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Nada, fala mandarim e é amiga de Musk: quem é Alice Weidel, a líder do partido mais conservador da Alemanha

Política é uma das figuras favoritas da nova administração dos Estados Unidos, com o apoio do bilionário

Internacional|Christopher F. Schuetze, do The New York Times

Vídeo promocional mostra Alice Weidel, líder do partido nacionalista Alternativa para a Alemanha Sergey Ponomarev/The New York Times

Berlim – Quando o vice-presidente J.D. Vance criticou seus anfitriões alemães na semana retrasada por marginalizar os partidos da direita radical, não mencionou o nome do Alternativa para a Alemanha, partido conhecido como AfD.

Mas, logo depois de seu discurso na Conferência de Segurança de Munique, no qual surpreendeu a plateia ao comparar a democracia da Europa atual com o totalitarismo da era soviética, Vance se reuniu com Alice Weidel, 46 anos, líder do AfD.

Weidel, de 46 anos, ex-analista de investimentos que cria dois filhos na Suíça, tornou-se o rosto inesperado do AfD.

Seu partido nacionalista faz campanha com uma plataforma anti-imigração e define a família como um pai e uma mãe criando os filhos. Uma das figuras favoritas da nova administração dos Estados Unidos — com o apoio de Elon Musk —, tem sido imprescindível nas iniciativas do AfD de se inserir na corrente dominante, ajudando a impulsionar o partido, que conquistou um segundo lugar confortável na eleição nacional do último dia 23.


Weidel, cujos suéteres de gola rolê, camisas de colarinho aberto e colares de pérolas se tornaram sua marca registrada, conferiu uma imagem mais cosmopolita a um partido comumente associado a neonazistas e a conspirações para derrubar o Estado.

Mas seu AfD não é menos extremo. “Com Alice Weidel no comando, o partido tem se tornado cada vez mais radical”, disse Ann-Katrin Müller, especialista no AfD que trabalha para o Der Spiegel, um dos mais importantes veículos de notícias da Alemanha.


O AfD ficou à frente do Partido Social-Democrata, de centro-esquerda, de Olaf Scholz, chanceler atual, e atrás do conservador União Democrata-Cristã – que venceu na eleição –, de Friedrich Merz, novo mandatário

Esses partidos insistem que nunca se associariam ao AfD. Mas Weidel tem sido bem-sucedida em suas ações para apresentá-lo como apenas mais um partido; a última delas foi no dia 16 de fevereiro, quando participou de um debate televisionado com seus concorrentes tradicionais, entre os quais Robert Habeck, candidato do Partido Verde.


A impressão geral foi de que o desempenho de Weidel foi irregular, mas ainda assim ela saiu vitoriosa — foi a primeira vez que o AfD recebeu um convite para participar de um evento desse tipo, visto por milhões de eleitores. Em determinado momento da campanha, entre os candidatos a chanceler de todos os partidos, ela despontou nas pesquisas como o mais popular.

A favor de deportações

Mas se o ar professoral de Weidel e sua história pessoal sugerem um abrandamento da linha do partido, sua linguagem indica o contrário. Prometeu demolir turbinas eólicas e demitir professores de estudos de gênero.

Já falou em “remigração”, termo usado pela direita que é amplamente interpretado como um código para deportações. “Que fique totalmente claro para o mundo inteiro: as fronteiras alemãs estão fechadas”, afirmou diante de uma multidão entusiasmada durante sua nomeação oficial como candidata do AfD, no mês passado.

Weidel se recusou a conversar com o The New York Times para esta reportagem. Em entrevistas concedidas à mídia alemã, tem se mostrado alternadamente encantadora e mordaz. Vem se recusando sistematicamente a se distanciar dos membros mais extremistas de seu partido, alguns dos quais minimizaram o Holocausto e o passado nazista da Alemanha.

“Ela e as pessoas por trás dela agora dominam o partido — e estão ideologicamente muito próximas de Björn Höcke”, frisou Müller, em referência a um líder estadual do AfD que foi autuado por um tribunal por usar linguagem nazista. No dia 16 de fevereiro, Weidel declarou ao Bild, maior tabloide da Alemanha, que colocaria Höcke em seu gabinete caso se tornasse chanceler.

Weidel cresceu em uma família católica de classe média em Harsewinkel, cidade na Renânia do Norte-Vestfália, no oeste da Alemanha, com dois irmãos e um cachorro da raça dachshund. O pai era vendedor e a mãe, dona de casa.

O avô era membro do partido nazista e foi nomeado juiz militar na Varsóvia ocupada, segundo reportou o Die Welt, jornal conservador. Weidel declarou que não conheceu o avô, que morreu quando ela estava com seis anos, e que o passado nazista nunca foi um tema de discussão em sua família.

Enquanto concluía um doutorado em economia na Baviera, passou um período na China. Segundo o próprio relato, aprendeu mandarim. Depois, trabalhou como analista nos bancos de investimento Credit Suisse e Goldman Sachs. Em entrevistas à mídia alemã, falou sobre seu amor pelo feng shui — e pela natação e pelo tênis quando era menina.

Oficialmente, divide seu tempo entre sua casa em uma cidade pequena no centro da Suíça e outra em seu distrito eleitoral, às margens do lago de Constança, no sul da Alemanha. Mas admitiu que não passa muito tempo no endereço alemão. Afirma que o motivo é a preocupação com a segurança.

Embora tenha obtido avanços, seu partido continua sendo alvo de indignação pública em um país onde a maioria dos alemães acredita que o AfD deve ser rejeitado.

Fala inglês e é amiga de Musk

Sua ausência da Alemanha se tornou um assunto delicado para a líder de um partido nacionalista. Weidel abandonou uma entrevista exibida na semana passada por uma emissora pública quando lhe perguntaram quantas noites havia passado em seu endereço no país.

Na mesma entrevista, admitiu não saber quantas pessoas vivem no distrito que ela representa como deputada.

Em novembro, disse a um grupo de líderes empresariais em Zurique que sua situação de segurança se tornara tão difícil que até mesmo sair espontaneamente para dançar ou jantar com sua mulher, Sarah Bossard, cineasta, era complicado. “Sou incrivelmente grata a ela por suportar isso”, comentou.

Embora tenha sido questionada diversas vezes, Weidel se recusa a explicar como concilia a aparente contradição entre sua vida pessoal e a visão de sociedade que seu partido defende.

“Não sou queer, mas sou casada com uma mulher que conheço há 20 anos”, afirmou ela a um entrevistador no último verão setentrional, usando a palavra em inglês. Segundo especialistas, o fato de a vida pessoal de Weidel contrariar a ortodoxia do AfD na verdade reforça sua posição como representante do partido e faz com que este pareça mais alinhado à corrente dominante.

“Weidel se tornou o rosto do partido por causa de sua biografia e sua trajetória, bem como por sua capacidade de falar de forma clara – ainda que sem muita empatia”, observou Werner Patzelt, cientista político que estuda o AfD há anos.

Weidel entrou para o AfD em 2013, quando o partido era praticamente voltado para uma pauta única: a oposição à moeda comum europeia. Com o tempo, ascendeu até concorrer ao cargo de chanceler — a primeira candidatura do partido. Nunca havia ocupado uma posição no governo, em parte porque nenhum partido aceita trabalhar com o AfD. Foi eleita deputada pela primeira vez em 2017.

Mesmo antes de assumir sua nova posição de destaque, Weidel já era uma presença constante em debates políticos na TV alemã. Defende que seu partido é libertário, e não nacionalista de direita, posição que a coloca em conflito com alguns dos membros mais radicais do AfD.

Seu inglês fluente a ajudou a construir uma relação com Musk, bilionário e conselheiro do presidente Donald Trump, que a entrevistou no X, sua plataforma de mídia social.

Musk surpreendeu o partido em dezembro ao aparecer em uma tela gigante durante um evento de campanha em Halle, apoiando o AfD e dizendo aos membros reunidos que os alemães tinham um “foco excessivo na culpa passada”.

O empresário causou polêmica ao fazer um gesto amplamente interpretado como uma saudação nazista em um comício de apoiadores depois da posse de Trump. Durante toda a entrevista no X, Musk retratou Weidel como “uma pessoa muito razoável” e buscou distanciá-la, assim como o AfD, do nazismo.

Apesar dos esforços para minimizar as associações com o passado nazista, alguns integrantes do partido parecem não ter captado a mensagem. Quando Weidel subiu ao palco em Halle, a multidão começou a entoar um grito que fazia uma alusão nada sutil a um slogan nazista: “Tudo pela Alemanha”, frase que era gravada nas facas dos soldados de assalto nazistas e que hoje é proibida no país. Em seguida, fez uma alteração ligeira e gritou: “Alice pela Alemanha!”

(Jim Tankersley contribuiu para a reportagem.)

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