Israel e Irã trocaram ataques aéreos entre a noite de sexta-feira (13) e a manhã deste sábado (14). As ofensivas mútuas começaram depois que as Forças de Defesa israelenses lançaram uma série de bombardeios, que começaram ainda na madrugada de sexta, sobre o território iraniano.O Irã disse que 78 pessoas morreram, incluindo mulheres e crianças, e mais de 320 ficaram feridas pelos ataques israelenses. Já Israel afirmou que os contra-ataques iraquianos deixaram três mortos e dezenas de feridos.Líderes de Israel dizem que a ofensiva é uma medida preventiva às intenções do Irã de desenvolver armas nucleares. Teerã, por sua vez, nega a alegação há anos, afirmando que o programa nuclear do país possui somente fins pacíficos.Hoje, as duas potências do Oriente Médio protagonizam uma das rivalidades mais intensas do mundo, mas, no passado, os países foram aliados próximos e compartilharam interesses estratégicos, com trocas de petróleo, armas e até cooperação em inteligência.Após a criação do Estado de Israel, em 1948, o Irã, então sob a monarquia do Xá Mohammad Reza Pahlavi, foi um dos primeiros países a reconhecer Israel, mesmo que de forma não oficial. Durante a Guerra Fria, o Irã, então alinhado aos Estados Unidos, via em Israel um parceiro estratégico contra o nacionalismo pan-árabe, que ameaçava ambos. Essa relação foi formalizada na chamada “Doutrina da Periferia”, estratégia israelense dos anos 1950 e 1960 para formar alianças com países não árabes, como Irã, Turquia e Etiópia.Documentos da CIA, a Agência Central de Inteligência dos EUA, citados pelo jornal indiano The Economic Times, dizem que Israel e Irã desenvolveram laços econômicos e de segurança nas décadas de 1960 e 1970.O Irã fornecia cerca de 70% do petróleo bruto consumido por Israel, especialmente após a Guerra dos Seis Dias (1967), quando nações árabes impuseram boicotes. Em troca, Israel oferecia tecnologia agrícola, assessoria militar e treinamento às Forças Armadas iranianas, ajudando a estruturar o complexo militar-industrial do país. O Mossad, serviço de inteligência israelense, colaborava com a SAVAK, agência de espionagem iraniana, compartilhando informações estratégicas.A relação também beneficiava a comunidade judaica no Irã, que, na época, era a segunda maior fora de Israel, com cerca de 90 mil pessoas. Israel apoiava os judeus iranianos, enquanto o Irã via vantagens em manter laços com um aliado ocidental para contrabalançar a oposição interna liderada pelo aiatolá Khomeini.Tudo mudou com a Revolução Iraniana de 1979, que derrubou a monarquia e instaurou a República Islâmica sob o aiatolá Ruhollah Khomeini. Segundo a rede Al Jazeera, o novo regime rompeu todos os laços com Israel, expulsou diplomatas israelenses e entregou a embaixada de Israel em Teerã à OLP (Organização para a Libertação da Palestina). A retórica anti-Israel tornou-se central na política iraniana, reforçada pelo atual líder supremo, aiatolá Ali Khamenei. O Irã passou a apoiar grupos armados contrários a Israel, como os terroristas do Hezbollah, no Líbano, do Hamas, na Faixa de Gaza, e dos Houthis, no Iêmen. Na década de 1980, durante a Primeira Guerra do Líbano (1982), a Guarda Revolucionária Iraniana treinou milícias libanesas, fortalecendo o Hezbollah como um “braço” do Irã na região.Curiosamente, mesmo após a Revolução de 79, houve momentos de cooperação secreta entre os dois países. Durante a Guerra Irã-Iraque (1980-1988), Israel, temendo mais o Iraque de Saddam Hussein, facilitou a venda de armas ao Irã, segundo o The Economic Times. Esse episódio, parte do escândalo Irã-Contras, revelou que Israel intermediou transferências de armas para o Irã em troca de ajuda na libertação de reféns norte-americanos no Líbano. A CIA, em um relatório de 1985, disse que Israel via no Irã uma forma de prolongar o conflito com o Iraque, mantendo Bagdá ocupada.A partir dos anos 1990, a rivalidade se intensificou. O programa nuclear iraniano tornou-se uma preocupação central para Israel, que passou a ver o Irã como uma ameaça existencial e, desde os anos 2000, realizou ataques pontuais a instalações nucleares de Teerã.Os ataques israelenses lançados desde sexta-feira tiveram como alvo instalações nucleares e militares e residências de altos comandantes do Irã. A capital Teerã e outras cidades, como Natanz, Tabriz, Kermanshah, Arak e Isfahan, foram atingidas, segundo a mídia estatal iraniana.A instalação de enriquecimento de urânio em Natanz, ponto-chave do programa nuclear iraniano, foi danificada pelos ataques, segundo autoridades iranianas. A AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) disse que não foram detectados níveis elevados de radiação no local.Os bombardeios israelenses mataram Mohammad Bagheri, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas iranianas, Hossein Salami, comandante do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica. Israel diz que outros 18 comandantes e nove cientistas envolvidos no programa nuclear de Teerã também foram mortos.Em ataques retaliatórios, a Guarda Revolucionária do Irã lançou mísseis balísticos contra cidades como Tel Aviv, a maior de Israel, e Jerusalém. Autoridades israelenses disseram que a maioria dos 100 mísseis iranianos foi interceptada, mas confirmaram que prédios foram atingidos. Imagens que circulam na internet mostram a destruição.Fique por dentro das principais notícias do dia no Brasil e no mundo. Siga o canal do R7, o portal de notícias da Record, no WhatsApp