Famílias em luto e críticas após implosão do Titan no fundo do mar
Embarcação perdeu contato assim que iniciou a descida com cinco pessoas a bordo para ver de perto os destroços do Titanic
Internacional|Do R7
As famílias dos cinco passageiros do submersível que implodiu no fundo do Atlântico perto dos restos do Titanic estão de luto nesta sexta-feira (23), enquanto aumentam as críticas sobre possíveis negligências de segurança.
James Cameron, diretor do filme Titanic e um explorador apaixonado pelo fundo do mar, acusou na quinta-feira (22) a empresa organizadora da expedição, OceanGate Expeditions, de "ignorar" as advertências de segurança.
Mas, segundo Guillermo Söhnlein, fundador da empresa juntamente com o americano Stockton Rush, que morreu no acidente, este último "estava extremamente comprometido com a segurança".
"Mitigar riscos era parte fundamental da cultura da empresa", declarou à emissora britânica Times Radio Söhnlein, nascido na Argentina, que deixou a empresa em 2013. Ele também lembrou que o próprio Cameron visitou os destroços do Titanic várias vezes para produzir seu filme de 1997, um sucesso internacional.
Parentes de duas vítimas, o empresário Shahzada Dawood, 48 anos, e seu filho Suleman, 19, cidadão paquistanês-britânico, expressaram sua "profunda tristeza". Eles eram membros da família que fundou um dos impérios industriais mais bem-sucedidos do Paquistão.
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A família do empresário e magnata da aviação Hamish Harding, 58 anos, outra vítima da tragédia, prestou homenagem a um "explorador apaixonado" e a um "marido que amava a esposa e pai dedicado aos dois filhos".
A Guarda-Costeira dos EUA e a OceanGate Expeditions anunciaram na quinta-feira que os passageiros do submersível desaparecido desde domingo (18) morreram na "implosão catastrófica" da embarcação.
Além de Shahzada Dawood e seu filho, de Hamish Harding e do americano Stockton Rush, CEO da OceanGate Expeditions, morreu o experiente mergulhador francês Paul-Henri Nargeolet, 77 anos, apelidado de "Mr. Titanic".
"Acreditamos que nosso CEO Stockton Rush, Shahzada Dawood e seu filho Suleman, Hamish Harding e Paul-Henri Nargeolet estão infelizmente mortos", lamentou a OceanGate em um comunicado, após quatro dias de buscas que cativaram o mundo.
O "campo de detritos" encontrado por robôs de busca perto do mítico Titanic, a quase 4.000 metros de profundidade, "é consistente com uma implosão" do submersível, anunciou o contra-almirante John Mauger, da Guarda-Costeira dos Estados Unidos.
Em entrevista coletiva em Boston, ele também informou que a causa do acidente foi uma "perda catastrófica de pressão" no submersível.
Assim que o resultado foi anunciado, o Wall Street Journal revelou que a Marinha dos Estados Unidos havia detectado no domingo, logo após a perda de contato com o submarino, um sinal que indicava a provável implosão do submersível.
Verdadeiros exploradores
"Esses homens eram verdadeiros exploradores que compartilhavam um forte espírito de aventura e uma profunda paixão por explorar e proteger os oceanos do mundo", afirmou a OceanGate em um comunicado, no qual lamenta a morte do grupo.
O contra-almirante americano Mauger expressou "sinceras condolências" às famílias dos desaparecidos.
O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, James Cleverly, lamentou a "notícia trágica" no Twitter e expressou "apoio" às famílias e suas "profundas condolências" em nome do governo.
Estados Unidos e Canadá mobilizaram grandes recursos até a manhã de quinta-feira, incluindo aeronaves C-130, P3 e naves equipadas com robôs submarinos, para continuar as buscas em suas costas, onde foi localizado o Polar Prince, navio de apoio do submersível de turismo.
A área de busca na superfície se estendeu por mais de 20 mil km².
Possíveis negligências
O submersível Titan, de 6,5 metros de comprimento, mergulhou no domingo, mas perdeu a comunicação menos de duas horas após o início do passeio turístico. Tinha uma autonomia teórica de 96 horas de oxigênio.
Em meio às buscas durante a semana, foram divulgadas informações que comprometiam a OceanGate por possíveis negligências técnicas em relação ao submersível.
Uma ação civil nos Estados Unidos em 2018 mostra que um ex-diretor da empresa, David Lochridge, foi demitido após expressar sérias dúvidas sobre a segurança do Titan.
A OceanGate, que fabricou e operou o submersível e que cobrava 250 mil dólares por assento (R$ 1,1 milhão, na cotação atual), levava turistas aos destroços do Titanic, cujo naufrágio matou quase 1.500 pessoas em uma das maiores catástrofes marítimas da história.
Após a tragédia, a organização Titanic International, que trabalha para preservar a história do mítico transatlântico, pediu o fim das expedições turísticas.
"É hora de considerar seriamente se as viagens humanas ao naufrágio do Titanic devem acabar em nome da segurança", afirmou a organização no Facebook, defendendo "veículos submarinos autônomos".
Os destroços do transatlântico, a quase 600 km do continente, tornaram-se um lugar de sonho para aventureiros e turistas ricos e intrépidos desde que foram descobertos, em 1985.