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R7 Brasília

Bolsonaro dava ‘esperança’ de adesão das Forças Armadas ao suposto golpe, diz Mauro Cid

Cid também relata que os comandantes das Três Forças assinaram nota autorizando a manutenção de acampamentos

Brasília|Gabriela Coelho e Rafaela Soares, do R7, em Brasília

Bolsonaro atuou para manter acampamentos Ton Molina/Fotoarena/Estadão Conteúdo - 18/02/2025

O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, afirmou que as cobranças pelo suposto plano de golpe de Estado eram frequentes, pois o então presidente sempre dava esperanças de que algo aconteceria para convencer as Forças Armadas a concretizarem a ideia.

“O colaborador [Mauro Cid] inclusive afirma que esse foi um dos motivos pelos quais o então presidente Jair Bolsonaro não desmobilizou as pessoas que ficavam na frente dos quartéis”, diz um trecho do acordo de delação premiada.

Ainda sobre os acampamentos, Cid também relata que os comandantes das Três Forças assinaram uma nota autorizando a manutenção das estruturas por ordem de Bolsonaro.

Outro ponto que Cid chama atenção é a postura de Bolsonaro e o candidato a vice-presidente na chapa, general Walter Braga Netto para reafirmar que o resultado da Eleição 2022 poderia não ser respeitado.


“Tanto o então Presidente Jair Bolsonaro quanto o General Braga Netto esperavam que algo pudesse acontecer para convencer as Forças Armadas a darem o golpe e por isso incentivavam a manutenção das mobilizações em frente aos quartéis”, diz o documento.

Pressão pelo golpe

O ex-ajudante de ordens relata uma troca de mensagens com um militar que questionava “se o churrasco seria feito”, em referência à efetivação do golpe. Além disso, o documento menciona os supostos financiadores, referindo-se a eles como “o pessoal que colaborou com a carne”.


Outro ponto destacado na delação foram reuniões em novembro de 2022 entre Felipe Martins, ex-assessor internacional do ex-presidente em que foi apresentado um documento com várias páginas de “considerandos”, que retratava as interferências do Poder Judiciário no Poder Executivo e no final era um decreto que determinava a prisões de várias pessoas.

Entre elas, os ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, além de outras autoridades que de alguma forma se opunham ideologicamente ao ex-presidente.


“Além disso, o documento decretava novas eleições devido a fraudes que teriam ocorrido no pleito de 2022. Jair Bolsonaro recebeu o documento, leu e alterou as ordens, mantendo apenas a prisão de Alexandre de Moraes e a realização de novas eleições”.

Comandante da Marinha

O colaborador afirmou que almirante Garnier, comandante da Marinha, era favorável a uma intervenção militar, afirmando que a força estava pronta para agir, aguardando apenas a ordem do ex-presidente.

“No entanto, os comandantes do Exército e da Aeronáutica refutaram tal ideia, frustrando a ideia de execução de um Golpe de Estado”.

Defesas

Jair Bolsonaro

A defesa do ex-presidente disse que recebeu “com estarrecimento e indignação” a denúncia da Procuradoria-Geral da República.

De acordo com o comunicado, Bolsonaro “jamais compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do Estado Democrático de Direito ou as instituições que o pavimentam”.

“A despeito dos quase dois anos de investigações — período em que foi alvo de exaustivas diligências investigatórias, amplamente suportadas por medidas cautelares de cunho invasivo, contemplando, inclusive, a custódia preventiva de apoiadores próximos —, nenhum elemento que conectasse minimamente o Presidente à narrativa construída na denúncia, foi encontrado", continuou a defesa.

Segundo os advogados, não há qualquer mensagem de Bolsonaro “que embase a acusação, apesar de uma verdadeira devassa que foi feita em seus telefones pessoais”.

“A inepta denúncia chega ao cúmulo de lhe atribuir participação em planos contraditórios entre si e baseada numa única delação premiada, diversas vezes alteradas, por um delator que questiona a sua própria voluntariedade. Não por acaso ele mudou sua versão por inúmeras vezes para construir uma narrativa fantasiosa”, destacou a defesa.

“O Presidente Jair Bolsonaro confia na Justiça e, portanto, acredita que essa denúncia não prevalecerá por sua precariedade, incoerência e ausência de fatos verídicos que a sustentem perante o Judiciário”, concluiu a defesa dele.

Walter Braga Netto

Um dos denunciados foi o ex-ministro Walter Braga Netto. A PGR imputou a ele os crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça, contra o patrimônio da União, e com considerável prejuízo para a vítima, e deterioração de patrimônio tombado, observadas as regras de concurso de pessoas e concurso material.

A defesa dele disse que “a fantasiosa denúncia apresentada contra o General Braga Netto não apaga a sua história ilibada de mais de 40 anos de serviços ao Exército brasileiro”.

“O General Braga Betto está preso há mais de 60 dias e ainda não teve amplo acesso aos autos, encontra-se preso em razão de uma delação premiada que não lhe foi permitido conhecer e contraditar”, disseram os advogados.

A defesa afirma que Braga Netto “teve o seu pedido para prestar esclarecimentos sumariamente ignorado pela PF e pelo MPF, demonstrando o desprezo por uma apuração criteriosa e imparcial”.

Os advogados destacaram que “é surpreendente que a denúncia seja feita sem que o relatório complementar da investigação fosse apresentado pela Polícia Federal”.

“É inadmissível numa democracia, no Estado Democrático de Direito, tantas violações ao direito de defesa serem feitas de maneira escancarada. A defesa confia na Corte, que o STF irá colocar essa malfadada investigação nos trilhos.”

Almir Garnier Santos

O ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos foi denunciado pelos crimes de organização criminosa armada; tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito; golpe de Estado; dano qualificado pela violência e grave ameaça, contra o patrimônio da União, e com considerável prejuízo para a vítima; e deterioração de patrimônio tombado, observadas as regras de concurso de pessoas e concurso material.

A defesa dele disse que, antes de se manifestar, vai ler a denúncia da PGR. “Creio que agora teremos acesso à delação do Cid. Em seguida exerceremos o contraditório”, afirmaram os advogados.

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