Acervo digital de Lucio Costa será compartilhado com o Arquivo Público do Distrito Federal
Documentos inéditos estavam com a Casa da Arquitectura de Portugal e começarão a ser compartilhados
Brasília|Do R7, em Brasília

O acervo digital de Lucio Costa, urbanista responsável por planejar o Plano Piloto, começou a ser compartilhado com o Arquivo Público do Distrito Federal. O material, que contém rascunhos inéditos do projeto original da cidade, antes sob a guarda da Casa da Arquitectura de Portugal, está sendo transferido como parte de um acordo de cooperação firmado entre o governo do DF e a instituição portuguesa. A iniciativa busca preservar a memória e o legado do arquiteto para as futuras gerações.
O superintendente do Arquivo Público, Adalberto Scigliano, defende que qualquer acervo, em qualquer formato, seja audiovisual, textual ou cartográfico, é fundamental para complementar a história de Brasília.
“Tudo é relevante, desde fotos e documentos de pioneiros até registros de um grande gênio como Lucio Costa. Cada peça ajuda a compor uma visão mais completa da cidade e, mais do que isso, garante a preservação dessa história para as futuras gerações”, afirma.
O superintendente destaca que a importância desse material está, primeiro, no fato de que o urbanista foi um dos idealizadores da capital. Mas há também um valor diplomático nessa parceria, já que envolve o governo português. Agora, tanto Brasil quanto Portugal possuem um acervo mais completo sobre ele, permitindo que tanto a população portuguesa quanto a brasileira tenham acesso a esse legado.
Os documentos originais estão na Casa da Arquitectura, em Matosinhos, Portugal, que foram doados pela filha de Lucio Costa, Maria Elisa. A parceria visa criar um acervo digital que reunirá plantas, esboços, correspondências, fotografias, publicações e outros materiais de relevância histórica e cultural, para facilitar pesquisas acadêmicas, exposições e intercâmbio de conhecimentos.
Historiador do ArPDF há 20 anos e especialista na história de Brasília, Elias Manoel da Silva, se mostrou empolgado com a primeira remessa de documentos. “Cada página revela detalhes inéditos do processo criativo. Quando olhei pela primeira vez, me chamou a atenção como o Eixo Monumental era menor do que acabou sendo. Dá para ver claramente que ele foi ampliado depois. Também notei que a Praça dos Três Poderes já estava planejada como um platô, ou seja, Lucio Costa não queria que o terreno natural definisse a cidade, ele já previa a necessidade de nivelamento e terraplanagem”, conta.
Elias destaca que essa documentação no Arquivo Público de Brasília reforça a autenticidade da cidade e do criador. “É um material essencial para entendermos como Brasília nasceu, desde os primeiros traços até a cidade real”, garante.
O historiador também chama a atenção para um detalhe curioso: Lucio Costa descreveu Brasília como dois eixos que se cruzam “como um sinal da cruz”. A ideia de que a cidade teria o formato de um avião não partiu dele. Se dependesse do urbanista, as regiões seriam chamadas de “Braço Norte” e “Braço Sul”, e não “Asa Norte” e “Asa Sul”. Para Costa, a metáfora do sinal da cruz simbolizava a posse do território de forma intencional.
Até o momento, o Acervo recebeu cerca de 30 documentos, incluindo imagens, rascunhos e croquis. Dentre eles, a foto onde aparecem Juscelino Kubitschek, Oscar Niemeyer, Lucio Costa e Ícaro de Castro Mello.
“Essa foto ilustra bem o espírito visionário da época, com JK reunindo os melhores profissionais para tornar Brasília uma realidade”, destaca.
Parceria
A assinatura do acordo ocorreu em fevereiro de 2025 no gabinete do governador Ibaneis Rocha, que conduziu a reunião com o diretor-executivo da Casa da Arquitectura, Nuno Sampaio, a ministra da Cultura de Portugal, Dalila Rodrigues, o superintendente do Arquivo Público, Adalberto Scigliano, o secretário-executivo da Secretaria de Relações Internacionais, Paulo Cesar Pagi Chaves, e a neta de Lucio Costa, Julieta Sobral.
Com informações da Agência Brasília
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