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R7 Brasília

Objeção a acordo com a China e moeda comum põem ida de Lula ao Uruguai sob desconfiança

Parceiro mais fraco do Mercosul, Uruguai defende se abrir ao mundo; para economista, ideia de moeda comum é 'ridícula'

Brasília|Plínio Aguiar, do R7, em Brasília

Presidentes Lula (Brasil) e Alberto Fernández (Argentina) durante encontro
Presidentes Lula (Brasil) e Alberto Fernández (Argentina) durante encontro

A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Uruguai nesta quarta-feira (25) é cercada por um misto de desconfiança e prudência por parte do governo vizinho, em razão da proposta brasileira da criação de uma moeda comum com a Argentina e das objeções do Brasil às negociações de acordos bilaterais de Montevidéu com a China — o que enfraqueceria o Mercosul.

A volta de Lula à frente do Palácio do Planalto é vista, segundo os periódicos uruguaios, com ressalvas. O petista tem demonstrado mais alinhamento com a Argentina de Alberto Fernández, enquanto o Paraguai tem adotado uma postura de moderação nas relações com o Brasil. Dos quatro países fundadores do Mercosul, o Uruguai não tem o mesmo poder econômico dos vizinhos e perde força nas discussões sul-americanas.

As negociações do Uruguai de firmar um tratado de livre-comércio com a China é um dos temas centrais da viagem de Lula ao país vizinho. A possibilidade de o Uruguai ter uma relação comercial mais estreita com os asiáticos, sem a participação de outros países do Mercosul (Argentina, Brasil e Paraguai), tem causado incômodo aos demais membros.

A avaliação é que as relações comerciais do Mercosul podem ficar enfraquecidas caso a China tenha condições mais favoráveis para negociar dentro do continente. Fernández é contrário à proposta e, com a posse de Lula, o Brasil passou a questionar a ação com mais ênfase.


Um dos temores de Argentina, Brasil e Paraguai é que o Uruguai possa ter resultados mais positivos por importar produtos fora da Tarifa Externa Comum (TEC), um pacote de taxas que é aplicado em produtos e serviços negociados por todos os membros do Mercosul.

O presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou
O presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou

Durante entrevista em Buenos Aires, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o destino de sucesso da América do Sul passa pelo Mercosul. Questionado sobre o acordo entre Uruguai e China poder ser compatível com o bloco sul-americano, ele respondeu que vai avaliar isso no encontro com o presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou.


Em suas declarações sobre o tema, o presidente uruguaio tem afirmado que o Mercosul "continua sendo vital" para o país, mas disse que não pode ser impedido de ampliar os laços comerciais. "O Brasil é o nosso segundo parceiro comercial, a Argentina é o quarto, atrás dos Estados Unidos. O que não se pode exigir é uma coisa ou outra. Nós nunca dizemos ‘vamos negociar com a China ou com o Pacífico e abandonar o Mercosul’. Nunca foi essa a questão, pelo contrário", disse.

"O Mercosul é a quinta região mais protecionista do planeta. Entendemos as posições de outros países que têm interesses e posições distintas. O Uruguai precisa abrir-se ao mundo. E isso é uma visão deste governo. A gente vem caminhando e estamos nessa etapa", completou Lacalle Pou.


Além do encontro com o presidente Lacalle Pou, Lula se reúne também com o ex-presidente José Mujica e com a ex-vice-presidente e atual senadora Lucía Topolasnky. Após as agendas, o petista retorna para Brasília, de noite.

Moeda comum

Lula articula a criação de uma moeda comum para transações comerciais e financeiras com a Argentina — a ideia é que outros países também participem do modelo no futuro. A nova moeda não vai substituir o peso nem o real, portanto não se enquadra no modelo do euro, por exemplo.

"Seria um estudo de mecanismos de integração comercial", afirmou Sergio Massa, ministro da Economia da Argentina, ao jornal britânico Financial Times. "Não quero criar falsas expectativas, mas é o primeiro passo de um longo caminho que a América Latina deve percorrer."

Já o governo do Uruguai, segundo a imprensa do país, vê a proposta com ressalvas. Fontes do governo ouvidas pelo periódico El Pais dizem que a medida "é algo pouco viável em médio prazo".

O plano é criticado por especialistas uruguaios. O economista Gabriel Oddone e professor da Universidad de la República, por exemplo, já se manifestou contrário à proposta brasileira. "Uma moeda comum sem mercados (bens, trabalho e financeiros) e instituições fiscais integradas é uma ideia ridícula. A experiência do euro (precedida por meio século de cooperação e coordenação política e integração comercial) é instrutiva. Não perca tempo", escreveu nas redes sociais.

A proposta brasileira é articulada após a Argentina enfrentar dificuldade para a aceitação do peso no mercado internacional, em razão do processo inflacionário do país.

De acordo com o secretário-executivo do Ministério da Fazenda do Brasil, Gabriel Galípolo, a ideia é criar um clearing (saldo final) para o mercado do Brasil e da Argentina para não depender da aceitabilidade do peso e suprir a carência do parceiro de acesso a divisas, realizando operações em reais para os importadores argentinos que demandarão bens e serviços do Brasil com garantias.

O passo seguinte, ainda segundo o governo brasileiro, será decidir como instituir um tipo de governança coletiva sobre essa unidade de conta e meio de troca — apelidada inicialmente de "sur". Essa governança pode servir para operações comerciais entre os países da região, que possam incentivar melhores práticas de gestão monetária, inflação, sustentabilidade da relação fiscal e ambiental, entre outros pontos.

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