Vice de Skaf diz que vitória de Alckmin transformaria SP em um império
O advogado criminal José Roberto Batochio defende alternância de poder em São Paulo
São Paulo|Ana Ignacio, do R7

Cinquenta e nove quadros com honrarias e homenagens forram as paredes da ampla sala de reunião do escritório do Batochio Advogados Associados, localizado na avenida Paulista, região central de São Paulo. Os papeis e placas emoldurados comprovam os quase 50 anos de carreira de José Roberto Batochio (PDT), candidato a vice ao governo de São Paulo na chapa de Paulo Skaf (PMDB).
Em uma tarde do início de setembro, após alguns minutos de atraso em relação ao horário marcado, o advogado interrompeu uma reunião para atender à reportagem do R7.
Ex-deputado federal — cargo que ocupou entre 1998 e 2002 —, Batochio foi presidente nacional da OAB e advogado de Antonio Palocci — ministro da Fazenda de Luiz Inácio Lula da Silva e chefe da Casa Civil de Dilma Rousseff. O advogado também ficou conhecido por defender políticos como Waldemar Costa Neto, Paulo Maluf e Sérgio Motta.
Com pouca experiência política — Skaf começou no ramo em 2009 quando se filiou ao PSB e concorreu, pela primeira vez, ao governo de São Paulo — o nome de Batochio parece estratégico para compor a chapa do peemedebista. Tanto que o advogado atua no programa de governo do empresário, principalmente na área de segurança, que é uma das bandeiras da campanha de Skaf.
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Durante a entrevista, Batochio fez duras críticas ao governador Geraldo Alckmin e falou ainda sobre as principais propostas da candidatura de Skaf, os clientes políticos que defendeu e a relação da campanha ao governo com Dilma Rousseff e o PT.
Veja a seguir alguns trechos da conversa:
R7: Como o senhor avalia a campanha até o momento?
José Roberto Batochio: A campanha vai muito bem, acho que o povo de São Paulo compreende bem que o núcleo central da democracia é alternância no poder e que ninguém pode ficar governando um Estado por 20 anos, é uma demasia, é uma excrescência, acho que tem que haver alternância no poder até para que novos métodos e novas ideias sejam implementados. Os tucanos estão aí há 20 anos. Daqui a pouco chegaremos aos 30 anos nessa marcha batida e não teremos mais um governador, teremos um imperador.
R7: E o senhor acredita que o Skaf representa essa mudança?
JRB: Acho que o Skaf representa efetivamente a mudança, uma nova metodologia de administrar, ele provém da cadeia produtiva, ele conhece as agruras do contribuinte, ele não é um burocrata que nunca exerceu nenhuma outra atividade além da política como muitos que existem por aí.
R7: Mas há ponto de encontro nos discursos de Skaf e de Alckmin que têm falado em projetos semelhantes como a criação de hospitais, AMEs e o ensino em tempo integral.
JRB: Não é ponto de encontro, é que o governador está correndo atrás do prejuízo. O que ele não fez em dez anos, em 20 anos, agora em face das propostas apresentadas pelas novas candidaturas ele corre atrás para dizer “olha, eu também vou fazer”. Por que ele não remunerou bem os funcionários públicos? Por que os professores da rede de ensino apanham na escola? E por que eles ganham tal mal? Por que a polícia foi tão desequipada, tão desmantelada nos últimos dez anos? O salário dos policiais civis é um salário de fome.
R7: O Skaf se encontra hoje em uma posição de polarização com o PSDB e o PT perdeu o tradicional posto de segundo lugar na disputa eleitoral. Neste cenário, ele busca os votos de quem? Não seria incoerência transitar entre esses dois eleitorados?
JRB: Em primeiro lugar ele vai receber os votos dos democratas conscientes que sabem que não é saudável para a democracia, não é saudável para a administração pública, uma pessoa tanto tempo no governo do Estado. Ele vai receber também os votos dos funcionários públicos, que foram tão maltratados pelo governo Alckmin, dos policiais civis e militares que não foram reconhecidos, da cadeia produtiva que não consegue vencer a burocracia do Estado de São Paulo. Será que existe gente tão masoquista que vai querer repetir tudo isso por mais quatro anos? Não é possível.
R7: Ele vai pegar então os votos dos insatisfeitos com o governo do PSDB?
JRB: Não só isso. Pessoas conscientes da necessidade da renovação e pessoas conscientes de que a inoperância e a ineficácia administrativa desse governo nos últimos dez anos continuará como inoperância e ineficácias se lhe for dado um novo mandato.
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R7: Em relação às alianças, como avalia os recentes questionamentos sobre Skaf apoiar ou não Dilma Rousseff já que o partido compõe chapa com a presidente na esfera federal?
JRB: A questão é muito simples. Setores da imprensa ficam frenéticos com “nós precisamos arrancar do Paulo [a frase]: ‘eu vou votar na Dilma’. Quem conhece legislação eleitoral sabe que nós temos o princípio da fidelidade partidária. Quer dizer, um candidato de um partido não pode fazer aliança, não pode apoiar candidato de outro partido quando o seu partido tem candidato naquele mesmo cargo. A Dilma só pode estar no palanque do Padilha. Se a Dilma sair e for para o palanque do Paulo, ela estaria cometendo uma infidelidade partidária o que ela nunca fez e nunca fará, tenho certeza. Então é claro que o candidato da Dilma no Estado de São Paulo é o do PT. Se a Dilma não pode apoiar Paulo contra Padilha no Estado de São Paulo, por que razão se cobra a ida de Paulo ao palanque de Dilma?
R7: Acredita que a associação da imagem dele à da presidente seria negativo para ele?
JRB: Não acho nada a esse respeito. Quem sabe, não? Acho que a candidatura dele é dele, a candidatura dele não é do PT, não é da Dilma. A candidatura dele é do Paulo Skaf e essa questão de querer, digamos assim, enquadrá-lo ou submetê-lo à dependência ou à influência ou à tutela de outros candidatos não tem a menor sentido. Paulo Skaf é uma candidatura para lá de autônoma, de independente, segura e firme, com programa.
R7: Qual será o principal foco do governo de vocês, caso Skaf seja eleito?
JRB: São várias prioridades, mas política, administrar, é fazer escolhas permanentemente. A escola de primeiro grau em período integral é um compromisso absolutamente prioritário. Como o mandato tem quatro anos, em quatro anos nós teremos atingido já quatro séries do primeiro ciclo. E a segunda marca será o problema da segurança, que está crítico. Ninguém sabe se volta pra casa. Nós temos que reformular, refundar a segurança pública do Estado de São Paulo.
R7: Como o senhor avalia as críticas a aliados de Skaf, como o ex-governador Luiz Antônio Fleury Filho e o candidato ao Senado Gilberto Kassab?
JRB: Isso me dá a convicção e a certeza de que as pesquisas que favorecem ao Alckmin não correspondem à realidade porque se ele estivesse realmente soberano, navegando acima das nuvens, com 50%, ele não teria necessidade nenhuma de atacar pessoalmente o Fleury, atacar pessoalmente o Paulo. O Fleury foi governador de São Paulo em uma época em que o vice-governador era o Aloysio Nunes Ferreira, senador. O Aloysio Nunes é tucano e é o candidato a vice-presidente da República na chapa do Aécio Neves, que o Alckmin apoia. Então eu não entendo. É uma contradição.
R7: O senhor acredita que pode também virar alvo de críticas já que defendeu políticos que são associados pela mídia e pela sociedade a escândalos políticos?
JRB: Acho que o compromisso do advogado é com a liberdade humana. Quem julga é o juiz, não é o advogado que julga a pessoa. E, além disso, o que tem a ver o advogado com a pessoa que ele defende? Eles são simplesmente pessoas que são defendidas, são clientes. O que não se diria do Sobral Pinto, que defendeu, por exemplo, Luiz Carlos Prestes? O que se diria do Abraham Lincoln, que foi presidente dos EUA e defendeu muita gente como advogado? E do Nelson Mandela, que também foi advogado e defendeu muita gente? E do Martin Luther King, que também foi advogado e defendeu muita gente? Acho isso tão primário, tão apedeuta, tão acultural, que eu não posso acreditar que haja alguém que pensa que o advogado é igual ao cliente que ele defende. Além disso, desses meus clientes políticos, ninguém foi condenado. Portanto, não se pode sequer dizer que eles fossem culpados.