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Primeira Guerra: Há 100 anos tinha fim o conflito que mudou o mundo

Com participação de cerca de 70 países, a guerra encerrada em 11 de novembro de 1918 foi o primeiro conflito militar em escala global e industrial

Internacional|Cristina Charão e Eugenio Goussinsky, do R7

Soldados norte-americanos do 64º Regimento comemoram fim da Primeira Guerra
Soldados norte-americanos do 64º Regimento comemoram fim da Primeira Guerra

Há cem anos, o mundo comemorava o armistício que decretou o fim da Primeira Guerra Mundial, o conflito mais letal da história até então.

Enquanto o som das bombas, aviões, dirigíveis, metralhadoras, canhões e tanques de guerra deixava de ser ouvido em boa parte da Europa, o mundo tentava se reorganizar diante de duas heranças dos combates: o esfacelamento de grandes impérios da Europa e da Ásia e um novo padrão de conflitos, a guerra em escala industrial.

A Primeira Guerra teve a participação de 70 países. Cerca de 70 milhões de combatentes estiveram nos campos de batalha, acompanhados de tecnologias até então nunca usadas em grande escala.

As estratégias militares, porém, não acompanharam os avanços tecnológicos, o que contribuiu ainda mais para a letalidade da guerra, que causou cerca de 10 milhões de mortes e deixou cerca de 20 milhões de feridos.


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Seu fim, marcado pelo armistício de 11 de novembro e a assinatura do Tratado de Versalhes, determinou uma mudança radical na geopolítica mundial.

O conflito foi o que mais mudou o mapa da Europa na Era Moderna, com a extinção de quatro impérios: Alemão, Austro-Húngaro, Otomano e Russo.


Também deixou suas marcas nos mapas do Norte da África e, de forma decisiva, no Oriente Médio.

Duas heranças que, poucos anos depois, alimentaram a segunda grande guerra e, um século depois, ainda ecoam nos conflitos contemporâneos.


A partir de hoje, o R7 publica uma série de reportagens que apresentam a Primeira Guerra e suas consequências, que reverberam até hoje.

Uma guerra que começa, contraditoriamente, com o progresso e a bonança dos primeiros anos do século XX.

Paz aparente e corrida bélica

Nos anos que antecederam a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a Europa vivia em aparente paz. Desfrutava dos ganhos econômicos da Revolução Industrial e ampliava mercados com a conquista de territórios na África e na Ásia.

Mas os elementos que pareciam garantir essa paz estavam decadentes e até favoreceram o início dos combates. Pairava no ar um clima de desconfiança entre as grandes potências.

Aproveitando-se do avanço tecnológico, o então Império Alemão, Rússia, Reino Unido, França e Itália, além dos impérios Austro-Húngaro e Otomano, começaram a armar seus exércitos com arsenais modernos.

Para a professora de História e mestre em Educação pela USP (Universidade de São Paulo), Daniela Molina, havia uma tensão por trás do que parecia ser harmonia.

— O período que antecedeu a Primeira Guerra foi caracterizado por um grande acirramento das rivalidades econômicas entre as principais potências europeias, por uma corrida armamentista nunca antes vista na Europa, pelas disputas econômicas por novos mercados e pela eclosão dos movimentos nacionalistas. Essas grandes tensões revelam que a paz, no contexto europeu do início do século XX, era apenas aparente.

Nos anos 1910, potências investiam em novas tecnologias de guerra, como aviões
Nos anos 1910, potências investiam em novas tecnologias de guerra, como aviões

O equilíbrio através das armas era, como historicamente se comprova, uma ilusão. Da mesma forma, as tentativas de manter a paz pela diplomacia, por meio das alianças entre potências, também se mostraram tiros que saíram pela culatra.

Em 1882, o Império Alemão, o Austro-Húngaro e a Itália formaram a Tríplice Aliança. E em 1907, França, Reino Unido e Rússia formaram a Tríplice Entente.

No lugar de garantir a paz, essas iniciativas deram o suporte para o confronto que viria a seguir. Mostrou quem estava ao lado de quem e aproximou o continente da guerra.

As alianças aglutinaram interesses que passaram a ser compartilhados entre os países. Quem fosse contrariado, poderia reagir em bloco, na base do "um por todos e todos por um."

Então, o que deveria servir para promover a paz virou uma ameaça. Os países passaram a temer o poderio bélico de seus rivais. E alguns descontentamentos emergiram. Assim como os nacionalismos.

Um campo minado que começou a explodir em 1914 e só cessou de matar milhões em 1918.

Dia do Armistício

Em 11 de novembro de 1918, a manchete mundial era a rendição da Alemanha
Em 11 de novembro de 1918, a manchete mundial era a rendição da Alemanha

O armistício que suspendeu as hostilidades entre a Alemanha e os Aliados — França, Grã-Bretanha, Estados Unidos e, do meio da guerra em diante, a Itália — foi assinado dentro do trem que servia de base para o comandante-geral das forças aliadas, Ferdinand Foch, estacionado na Floresta de Compiègne.

As negociações começaram no dia 8 de novembro. Os alemães tinham 72 horas para comprovar que cediam a todas as condições impostas pelos Aliados. Para além do cessar-fogo e do desarmamento da Alemanha, as exigências incluíam dissolução do Império Alemão e o estabelecimento de uma república. No dia 9, o imperador Guilherme II renunciou.

Às 5 horas do dia 11 de novembro de 1918, alemães e aliados assinaram o acordo. O cessar-fogo foi marcado para as 11 horas do mesmo dia.

As manchetes dos jornais ao redor do planeta destacavam a humilhação da Alemanha e, claro, a paz — que no entanto demoraria ainda meses para alcançar diversos fronts da guerra no Oriente e duas décadas depois seria quebrada pela eclosão da Segunda Guerra Mundial.

Mas nas ruas de centenas de cidades em todo o mundo, ninguém poderia saber disto. O que se viu em 11 de novembro de 1918 foram multidões formadas por pessoas de várias origens, falantes de diferentes línguas, crentes de diferentes religiões estavam reunidas comemorando o fim da Primeira Guerra Mundial.

Ouça o momento do fim da Primeira Guerra

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