Cientistas ‘desenrolam’ documentos queimados por vulcão há 2.000 anos
Pergaminhos carbonizados após a erupção do Vesúvio, na Itália, estão sendo decifrados com ajuda de IA
Internacional|Do R7

Reduzidos a cinzas pela erupção do Vesúvio em 79 d.C., os pergaminhos de Herculano permanecem como um dos grandes mistérios do mundo antigo. Descobertos em meados do século XVIII em uma mansão antiga próxima a Pompeia, os pergaminhos estavam completamente carbonizados, impossibilitando a leitura e o manuseio dos documentos.
Mesmo que dois séculos e meio tenham se passado após a descoberta dos rolos de Herculano, poucos pergaminhos conseguiram ser abertos e decifrados, revelando textos filosóficos em grego antigo. As técnicas utilizadas para abertura desses papiros iam desde água de rosas e mercúrio até gás vegetal e suco de papiro.
No entanto, a maioria permaneceu ilegível devido aos danos extremos. Mais recentemente, segundo a rede de televisão americana CBS News, avanços tecnológicos permitiram que pesquisadores começassem a decifrar algumas palavras utilizando inteligência artificial, raios X e tomografias computadorizadas para diferenciar a tinta do papiro carbonizado.
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Na quarta-feira (5), um avanço significativo foi anunciado pelos arqueólogos do caso. Pesquisadores afirmam ter conseguido desenrolar digitalmente um dos artefatos, e avançado na leitura de um dos pergaminhos. O manuscrito, conhecido como PHerc. 172, é um dos três preservados na Biblioteca Bodleiana da Universidade de Oxford, na Inglaterra.
Para fomentar ainda mais o processo de leitura dos pergaminhos carbonizados e acelerar o desenvolvimento de novas tecnologias, a Universidade de Oxford criou o "Desafio Vesúvio“, uma competição que premia os pesquisadores que conseguirem decifrar os frágeis pergaminhos.
“O Desafio Vesúvio, que é um prêmio competitivo, nos permitiu recrutar mais de mil equipes de pesquisa para trabalhar em um problema no qual normalmente teríamos apenas cinco pessoas trabalhando”, disse Brent Seales, um dos cofundadores do desafio.
Por mais de duas décadas, Seales estuda os segredos dos pergaminhos de Herculano e outros artefatos antigos. Mas, graças ao aprendizado computacional e ao desafio, Seales acredita que está mais perto do que nunca de ler o texto dos pergaminhos carbonizados pela erupção vulcânica.
“O desembrulhamento virtual nasceu de uma visão que tive de que poderíamos explorar o interior de algo sem precisar abri-lo fisicamente”, explicou Seales.
A técnica utilizada por Seales consiste em um raio X 3D mesclado com uma máquina de microtomografia computadorizada que encontra a tinta inscrita no pergaminho e achata o documento para que ele possa ser lido.
Seales acredita que se mais textos dos pergaminhos de Herculano puderem ser extraídos, será uma das maiores descobertas do mundo antigo.
“Eu acho que há um enorme componente emocional que é poderoso, e também pode realmente inspirar as pessoas a não apenas aprender e aplicar a ciência, mas a entender a história da humanidade”, disse Seales.