Governo demite servidor de Abin por improbidade administrativa e vazamento de informações sigilosas
Agente teria divulgado dados secretos sobre investigação de suposto esquema de rachadinha do senador Flávio Bolsonaro
Brasília|Plínio Aguiar e Gabriela Coelho, do R7, em Brasília
O servidor Cristiano da Costa Ribeiro, lotado no cargo de agente de inteligência, foi demitido nesta sexta-feira (2) da Abin (Agência Brasileira de Inteligência). Ribeiro foi alvo de um processo administrativo disciplinar, aberto em 2021. A análise federal concluiu que o agente cometeu dois crimes previstos na Lei 8.112, de 1990, que dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União – improbidade administrativa e revelação de segredo do qual se apropriou em razão do cargo. A reportagem busca contato com Ribeiro. O espaço está aberto para manifestação.
De acordo com a investigação, Ribeiro teria vazado dados sigilosos que embasaram uma matéria sobre um servidor do órgão que supostamente teria atuado para blindar o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no caso das rachadinhas.
Ribeiro teria fotografado dados sigilosos do sistema de inteligência e enviado para pessoas que não fazem parte da Abin. O material teria sido usado em uma reportagem publicada no final de 2020, que apontava que o policial federal Marcelo Bormevet, na época lotado na Abin, teria produzido relatórios para proteger o senador da República.
Bormevet é delegado de carreira e na época atuava como chefe do Centro de Inteligência Nacional (CIN). Ele foi demitido do cargo após decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O R7 tenta contato com o delegado.
“A utilização da Abin para fins ilícitos é, novamente, apontada pela Polícia Federal e confirmada na investigação quando demonstra a preparação de relatórios para defesa do senador Flávio Bolsonaro, sob responsabilidade de Marcelo”, diz.
O delegado entrou para a Abin a convite de Alexandre Ramagem, que era diretor-geral da agência. Nos bastidores, Bormevet e outros cinco servidores são apontados como ligados a Ramagem e responsáveis por municiar Flávio Bolsonaro sobre o andamento da investigação a respeito da suposta prática de um esquema de rachadinha no gabinete do senador.
'Abin paralela'
A operação Última Milha, da Polícia Federal, investiga o suposto uso ilegal da estrutura da Abin para espionagem ilegal de adversários políticos da família Bolsonaro. Na mira dos agentes, entre outras pessoas, estão o ex-diretor-geral da agência Alexandre Ramagem e o vereador pelo Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro.
A Polícia Federal encontrou uma troca de mensagens no celular de Ramagem entre ele e Luciana Almeida, assessora do vereador Carlos Bolsonaro. Na conversa, ela pedia "ajuda" sobre um inquérito policial relacionado à família Bolsonaro. Segundo a corporação, as mensagens indicam que "o núcleo político [do esquema] possivelmente se valia para obtenção de informações sigilosas e/ou ações ainda não totalmente esclarecidas".
A operação também teve como alvo o militar do Exército Giancarlo Rodrigues, cedido à Abin durante o governo Bolsonaro. Um computador que pertence à Abin foi apreendido durante a operação da PF no endereço de Rodrigues. A mulher dele, que não é alvo da operação, é servidora da Abin em Salvador.
Segundo a PF, a nova fase avançou na apuração desse núcleo político do suposto esquema, identificando os principais destinatários e beneficiários das informações produzidas ilegalmente.