Exibição de documentário com Yoani Sánchez é suspensa por manifestações
Blogueira cubana foi recebida com protestos em Feira de Santana (BA)
Internacional|Do R7
As manifestações com que militantes de esquerda receberam nesta segunda-feira (18) em Feira de Santana (BA) a cubana Yoani Sánchez, autora do blog Generación Y, impediram a exibição do documentário Conexão Cuba-Honduras.
Cerca de 50 manifestantes, aos gritos de "traidora" e "viva a revolução!", impediram que a cubana fosse ouvida, o que obrigou os organizadores a suspenderem a exibição, que aconteceria na sala do Museu do Saber na noite de ontem.
O filme, que contém uma entrevista de Yoani e seria o primeiro ato da cubana no Brasil, é uma produção cinematográfica dirigida por Dado Galvão sobre as restrições à liberdade de expressão em diferentes países.
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Yoani é uma das principais vozes da dissidência em seu país e acabou de ser autorizada a sair de Cuba após cinco anos de tentativas frustradas.
Os militantes que interromperam a exibição do documentário levavam bandeiras de formações como PT e PCdoB e não atenderam nem mesmo aos pedidos de trégua do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que já organizou campanhas para defender a saída de Yoani de Cuba.
A ativista chegou durante a madrugada ao aeroporto de Recife, onde fez escala antes de dirigir-se a Salvador e seguir por terra até Feira de Santana, cidade que tem 557 mil habitantes.
Tanto em Recife como em Salvador, vários militantes pró-Cuba se manifestaram contra sua visita ao Brasil mostrando fotografias de Fidel Castro e de Che Guevara, assim como cartazes nos quais a chamavam de "mercenária" e "agente da CIA".
Antes das manifestações em Feira de Santana, a dissidente afirmou em seu blog que gostou de ser recebida com protestos no Brasil e disse sonhar com o dia em que "as pessoas poderão se expressar publicamente assim, sem represálias", em Cuba.
Roteiro
A viagem ao Brasil é o início de um giro de três meses por 12 países da América Latina e Europa, no qual Yoani espera que abra "uma nova etapa" em sua vida, após ser impedida de sair da ilha 20 vezes pelo governo comunista.
"Meu percurso começa no Brasil e pode incluir até 12 países. Com este giro, começa uma nova etapa da minha vida, e, jornalisticamente, também será uma experiência magnífica", declarou à AFP antes de viajar ao Brasil via Panamá.
Yoani, uma filóloga de 37 anos autora do blog Generación Y, muito elogiado e crítico do governo comunista cubano, disse que planeja visitar, em três meses, Brasil, México, Estados Unidos, República Tcheca, Itália, Espanha e Holanda, entre outros países.
Também adiantou que, nos Estados Unidos, visitará as sedes da gigante Google e das redes sociais Twitter e Facebook.
— Vou aprender tudo o que puder, e acredito que, depois desta viagem, estarei mais preparada, e que o Generación Y terá uma mudança qualitativa, porque sempre digo que na evolução está a vida.
No Twitter, ela prometeu manter seus seguidores informados sobre a programação "intensa" de seu giro, agradeceu aos países que, "com tanta delicadeza e rapidez", concederam-lhe o visto, e alertou ao governo cubano que "nem sonhe" que ela não retornará à ilha.
Reforma migratória
Yoani, que recebeu o passaporte no último dia 31 de janeiro, pôde viajar graças a uma reforma migratória que entrou em vigor em 14 de janeiro e eliminou o visto de saída e a carta-convite que, por meio século, tornaram difícil e caro para os cubanos viajar ao exterior.
"Foram cinco anos de batalha [em que o governo a impediu de deixar a ilha] para que esse absurdo terminasse. Este domingo, atingimos a meta", comemorou a blogueira, que morou na Suíça e, depois, retornou à ilha.
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Desde a entrada em vigor da reforma migratória, vários opositores solicitaram o passaporte, entre eles a líder do grupo Damas de Branco, Berta Soler — impedida em 2005, pelo líder Fidel Castro, de comparecer ao Parlamento Europeu para receber o Prêmio Sakharov, de direitos humanos —, que pretende visitar Espanha e Alemanha.
Havana acusa os blogueiros dissidentes — assim como os opositores — de serem mercenários a serviço de Washington, e Yoani de liderar a "ciberdissidência" a partir de seu blog.
O Generación Y recebeu em 2008 o Prêmio Ortega y Gasset, do jornal espanhol El País na categoria jornalismo digital. No mesmo ano, a revista Time selecionou Yoani como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo, e a rede de TV americana CNN elegeu seu blog entre os 25 melhores do planeta.
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