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Enquanto europeus afundam com a crise, americanos pedem mais apoio social do Estado

Governantes buscam por soluções para reformar instituições e equilibrar demandas do mercado e da população

Internacional|Fábio Cervone, colunista do R7

Manisfestante grego protesta em Atenas contra medidas de cortes de gastos públicos
Manisfestante grego protesta em Atenas contra medidas de cortes de gastos públicos Manisfestante grego protesta em Atenas contra medidas de cortes de gastos públicos

O presidente reeleito dos EUA, Barack Obama, ainda comemorava a vitória na tarde da quarta-feira (7) quando, do outro lado do mundo, em Atenas (Grécia), cerca de 70 mil manifestantes enfrentavam violentamente a polícia, mais uma vez no ano, em frente ao parlamento do país. Enquanto os governos europeus seguem tocando a política da austeridade econômica, com redução extrema de gastos públicos, o povo norte-americano deu outra resposta nas urnas: queremos mais gastos sociais do Estado.

Apesar das explosões nas ruas que cercam o Congresso, os deputados gregos aprovaram na quarta mais um corte financeiro no orçamento público, no valor de R$ 47 bilhões (€ 18,5 bilhões), engessando ainda mais as contas nacionais. A maioria das medidas afetam principalmente aposentados, pensionistas, funcionários públicos e serviços assistenciais.

A Grécia está literalmente desmontado sua estrutura de bem estar social. Não é para menos que tantos gregos estejam contra as reformas do FMI (Fundo Monetário Internacional), BCE (Banco Central Europeu) e UE (União Europeia). Para eles, anos de lutas e conquistas, que resultaram numa rede de direitos que assegurava um padrão confortável de vida, estão sendo jogados fora.

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Enquanto isso, no “novo mundo”, Obama ao se reeleger confirmou nas urnas o desejo popular de avançar com os projetos do primeiro mandato. Com isso, na contramão dos ventos europeus, os americanos estão apostando no aumento das estruturas de assistência social. Como prometido na campanha, os democratas devem continuar a fortalecer a presença do Estado na sociedade e projetos como o “Obamacare”, de universalização da saúde, serão intensificados — apesar da sombra de uma pergunta: teremos grana para isso?

Europa e Estados Unidos, dois caminhos inversamente proporcionais, mas com o mesmo objetivo: encontrar o equilíbrio entre Estado, mercado e sociedade.

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O problema dos gregos é que eles erraram a mão da administração pública e colocaram muito fermento no bolo: excesso de benefícios sociais. A receita acabou explodindo dentro do forno, sobrando só alguns restos queimados no fundo da forma. Enquanto isso, os americanos perderam muito tempo brigando com os vizinhos, esqueceram o bolo esfriando do lado de fora da janela, as formigas comeram quase tudo e, no final, todo mundo ficou sem sobremesa.

Na festa do capitalismo, até os convidados VIPs uma hora precisam sair da pista de dança e descansar numa cadeira. Os EUA, porta-voz do capitalismo, não estão mais em crise, mas continuam sentadinhos. Por isso, até no santuário neoliberal do consumo, a globalização está obrigando os governantes a repensarem o papel do Estado.

Os benefícios sociais desfrutados por anos na Grécia, como aposentadoria, seguro desemprego, transporte público, saúde e educação, gratuitos de qualidade, cada dia mais são requisitados pelos americanos comuns.

Para sair da crise, Obama terá que fazer muito mais do que melhorar os gastos sociais. Mas, na dúvida se a economia decolará ou não, os EUA estão preparando o terreno para evitar o agravamento da miséria de sua população.

A maior semelhança entre o transatlântico americano e a canoa grega é que, independentemente do tamanho da embarcação, ao navegarem em águas internacionais, pelas correntezas da globalização e do consumo, qualquer um dos comandantes pode perder o timão e acabar à deriva.

A crise do Estado-nação e a crescente demanda social ainda não têm vacina. Obama está testando seu remédio, ao mesmo tempo em que europeus tratam a Grécia e outros pupilos. Quem está no caminho de obter a cura? Ninguém sabe.

O mais preocupante, neste cenário, é reconhecer que ninguém está a salvo. Mesmo passado tanto tempo após o olho do furacão financeiro de 2008, diferente do que acreditavam os marujos mais experientes, a bonanza não chegou, a calmaria continua traiçoeira e não há menor sinal de terra à vista.

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