Em viagem aos EUA ainda como presidente, Bolsonaro recebeu dólares de joias vendidas, diz PF
Ex-presidente recebeu do pai de Mauro Cid cerca de 30 mil dólares, afirma a Polícia Federal; repasse ocorreu após evento na ONU
Brasília|Do R7 com informações do Estadão Conteúdo
O relatório da investigação da Polícia Federal sobre a venda ilegal de joias recebidas pela Presidência da República na gestão de Jair Bolsonaro mostrou que ele recebeu cerca de 30 mil dólares do general Mauro César Lourena Cid, pai do tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, em um hotel de luxo de Nova York em setembro de 2022, quando ainda era presidente do Brasil. O dinheiro, segundo a corporação, era oriundo do esquema fraudulento. A defesa do ex-presidente nega que o repasse citado pelo relatório final da PF tenha ocorrido. Os advogados de Lourena Cid não se manifestaram.
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Naquele mês, Bolsonaro tinha viajado aos EUA para participar da Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas). Segundo o relatório final da corporação, o ex-presidente se encontrou com Lourena Cid no mesmo dia em que fez o discurso no evento.
Em depoimento aos investigadores, Lourena Cid admitiu que repassou cerca de 30 mil dólares da venda ilegal de joias no Omni Berkshire Place, um hotel de luxo em Manhattan.
“Indagado sobre como se deu o repasse dos valores decorrentes da venda dos relógios Patek Philippe e Rolex, respondeu que os valores foram repassados de forma fracionada conforme a disponibilidade de encontros com o ex-presidente Jair Bolsonaro; que se recorda de ter repassado ao ex-presidente Jair Bolsonaro uma parte do valor, quando de sua ida à cidade de Nova lorque para um evento da ONU; que repassou os valores quando visitou o ex-presidente no hotel em que este se hospedava em Nova lorque”, diz um trecho do interrogatório de Lourena Cid pela Polícia Federal.
Bolsonaro indiciado
Bolsonaro foi indiciado pelos crimes de peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro pela venda ilegal de joias da Presidência da República. Caso seja condenado pelos três crimes, o ex-presidente pode pegar de 10 a 32 anos de prisão, conforme a legislação vigente no país.
No último dia 8, Bolsonaro disse esperar “muitas outras correções” do relatório final da PF após os investigadores apontarem um “erro material” que definiu o valor das joias desviadas por ele e outros indiciados.
Além de Bolsonaro, foram indiciados Lourena Cid, Mauro Cid e mais nove pessoas. Entre os nomes apontados pela PF como integrantes da organização criminosa, estão dois ex-ministros: Fabio Wajngarten, que comandava a Secretaria de Comunicação Social (Secom), e Bento Albuquerque, ex-chefe do Ministério de Minas e Energia.
No dia do indiciamento, Wajngarten afirmou, pelo X (antigo Twitter), que não violou a lei e que seu indiciamento é abusivo. “O meu indiciamento pela Polícia Federal se baseia na seguinte afronta legal: advogado, fui indiciado porque no exercício de minhas prerrogativas, defendi um cliente, sendo que em toda a investigação não há qualquer prova contra mim. Sendo específico: fui indiciado pela razão bizarra de ter cumprido a Lei!”, escreveu.
O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes deu um prazo de até 15 dias para a PGR (Procuradoria-Geral da República) se pronunciar sobre um possível oferecimento de denúncia contra os investigados.
O MPF decidirá se apresenta uma acusação formal à Justiça, o que pode levar à abertura de uma ação penal no Supremo. Além disso, o Ministério Público pode solicitar mais investigações ou arquivar o caso.