Europa deve agir rapidamente para aumentar poder de defesa, diz futuro chanceler alemão
Friedrich Merz, favorito para assumir o cargo de chanceler, alerta para possível distanciamento dos EUA e defende maior autonomia militar da Europa
Internacional|Do R7, em Brasília

O político alemão Friedrich Merz, cujo partido venceu as eleições parlamentares no domingo (23), afirmou que a Europa pode precisar estabelecer uma capacidade de defesa independente, diante do que ele chamou de “aparente indiferença dos Estados Unidos em relação ao continente”.
Merz, líder da União Democrata-Cristã (CDU/CSU), criticou a administração do presidente americano Donald Trump, sugerindo que a aliança transatlântica está em risco.
Com 28,6% dos votos, o bloco conservador de Merz garantiu a primeira posição no pleito, colocando-o como o provável próximo chanceler da Alemanha. No entanto, a eleição também marcou um avanço histórico da extrema-direita, com o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) conquistando 20,8% dos votos e ficando em segundo lugar.
Em entrevista após a vitória, Merz expressou preocupação com o futuro da parceria entre Europa e Estados Unidos. Ele citou declarações recentes da administração Trump, que pediu aos aliados europeus para cuidarem de sua própria segurança e reduzirem a dependência dos EUA.
“Nunca pensei que diria algo assim em um programa de televisão, mas está claro que os americanos, pelo menos esta administração, são amplamente indiferentes ao destino da Europa”, afirmou.
O político alemão também mencionou as negociações dos EUA com a Rússia para encerrar a guerra na Ucrânia, das quais a Europa foi excluída. “Isso mostra que precisamos repensar nossa estratégia de segurança”, disse Merz, sugerindo que a Europa pode precisar acelerar a criação de uma capacidade de defesa independente.
Defesa nuclear e realinhamento estratégico
Merz defendeu que a Alemanha e outros países europeus reduzam a dependência do “guarda-chuva nuclear” americano. Ele propôs conversas com França e Reino Unido, as potências nucleares da Europa, sobre uma possível expansão da proteção nuclear no continente.
Piotr Buras, chefe do Escritório de Varsóvia do Conselho Europeu de Relações Exteriores, destacou que Merz, apesar de ser um defensor da aliança transatlântica, reconhece a necessidade de um realinhamento nas relações entre EUA e Europa.
“Ele sabe que os interesses de segurança dos dois lados não estão mais tão alinhados como no passado”, afirmou Buras em entrevista à TVP World. Ele ressaltou que uma revisão da política externa e de segurança alemã exigiria também uma reformulação da política financeira, incluindo a questão da dívida comum europeia.
A eleição de Merz e o crescimento da extrema-direita na Alemanha ocorrem em um momento de incertezas geopolíticas, com a guerra na Ucrânia e as tensões entre EUA e Rússia. A busca por uma defesa europeia independente pode se tornar um dos principais temas da agenda do futuro chanceler, marcando uma nova era nas relações transatlânticas.