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Tecnologia e Ciência

Falência bilionária, investigações e fraudes: 2022 foi o ano que quebrou o bitcoin

Criptomoedas enfrentaram forte desvalorização, pressão de juros e a quebra de confiança das maiores corretoras do setor

Tecnologia e Ciência|Do R7, com Reuters

Criptomoeda perdeu mais de 60% do valor em 2022
Criptomoeda perdeu mais de 60% do valor em 2022

O bitcoin capotou em 2022, terminando o ano caído em um beco, perdendo a fama de dinheiro fácil e apostas alavancadas e evitado pelos investidores.

A criptomoeda perdeu 60% de seu valor, enquanto o mercado mais amplo encolheu US$ 1,4 trilhão (R$ 7,28 trilhões), esmagado pelo aumento das taxas de juros, além do desaparecimento do interesse em negócios de risco abalados por colapsos de empresas do setor que incluíram a FTX, de Sam Bankman-Fried.

Os fundos de criptomoedas registraram entradas líquidas de US$ 498 milhões (R$ 2,6 bilhões) em 2022, contra US$ 9,1 bilhões (R$ 47,3 bilhões) em 2021, de acordo com dados da gestora de ativos digitais CoinShares, refletindo como as finanças convencionais se afastaram do mercado.

James Malcolm, diretor de estratégia de câmbio do UBS, afirmou que durante o primeiro semestre do ano ele passou 70% de seu tempo com clientes interessados em criptomoedas. Em contraste, no mês passado, durante dez dias de Montreal a Miami "eu passei menos de 2% do meu tempo discutindo cripto".


Mesmo no ano passado, antes do colapso começar em novembro, as criptomoedas eram vistas como distantes dois ou três anos de ganharem aceitação de grandes investidores institucionais, disse Malcolm.

"Agora isso está completamente em um futuro muito distante."


Erros e fraudes

As maiores corretoras de criptomoedas também enfrentaram problemas colossais de confiabilidade, principalmente nos últimos meses do ano. O maior caso do tipo explodiu em novembro: a FTX, uma das maiores empresas do setor, declarou falência após uma série de erros de seu fundador, o jovem Sam Bankman-Fried.

Considerado um militante cripto, Sam interveio para tentar salvar outras corretoras do setor, como a BlockFi e a Voyager Digital, que enfrentavam problemas causados pelos sucessivos aumentos de taxas de juros nos Estados Unidos — uma das causas da crise das big techs.


Após uma série de erros administrativos, o que incluiu operações financeiras com a empresa irmã Alameda Research, a líder de criptomoedas Binance se propôs a adquirir a FTX, em resposta a um pedido de ajuda. Segundo Changpeng Zhao, presidente da Binance, a FTX enfrentava problemas de liquidez e não podia mais garantir financeiramente as operações de seus clientes.

Zhao desistiu do negócio após detectar os problemas financeiros da empresa — e, possivelmente, para evitar o escrutínio de agências reguladoras durante negócios grandes do tipo.

A desistência do negócio precipitou a queda da FTX, que culminou em um pedido de falência e a posterior prisão de Sam Bankman-Fried, nas Bahamas.

Sam Bankman-Fried, fundador da FTX, foi preso nas Bahamas em novembro
Sam Bankman-Fried, fundador da FTX, foi preso nas Bahamas em novembro

A BNB Chain, uma blockchain descentralizada que, no passado, foi ligada à Binance enfrentou problemas. Em outubro, teve US$ 100 milhões roubados por hackers. Além disso, foi investigada pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que suspeitou de lavagem de dinheiro. A BNB Chain, embora tenha sido criada pela Binance, é independente. A assessoria informou que o hack da BNB Chain não afetou os usuários da Binance.

Na ocasião, para escapar de uma inspeção extensa nas contas da empresa, o CEO Changpeng Zhao (conhecido como CZ) criou a Binance.US, isolada juridicamente da matriz. Mas agências reguladoras identificaram que a nova empresa era igualmente comandada por CZ do exterior.

A investigação federal permanece ativa e pode ser uma dor de cabeça para a empresa e seu fundador também no ano que vem.

2023

No entanto, este ano não foi tão ruim para as criptomoedas quanto pode ter parecido: 2022 também foi o ano em que a blockchain ethereum finalmente lançou sua mega-atualização conhecida como "Fusão", que a mudou em setembro para um sistema de "prova de participação", com menor gasto de energia.

“Este evento foi... um dos únicos eventos positivos em um ano que, de outra forma, foi bastante sombrio para as criptomoedas”, disse Anthony Georgiades, cofundador da blockchain Pastel Network.

"Esta atualização vai tornar o ecossistema Ethereum bem mais fácil de usar por pessoas ao redor do mundo. Por causa deste progresso, é difícil não ser otimista sobre criptomoedas em 2023", acrescentou.

Ben McMillan, diretor de investimentos da IDX Digital Assets, disse que a crescente popularidade das ferramentas baseadas em blockchain, incluindo trocas e finanças descentralizadas, também foi um desenvolvimento importante neste ano.

“Portanto, isso é muito positivo para o ecossistema e algo para ficar de olho a longo prazo”, acrescentou. “Podemos ver alocações maiores para ativos digitais assim que o apetite pelo risco for retomado em 2023.”

Bitcoin encontra recessão

A cotação do bitcoin atingiu um recorde de US$ 69 mil (R$ 358,9 mil) em novembro de 2021, com o mercado de criptomoedas valendo US$ 3 trilhões. A moeda foi impulsionada por estímulos fiscais e monetários de países ao redor do mundo que tentavam evitar os danos econômicos causados por suas próprias medidas de isolamento social.

Mas, à medida que as sociedades retomaram as atividades, o aumento da inflação forçou os bancos centrais a apertar as taxas e isso levou os investidores a fugirem de ativos de alto risco, como ações de empresas de tecnologia e criptomoedas.

Changpeng Zhao é o presidente e fundador da Binance
Changpeng Zhao é o presidente e fundador da Binance

O bitcoin, longamente tido como sendo uma moeda de reserva de valor em tempos de inflação por causa de sua oferta limitada, fracassou no primeiro teste, e os investidores abandonaram a criptomoeda por tradicionais portos seguros como o dólar.

"O ano de 2022 foi um novo ambiente para ativos digitais. Eles nunca estiveram em uma recessão ou em um ambiente de aumento das taxas", disse Katie Talati, diretora de pesquisa da empresa de ativos digitais Arca.

À medida que os investidores retiravam seus investimentos em criptomoedas, grandes projetos ficaram sob tensão. O primeiro a quebrar foi a terraUSD, supostamente uma "stablecoin", e sua irmã luna. O valor das moedas caiu em maio, e os investidores perderam globalmente cerca de U$ 42 bilhões (R$ 218,4 bilhões).

As ondas de choque reverberaram pelo mercado: o banco de criptomoedas norte-americano Celsius congelou os ativos dos clientes em junho e revelou um rombo de US$ 1,2 bilhão ao declarar insolvência, puxando o fundo de hedge de criptomoedas Three Arrows Capital, com sede em Cingapura, para o buraco.

Após a queda da FTX, o bitcoin e outros ativos digitais foram triturados, caindo mais da metade em apenas 49 dias desde o fim de maio. Em um único dia de junho, a maior criptomoeda do mundo caiu mais de 15%, seu pior dia desde março de 2020, quando a onda de Covid-19 agitou os mercados financeiros. O bitcoin agora está pairando em torno de US$ 16 mil.

ASSISTA ABAIXO: Falência de corretora de criptomoedas afeta cerca de 1 milhão de clientes

No geral, 2022 foi praticamente uma calamidade para as criptomoedas. Ou, como diz a economista Noelle Acheson, "o ano em que a bolha inflada pela alavancagem estourou, revelando as fraquezas estruturais de uma indústria que cresceu muito, muito rápido".

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