Ex-chefe da PRF depõe à Polícia Federal nesta quinta por suposta interferência nas eleições
Silvinei Vasques foi preso em Santa Catarina e transferido para o Distrito Federal; após oitiva, ele será encaminhado para a Papuda
Brasília|Plínio Aguiar, do R7 em Brasília, com Natália Martins, da Record TV
O ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques, preso por uso da máquina pública para interferir nas eleições de 2022, deve prestar depoimento à Polícia Federal nesta quinta-feira (10), em Brasília. O agente foi detido em Florianópolis e transferido para a capital federal nesta quarta (9). Depois da oitiva, ele será encaminhado para o Complexo Penitenciário da Papuda.
Segundo as investigações, integrantes da PRF teriam direcionado recursos humanos e materiais com o intuito de dificultar o trânsito de eleitores no segundo turno. Os mandados foram autorizados pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. De acordo com a Polícia Federal, os crimes apurados teriam sido planejados desde o início de outubro daquele ano. No dia do segundo turno, foi realizado um patrulhamento ostensivo e direcionado à região Nordeste.
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Para a PF, os fatos investigados configuram, em tese, os crimes de prevaricação e violência política, previstos no Código Penal brasileiro, e os crimes de impedir ou embaraçar o exercício do sufrágio e ocultar, sonegar, açambarcar ou recusar no dia da eleição o fornecimento, normalmente a todos, de utilidades, alimentação e meios de transporte, ou conceder exclusividade desses a determinado partido ou candidato, que estão listados no Código Eleitoral brasileiro.
Mensagens obtidas pela PF mostram que Silvinei teria ordenado um "policiamento direcionado" contra eleitores do então candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno das eleições de 2022. O policial foi preso nesta quarta-feira (9), em Florianópolis, por suspeita de uso da máquina pública para interferir no pleito.
Em 29 de outubro, mensagens trocadas entre o policial rodoviário federal Adiel Pereira Alcântara, então coordenador de Análise de Inteligência da PRF, e Paulo César Botti Alves Júnior, subordinado a ele, mostram que o próprio Alcântara criticou a conduta de Vasques. Ele afirma que o ex-diretor-geral teria falado "muita m..." nas reuniões de gestão, notadamente determinando o "policiamento direcionado" das equipes da corporação nas blitze realizadas no segundo turno das eleições e "corroborando com os elementos de prova que indicam as ações policiais visando dificultar ou mesmo impedir eleitores de votar".
Conversas de WhatsApp de 12 de outubro no celular de Alcântara com o policial rodoviário federal Luís Carlos Reischak Júnior, então diretor de Inteligência da PRF, mostram a orientação de uma ação ostensiva para o dia 30 do mesmo mês. "Chamando atenção um trecho no qual mencionam abordagens de ônibus que levam passageiros de São Paulo para o Nordeste", diz um segmento do documento da PF.
"Perfeito, chefe. Acho que é bom e assim, acho que a gente tem que levar em consideração também essa decisão recente do [ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto] Barroso que liberou o transporte gratuito de eleitores no dia 30. Porque vai ser difícil caracterizar o transporte clandestino de eleitor, né", respondeu Alcântara.
Como mostrou o R7, a PF obteve acesso ao mapa que mostra as regiões onde havia concentração de votos no primeiro turno da eleição de 2022 para o então candidato Lula. Segundo a corporação, o documento foi usado pela gestão de Vasques para dificultar o deslocamento de eleitores do petista no segundo turno. O mapa foi encontrado no celular de Marília Alencar, então diretora de Inteligência da Secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
O então ministro da Justiça Anderson Torres pediu a membros da PF e da PRF que se ajudassem em uma atuação conjunta, alegando que o motivo seria o combate a fraudes eleitorais. O objetivo, contudo, seria interromper o fluxo de eleitores e, assim, tentar diminuir a vantagem de Lula na região, a fim de favorecer o ex-presidente e então candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL).
Intitulado "Concentração maior ou igual a 75% — Lula", o mapa mostra uma lista de municípios, como Crato (CE), Paulo Afonso (BA), Iguatu (CE), Parintins (AM), Candeias (BA), Serra Talhada (PE), Canindé (CE), Barreirinhas (MA) e Icó (CE), entre outros. Há uma coluna de votos cujo número total é 10.073.642, além de outras duas colunas com o nome de "Bolsonaro" (1.485.294 votos) e "Lula" (7.743.713). O mapa traz ainda uma coluna com nomes de partidos. Sob a gestão de Vasques, a PRF concentrou a abordagem de veículos no segundo turno da eleição em locais em que o petista construía sua maior vantagem.
À Record TV, a defesa de Silvinei disse, em referência ao mapeamento dos eleitores de Lula, que ele não pode ser responsabilizado por atos que tenham sido cometidos por outros. A defesa do ex-diretor da PRF afirmou ainda que "as operações no segundo turno foram coordenadas pelo Ministério da Justiça".