PF sinaliza pressão por aumento salarial se deixar de fazer a segurança de Lula
Corporação cuida da proteção do presidente desde janeiro, mas pode perder a função para o GSI a partir de julho
Brasília|Augusto Fernandes, do R7, em Brasília
Em meio à disputa entre a Polícia Federal e o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) pela missão de fazer a segurança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a partir do mês que vem, a PF tem externado insatisfação com a possibilidade de deixar de executar o serviço. Membros da corporação cogitam protestar caso sejam "descartados" pelo presidente e retomar a pressão por reajuste salarial e reestruturação das carreiras do órgão.
A segurança de Lula, no momento, está a cargo da Secretaria Extraordinária de Segurança Imediata do Presidente da República (Sesp), criada a partir de um decreto assinado por ele em janeiro, após os atos de vandalismo em Brasília do dia 8.
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Esse órgão, no entanto, deixa de funcionar na próxima sexta-feira (30). De acordo com o decreto que instituiu a secretaria, após essa data as atividades exercidas pelo órgão serão de competência privativa do GSI.
A Sesp é composta de ao menos 400 servidores, a grande maioria deles policiais federais. Segundo avaliação da corporação, o órgão desempenhou um bom papel desde a sua criação, e a segurança de Lula em nenhum momento ficou em risco, seja em Brasília, seja nas agendas do presidente fora do país.
Dessa forma, integrantes da PF entendem que não há motivos para serem retirados da função e que, se isso acontecer, o chefe do Executivo vai passar uma mensagem ruim aos policiais.
Em março deste ano, o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, apresentou ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, uma proposta de reestruturação da carreira de delegados, peritos e outras categorias da corporação. O texto previa, entre outros pontos, correção salarial que variava de 37,7% a 79,6%, a depender da função, e mudanças no modelo de progressão de carreira, para que os membros da corporação chegassem ao topo com menos tempo de trabalho.
O pleito acabou esfriando depois que Lula autorizou, em abril, um reajuste de 9% no salário de todos os servidores do Executivo federal. Apesar de a recomposição não ter agradado aos membros da corporação, entidades que representam os servidores da PF aprovaram a proposta do governo. Mas, diante do risco de deixar a segurança do presidente, os policiais cogitam fazer pressão pelo reajuste que foi pedido em março.
Na semana passada, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou que o GSI vai assumir a função a partir de julho. Segundo ele, “será montado um modelo híbrido, mas sob coordenação do GSI”. “O presidente terá a liberdade de convidar quem ele entender que deve compor [a segurança], independente de ser Polícia Federal, policial militar ou membros das Forças Armadas”, afirmou.
Por outro lado, Dino defendeu a continuidade da PF. “O presidente Lula está colhendo opiniões. É claro que reconhecemos a importância do GSI, mas defendemos a atuação da Polícia Federal, que tem sido muito elogiada e reconhecida, e que corresponde em larga medida a padrões internacionais”, ressaltou o ministro da Justiça e Segurança Pública.
Sem consenso dentro do governo sobre a situação, Lula vai se reunir com os órgãos envolvidos na disputa até o fim da semana para bater o martelo. Uma parte da equipe dele tem defendido a tese de que o atual modelo está funcionando bem e dito que seria interessante manter a PF na segurança presidencial. Por outro lado, há quem considere que designar o GSI para a função vai significar um gesto de reaproximação do presidente com os militares.