Lula volta a criticar uso de algemas em deportados e reprova falas de Trump
Petista criticou declarações do estadunidense e afirmou que Brasil vai tratar questão como de direitos humanos e de repatriação
Brasília|Do R7, em Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou, nesta quarta-feira (5), o uso de correntes e algemas em brasileiros deportados dos Estados Unidos e disse que o governo vai atuar “com muito carinho” em situações como esta. “É uma questão de direitos humanos”, disse, destacando a atuação do “Itamaraty e com a Polícia Federal para ter todos os dados” dos que embarcarão no novo voo programado para chegar na sexta-feira (7), em Fortaleza.
“Nós não tratamos a coisa como deportação e, sim, como repatriação. São brasileiros que foram para lá à procura de um mundo melhor, de sorte, de emprego melhor, e não conseguiram se legalizar ou não foram aceitos pelo governo americano”, completou. Lula também reprovou falas polêmicas de Donald Trump. “É uma coisa que a gente não consegue compreender como um homem pode falar tanta coisa que não tem, muitas vezes, consequência”. Apesar disso, ponderou que o episódio do voo “não é um problema” de Donald Trump, visto que o acordo foi feito durante os governos Michel Temer, Jair Bolsonaro e Joe Biden.
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O primeiro voo com brasileiros deportados dos EUA pousou no Brasil no dia 24 de janeiro. Os cidadãos usaram algemas e correntes, o que gerou críticas por parte do governo brasileiro, que determinou a retirada dos itens. A medida fere acordo, firmado entre os dois países, que prevê o uso de algemas só em casos excepcionais. Agora, está previsto um novo voo, que deve chegar em solo brasileiro no dia 7. O Itamaraty anunciou a criação de um grupo de trabalho com autoridades estadunidenses para debater a questão.
Faixa de Gaza
Na entrevista, Lula ainda criticou o plano de Trump em assumir a Faixa de Gaza e afirmou que quem deve cuidar do espaço são os palestinos. Além disso, o líder brasileiro voltou a defender a criação do Estado Palestino, com soberania. Segundo o presidente estadunidense, os EUA querem “ter aquele pedaço de terra, desenvolvê-lo, criar milhares de empregos”.
“Vamos ser francos: os Estados Unidos participaram de tudo de incentivo ao Israel na Faixa de Gaza. Então não tem sentido o presidente dos EUA se reunir com o presidente de Israel e dizer que vai ocupar Gaza. E os palestinos vão para onde? Onde vão viver? Qual o país deles? É uma coisa praticamente incompreensível para qualquer ser humano. Eu acho que as pessoas precisam parar de falar aquilo que vem à cabeça e começar a falar aquilo que é razoável, para que a gente possa consolidar o processo de respeitabilidade, democrático e vamos deixar os outros países em paz”, destacou.
“O que aconteceu em Gaza foi um genocídio. E eu sinceramente não sei se os EUA, que fazem parte de tudo isso, seriam o país para tentar cuidar de Gaza. Quem tem que cuidar de Gaza são os palestinos, porque eles precisam ter uma reparação de tudo aquilo que foi destruído, para que possam construir suas casas, seus hospitais, suas escolas. Por isso, defendemos o Estado Palestino, a criação do Estado Palestino. O mundo não precisa de arrogância, de frases de efeito. O mundo precisa de paz”.
Moeda comum dos Brics
Na entrevista, Lula também foi questionado sobre eventual taxação caso os Estados Unidos aumentem a importação de produtos fabricados pelos países dos Brics. Trump havia dito que a medida é analisada diante de possível criação de moeda comum entre as nações. O brasileiro destacou que o estadunidense “vive de bravata” e que não pode brigar com todo mundo.
“Os Brics significam praticamente metade da população mundial, significam quase metade do comércio exterior nesse mundo, e nós temos o direito de discutir a criação, uma forma de negociação que a gente não dependa só do dólar. É importante que a gente não tenha preocupação com as bravatas de Trump, que a gente discuta o que é importante para nós. Não é o mundo que precisa dos EUA, os EUA também precisam do mundo. Os EUA precisam viver harmonicamente com o Brasil, com o México, com a China. Ninguém pode viver de bravata a vida inteira”, afirmou, destacando que haverá a aplicação de uma “política de reciprocidade” caso os EUA boicotem o Brasil com taxação.