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R7 Brasília

Análise de veto de simplificação de quimioterapia fica para 2022

Projeto que obriga planos de saúde a ofertar quimioterapia oral foi vetado. MP sobre assunto não foi analisada e deve caducar

Brasília|Sarah Teófilo, do R7, em Brasília

Plenário do Senado durante sessão do Congresso para análise dos vetos
Plenário do Senado durante sessão do Congresso para análise dos vetos

Ficou para fevereiro de 2022 a análise do veto do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao projeto que simplifica o processo de oferta de medicamentos de quimioterapia oral. Aprovado no Congresso, o texto determina que os planos de saúde sejam obrigados a ofertar remédios de uso oral a pacientes com câncer a partir do momento em que as drogas sejam aprovadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

A análise deveria ter ocorrido na última sexta-feira (17), mas saiu da pauta do Congresso. O objetivo da matéria é evitar que haja necessidade de, após o aval da Anvisa, tenha que se esperar uma regulação da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), trâmite que amplia ainda mais o tempo até que os planos de saúde passem a ofertar efetivamente o tratamento oral.

O projeto, de autoria do senador Reguffe (Podemos-DF), foi aprovado no Senado em junho de 2020, e aprovado em julho deste ano na Câmara. A matéria obriga que os planos ofertem os medicamentos após 48 horas da aprovação da Anvisa, desde que haja prescrição médica. O veto presidencial veio em seguida, no fim do mês, sob a justificativa de que a proposta "contraria o interesse público por deixar de levar em consideração aspectos como a previsibilidade, a transparência e a segurança jurídica” dos planos de saúde.

Na análise do veto, ao se considerar o alto custo dos medicamentos e a imprevisibilidade da aprovação e concessão dos registros pela Anvisa, "existiria o risco do comprometimento da sustentabilidade do mercado de planos privados de assistência à saúde, o qual teria como consequência o inevitável repasse desses custos adicionais aos consumidores, de modo que encareceria, ainda mais, os planos de saúde, além de poder trazer riscos à manutenção da cobertura privada aos atuais beneficiários, particularmente aos mais pobres.”


Após o veto, o presidente Jair Bolsonaro editou uma MP (medida provisória) com proposta parecida, tornando obrigatória a cobertura, por parte dos planos de saúde, do tratamento oral a pacientes com câncer. A diferença é que, neste caso, a MP prevê a necessidade de uma avaliação da ANS, mas estabelece um prazo de 180 dias para a análise.

Por ser uma MP, ela passa a valer a partir do momento que é editada, mas precisa passar por análise do Congresso em 120 dias. Caso contrário, o texto deixa de valer, o que ocorre no início de janeiro. A matéria foi aprovada nesta semana, pela Câmara, mas não passou pelo Senado Federal e deve caducar no início do ano de 2022.


Avaliações

Presidente do Instituto Oncoguia, organização não-governamental (ONG) que atua em prol de pacientes com câncer, Luciana Holtz afirmou que o tratamento dado ao projeto e à MP mostram que o assunto foi deixado de lado no Congresso. "É muito frustrante ver um assunto tão importante que acabou não sendo priorizado", afirmou, ao R7

Holtz afirma que este é um assunto que a organização trabalha há quase oito anos. Atualmente, conforme explicou, o plano de saúde é obrigado a ofertar todos os medicamentos intravenosos (medicação é aplicada diretamente na veia) assim que há liberação da Anvisa. No caso do medicamento oral, para o plano cobrir é preciso passar por um processo de avaliação da ANS. "O que se tenta fazer é resolver essa desiqualdade. Os dois são tratamentos para câncer", frisou.


A presidente pontuou que, principalmente durante a pandemia, o tratamento oral a pacientes com câncer foi muito importante. Nem todo câncer é combatido com medicação oral, mas para alguns tipos existe essa possibilidade e, às vezes, o plano não cobre por não estar no rol de tratamentos da ANS. Holtz frisa que o problema é que a ANS atualiza a lista de tratamento a cada dois anos, e o paciente fica obrigado a aguardar essa análise mesmo com a liberação da Anvisa.

"Enquanto a ANS não avalia, o plano diz 'não'. Aí, nos tratamento mais recentes, que ainda não passaram pela análise da ANS, os pacientes não conseguem ter acesso. Muitos acabam judicializando, ou o médico acaba tendo que tentar outro tratamento que acaba não sendo aquele que é o mais indicado", dise.

Autor da matéria, Reguffe criticou a demora na análise do veto durante sessão do Congresso, na última sexta-feira. "Já deveria ter sido apreciado há muito tempo", afirmou. O senador pontuou que conversou com o líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), e que o compromisso feito é de analisar o veto em fevereiro, logo após o retorno dos trabalhos legislativos.

"É um veto importante para milhares de pacientes com câncer no Brasil. Tem paciente com câncer em situação difícil que espera o surgimento de uma nova medicação. Ela surge, por exemplo, nos Estados Unidos, o paciente tem que esperar a Anvisa aprovar no Brasil, o que leva, às vezes, quatro meses. É justo que, depois que a Anvisa dá aval, passasse a valer. Não é justo ter que esperar uma nova avaliação", afirmou.

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