Alckmin cita ‘safra recorde’ e queda do dólar para redução do preço dos alimentos
Governo está ‘otimista’, diz vice-presidente; custo da comida tem preocupado Executivo, e Lula discutiu assunto com ministros nesta sexta
Brasília|Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília

O vice-presidente, Geraldo Alckmin, afirmou nesta sexta-feira (24) que a perspectiva de uma “safra recorde” na agricultura neste ano e a queda do dólar vão contribuir para a redução do preço dos alimentos. O custo da comida tem preocupado o Governo Federal, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu ministros nesta sexta para debater o assunto.
Ainda não há proposta para combater os aumentos, mas uma eventual redução de impostos de importação de produtos é avaliada. Apesar do cenário, Alckmin declarou que o Executivo está “otimista”.
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“Uma boa notícia: estudos mostram que o clima deve ser positivo. Ano passado tivemos uma seca muito intensa. Quando a gente pergunta por que o café aumentou tanto de preço, foi a seca e o calor. Então, com clima bom, há expectativa que a safra agrícola cresça 8% a mais, uma safra recorde. Isso ajuda a reduzir preço [dos alimentos]”, declarou Alckmin a jornalistas, após evento na UGT (União Geral dos Trabalhadores), em São Paulo.
“A outra [boa notícia] é o dólar. Você tem fertilizante, combustível, equipamentos, muita coisa que é contaminada pelo dólar. Então com uma redução do dólar, também vai ajudar”, completou. Em semana de quedas consecutivas, o dólar fechou esta sexta-feira (24) a R$ 5,91 — variação de 0,13%.
Alckmin também destacou a reforma tributária como um fator na redução do preço dos alimentos. “Vai desonerar a cesta básica, inclusive a proteína animal”, observou. “O que mais pode ser feito? O presidente Lula, corretamente, está preocupado em reduzir o preço e evitar aumento. Tem o estoque regulador da Conab [Companhia Nacional de Abastecimento] — quando tenho uma grande safra, guardo um pouco, para, quando faltar, ter estoque. Isso regula um pouco e evita grandes oscilações de preço”, acrescentou o vice-presidente.
Redução dos preços
Alckmin destacou, ainda, que a inflação tem caído nos últimos dias. A prévia da inflação, medida pelo IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15), desacelerou na passagem de dezembro para janeiro e marcou 0,11% — o menor nível para o mês da série histórica iniciada em 1994, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta sexta (24).
“Teve já uma pequena redução do processo inflacionário. Acho que vamos ficar dentro da meta. Estamos otimistas”, declarou. Os preços subiram em ritmo menor em razão da queda do custo com energia elétrica residencial, agora com tarifária bandeira verde em vigor.
O vice-presidente ponderou que fatores externos fogem ao controle do Governo Federal. “Tem coisas que não dependem de nós, como reflexos da política externa que vai acontecer nos EUA e quais medidas serão tomadas. [Mas] o Brasil é um país com pressupostos econômicos sólidos, temos crescimento forte da economia”, argumentou.
Por fim, Alckmin defendeu a queda da Selic, a taxa de juros básica do país. “Claro que há preocupação com a taxa de juros, a Selic, mas quanto melhor o governo avançar no cumprimento do arcabouço fiscal, isso vai ajudar também a segurar a questão dos juros, porque uma taxa Selic muito alta realmente reduz o potencial do crescimento econômico — poderia crescer mais, mas acaba crescendo menos. Mas vejo um ano com cenário positivo”, completou o vice-presidente.
Discussão no governo
Integrantes do Executivo devem continuar a debater o tema nos próximos dias, principalmente com supermercados, frigoríficos e agricultores. A ideia é ouvir os atores e chegar a um denominador comum. Os principais quesitos considerados na discussão das medidas incluem não onerar o governo nem prejudicar os setores envolvidos.
Quando houver uma decisão, a tendência é que a apresentação não seja feita na forma de pacote. Em vez disso, devem ser anunciadas medidas pontuais consideradas mais efetivas para o momento. A avaliação é que a “medicação específica” leva em consideração fatores como a sazonalidade das safras — um alimento tido como caro pode baratear em alguns dias.