Ações da PRF, gritaria e relação com Bolsonaro; veja principais pontos do depoimento de Vasques na CPMI
Ex-diretor-geral da PRF falou na CPMI do 8 de Janeiro e explicou operações policiais no Nordeste no segundo turno das eleições
Brasília|Hellen Leite, do R7, em Brasília
Primeiro a depor à CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do 8 de Janeiro, o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques negou nesta terça-feira (20) que atrapalhou eleitores no Nordeste na eleição presidencial do ano passado, falou sobre a relação com o ex-presidente Jair Bolsonaro e se manifestou sobre as supostas omissões por ter permitido bloqueios em rodovias federais em protesto pelo resultado do segundo turno. O R7 destacou os principais pontos do depoimento, que foi marcado por bate-boca e gritaria.
O que se falou muito é que a PRF%2C no segundo turno da eleição%2C direcionou a fiscalização para o Nordeste brasileiro. Isso não é verdade. Não é verdade porque o Nordeste é o local onde temos nove estados%2C nove superintendências%2C temos a maior estrutura da PRF no Brasil%2C a maior quantidade de unidades da PRF. Nos estados do Nordeste é onde se encontra hoje%2C lotado%2C o maior número de efetivos da instituição e são os estados brasileiros onde está a maior malha viária de rodovias federais.
Operações no Nordeste
Vasques negou que as ações policiais tenham sido direcionadas e justificou que o volume de operações foi planejado para evitar crimes eleitorais.
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Ele também justificou que as ações na região às vésperas das eleições ocorreram porque o local concentra a maior quantidade de acidentes com vítimas nos estados e o maior número de crimes eleitorais. "O Nordeste é onde, infelizmente, nas últimas cinco eleições foram feitas as maiores quantidades de prisões acerca de crimes eleitorais", disse.
Vasques mostrou dados de um dossiê com mais de 300 páginas e alegou que a PRF registrou 900 multas no período das eleições no Nordeste e, junto com a região Norte, concentrou a menor taxa de fiscalização do país.
Onde mais se fiscalizou foi no Sudeste%2C depois no Sul e no Centro-Oeste. E o Nordeste%2C empatado com o Norte%2C ficou em quarta posição. Tivemos%2C em média%2C 25 locais de fiscalização no Nordeste no segundo turno.
Os dados foram contestados pela relatora da comissão, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), que citou informações do Ministério da Justiça, divulgadas em abril, que mostram desvios de padrão relacionados à atuação da PRF no segundo turno das eleições presidenciais.
Segundo o ministério, foram fiscalizados 2.185 ônibus no Nordeste, no dia 30 de outubro do ano passado. Na região Centro-Oeste, foram 893 ônibus; no Sul, 632; no Sudeste, 571; e no Norte, 310.
Relação com Bolsonaro
Silvinei também comentou que a relação que tinha com o ex-presidente Jair Bolsonaro era profissional. Além disso, justificou que as fotos que tem com o ex-chefe do Executivo só foram possíveis porque Bolsonaro "foi o único presidente que autorizou" os registros e que ter uma foto ao lado do presidente da República "emociona" os policiais.
"Eu nunca fui em nenhuma festa dele, por exemplo, da filha dele mais nova. Não sou padrinho, não sou parente. Nunca votei nele, porque meu título de eleitor está e sempre esteve em Florianópolis. O que a gente tinha era uma relação muito profissional", disse.
O ex-diretor é réu em um processo que corre na Justiça do Rio de Janeiro, sob acusação de improbidade administrativa. A denúncia foi oferecida pelo Ministério Público Federal, que alegou que Vasques fez uso indevido do cargo em benefício eleitoral do ex-presidente Jair Bolsonaro ao fazer uma postagem nas redes sociais em que votos para Bolsonaro durante a campanha eleitoral. "Eu sou um cidadão. Nunca cometi crime eleitoral. Usei o meu celular, minha rede social, no meu horário de folga", disse.
Silvinei comentou que recebeu algumas ligações de Bolsonaro, mas todas para tratar de serviços públicos, principalmente quando o ex-presidente ia às ruas ou para pedir melhorias à carreira de policial rodoviário federal.
Eu não tenho nenhuma relação íntima com o [ex-]presidente da República e quando falei com ele pessoalmente em algumas vezes foi para pedir reestruturação [de carreiras]%2C um orçamento maior. Foram essas as conversas%2C a gente não tinha nada mais do que isso.
Processos disciplinares e críticas à imprensa
Silvinei também disse que não foi notificado sobre os processos disciplinares e administrativos na Corregedoria da Polícia Rodoviária Federal. Em abril, veio à tona que o ex-corregedor da PRF Wendel Benevides Matos escondeu da Controladoria-Geral da União (CGU) 23 denúncias que envolviam o ex-diretor-geral. "Isso é uma fake news da imprensa. Não existiu isso", comentou.
A relatora insistiu na pergunta, alegando possível contradição de Vasques, mas ele se irritou. "Não posso acreditar em conversa de corredor e imprensa mentirosa", disse. "Se existe algum processo, os colegas estão trabalhando, e eu serei notificado."
Bate-boca e gritaria
Em outro momento do depoimento, uma pergunta de Eliziane a Silvinei irritou parlamentares da oposição e gerou um bate-boca na comissão (veja no vídeo abaixo). A confusão começou quando a relatora questionou sobre uma condenação de Vasques por agressão a um frentista de um posto de gasolina, em 2012.
Nesse momento, parlamentares da oposição alegaram que Eliziane estaria tentando persuadir Vasques a responder perguntas sem relação com os atos antidemocráticos. "Ela está pressionando o depoente", afirmou o deputado Delegado Éder Mauro (PL-PA).
"Eu não vou aceitar que parlamentar nenhum aqui tente cercear minha voz. Deputado, Vossa Excelência nem é integrante desta comissão. Então, simplesmente se cale, porque neste momento quem está falando é a relatora. Vá gritar em outro lugar. Cale a sua boca", respondeu Eliziane.
Por causa da confusão, o presidente do colegiado, Arthur Maia (União-BA), suspendeu a reunião por cinco minutos. "Não vou permitir essa balbúrdia", disse.
Bloqueios de rodovias
Sobre os bloqueios em rodovias após o segundo turno das eleições, realizados por apoiadores de Bolsonaro, Silvinei negou que tenha havido omissão da PRF. A primeira interdição foi registrada em Mato Grosso do Sul, por volta das 21h15 do dia 30 de outubro — cerca de uma hora e meia após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter anunciado que Lula estava matematicamente eleito. Após isso, o país chegou a registrar mais de 1.300 pontos de bloqueios em diversos estados.
"Foi a maior manifestação de bloqueios em rodovias do mundo. Começou com um ou dois bloqueios, e, quando foi de manhã, já eram 200. A gente estava saindo de uma grande operação, não estávamos prevendo isso. Não havia qualquer informação em relatórios dos órgãos de inteligência de que, após o período eleitoral, haveria manifestação em rodovia", afirmou.
Silvinei também defendeu os policiais rodoviários federais que agiram em apoio a manifestantes apoiadores do ex-presidente que protestavam em rodovias. "Aqueles policiais, que são alvo de investigação na Corregedoria, tiveram um histórico muito bonito na instituição, infelizmente, falaram mal", comentou.
“A gente procurou fazer o máximo possível. Era difícil, tinha criança, idoso, pessoas com trator, índios. Quase 5.000 pessoas e dois policiais para fazer a contenção. É difícil chegarem dois colegas na frente de 5.000 pessoas, algumas alteradas, e dizer que elas iam ter que sair [do protesto que bloqueava rodovias]", afirmou Silvinei.
A gente procurou fazer o máximo possível. Era difícil%2C tinha criança%2C idoso%2C pessoas com trator%2C índios. Quase 5.000 pessoas e dois policiais para fazer a contenção. É difícil chegarem dois colegas na frente de 5.000 pessoas%2C algumas alteradas%2C e dizer que elas iam ter que sair [do protesto que bloqueava rodovias].
Ele comentava um vídeo que viralizou na internet que mostra policiais em apoio às manifestações. Em um deles, um policial rodoviário federal diz o seguinte a um grupo de manifestantes: "O que eu tenho a dizer nesse momento é [que] a única ordem que nós temos é para estar aqui com vocês, só isso".