento.
Perfil
Alexandre Ramagem chefiou a agência entre julho de 2019 e março de 2022, quando foi exonerado pelo ex-presidente. Ele foi candidato nas eleições do mesmo ano e se elegeu deputado federal pelo Rio de Janeiro. Antes de fazer parte do governo, o delegado de carreira da PF foi o coordenador da segurança de Bolsonaro na campanha de 2018, logo depois que o então candidato à Presidência foi vítima de um atentado a faca, em Juiz de Fora (MG).
O atual deputado federal foi cotado para assumir a direção da PF, depois da exoneração do delegado Maurício Valeixo. Essa saída levou o ex-juiz da Operação Lava Jato Sergio Moro a se demitir do Ministério da Justiça e Segurança Pública.