O ex-presidente Jair Bolsonaro durante discurso na CPAC, nos Estados Unidos
Reprodução Youtube CPACO ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que, se estivesse no comando do Brasil, "não teríamos esse problema", em relação aos navios de guerra iranianos atracados no porto do Rio de Janeiro. A declaração foi dada neste sábado (4) durante a Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC, na sigla em inglês), em National Harbor, Maryland, próximo a Washington, nos Estados Unidos.
"Somos um país de paz. Se eu fosse presidente, não teríamos esse problema agora com os navios iranianos", disse Bolsonaro. Anteriormente, o ex-presidente falava sobre a Amazônia e convidou a plateia do maior evento conservador dos EUA a conhecer a região. "Vão conhecer como ela é, não como a imprensa pinta."
No dia 23 de fevereiro, a Marinha do Brasil autorizou dois navios de guerra iranianos a atracar no porto do Rio de Janeiro. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União (DOU). A ação teve início no dia 26, e os militares devem ficar na cidade até este sábado (4). Concedida pelo vice-chefe do Estado-Maior da Armada, Carlos Eduardo Horta Arentz, a autorização contraria solicitação dos Estados Unidos para que não fosse permitida a entrada das embarcações militares em território brasileiro.
A embaixada americana no Brasil declarou preocupação por parte dos Estados Unidos sobre a presença no Brasil e afirmou que, no passado, os navios iranianos facilitaram ações terroristas e comércio ilícito na região. Em entrevistas a jornalistas em Brasília, a embaixadora Elizabeth Bagley destacou que ,apesar da soberania do Brasil em decidir, "nenhum país" deveria autorizar a ancoragem das embarcações.
O governo israelense divulgou uma nota na última quinta-feira (2) classificando a autorização brasileira como "perigosa e lamentável" e sugerindo que o governo reavaliasse a decisão.
A movimentação das embarcações iranianas vem causando atrito na relação Brasil-Estados Unidos desde a decisão do governo brasileiro em adiar a ancoragem de ambos os navios no país, um dia antes da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para encontrar o presidente americano, Joe Biden.
Em nota, o congressista Michael McCaul, do Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos EUA, avaliou como "totalmente inaceitável" a decisão do governo Lula. Segundo ele, o correto seria proibir a entrada das embarcações militares: "O Irã busca fazer mais avanços na região, e o presidente Biden deve instar o presidente Lula da Silva a rejeitar totalmente qualquer futura atracação desses dois navios".
Não é a primeira vez que o governo brasileiro ignora pedidos de nações aliadas. Recentemente, o país se recusou a atender o pedido para envio de munições à Ucrânia, favorecendo os interesses da Rússia no conflito. Lula, por sua vez, alegou que não valia a pena provocar Moscou e frisou que o objetivo do Brasil é não entrar na guerra.
Em resposta, a Alemanha vetou a exportação de 28 blindados Guarani para as Filipinas. Os tanques brasileiros possuem peças e sistemas de origem alemã. Apesar de serem fabricados em Minas Gerais, o governo alemão tem poder sobre o controle da exportação.
No dia 30 de janeiro, Lula recebeu o chanceler alemão, Olaf Scholz, e o presidente do país europeu, Frank-Walter Steinmeier, em Brasília. Na ocasião, o petista disse não ter interesse em enviar munição à Ucrânia para uso na guerra e justificou a decisão afirmando que o Brasil "é um país de paz."
A Marinha do Brasil esclareceu que o processo de autorização para a entrada de um navio estrangeiro no país é feito ao Ministério das Relações Exteriores pelo país ao qual as embarcações pertencem. Apenas após a autorização do ministério que a Marinha emite um documento oficial, publicado no DOU, autorizando a ancoragem.
*Com informações da Agência Estado