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Crônicas de Stoliar

A fuga afegã

Nessa história toda entre Estados Unidos e Afeganistão, não há "bom moço"

Crônicas do Stoliar|Do R7


Afegãos tentam fugir do país
Afegãos tentam fugir do país

Dia desses vi uma imagem na tv que me chamou muito a atenção. Centenas de pessoas se pendurando em um avião na tentativa de escapar do próprio país onde nasceram. Num primeiro momento eu não entendi o motivo, que mais tarde se revelaria... Era a volta do Talibã ao Afeganistão. Mas o que leva um povo a querer deixar o próprio país dessa maneira?

Indo mais a fundo na questão e voltando alguns anos no tempo, dei graças a Deus de morar no Brasil. Olha que não estou citando governo A ou B, ok? Estou falando do Brasil como um todo. Um país jovem e cheio de problemas. Com suas agruras e incapacidades, seus escândalos, suas lutas e suas conquistas. Eu já tive e, ainda tenho, vontade de sair do Brasil para morar em outro país. Mas no meu caso, sempre foi o desejo de estudar fora, conhecer outra cultura, outros costumes, outra realidade. O que vi naquele dia pela tv, em pleno século XXI, foi a imagem de um povo que queria fugir do país de origem com medo da vida que passaria a ter no lugar onde nasceu, após o retorno de um governo opressor. Para entender melhor essa realidade conversei com refugiados afegãos no Brasil. Sorob, que vive há 10 anos aqui, me disse estar na fronteira tentando entrar no Afeganistão para resgatar a filha e os dois filhos. A família está escondida e teme morrer só porque tem origem asiática. Oi????? Isso mesmo!! O Talibã mata os próprios compatriotas de outras etnias, além de transformar a vida das mulheres num verdadeiro inferno! Mas para entender como isso tudo começou é preciso primeiro saber que não tem bonzinho nessa história, tá?

Talibã significa "estudante" em Pashto, um dos muitos idiomas falados no Afeganistão. Recebeu esse nome porque os integrantes do grupo eram estudantes das madraças, as escolas que ensinam a versão mais radical do alcorão (o livro sagrado do islamismo). Quando o Talibã governou o país entre 1996 e 2001, o grupo fundamentalista armado comandava o povo de maneira radical (com base no que aprenderam na escola, sabe?).

As mulheres não podiam trabalhar, nem estudar e muito menos sair de casa sem a presença de um homem ao lado. Tinham que usar a burca e ir à praia... Nem pensar! Não podia ter festa, filme, nenhum tipo de manifestação cultural e por aí vai. Imagina um lugar em que só se vê homem na rua? Pois é... Mas de onde veio o Talibã?


Lembra que eu disse não ter nenhum "bom moço" nessa história?!

Então, quando a União Soviética ocupou o país no fim do século passado, a população foi armada pelos Estados Unidos na tentativa de se criar um grupo local que pudesse guerrear contra os soviéticos e "tocar" o país com as próprias pernas (sem esquecer de quem ajudou nessa "independência", claro). O problema é que no meio dessa galera, estavam os "estudantes" radicais das madraças, que acabaram se organizando, agora armados.


Em 2001, o feitiço se voltou contra o feiticeiro. Depois dos ataques as Torres Gêmeas em 11 de Setembro, os Estados Unidos descobriram que o Talibã dava abrigo aos terroristas da Al Qaeda, entre eles, Osama Bin Laden. Lembra dele, caro leitor? Pois é. Começava ali a ocupação do Afeganistão pelas tropas americanas, que durou 20 anos.

Os americanos receberam ajuda de milhares de afegãos que apoiavam a criação de um governo sem o radicalismo ou o extremismo de uma das interpretações do Islã.


Mas quando os americanos retiraram os militares do país, o Talibã levou duas semanas para ocupar tudo de novo e passou a caçar os afegãos que apoiaram os USA.

Tá explicada a fuga em massa?

Milhares de pessoas vão buscar refúgio em outros países, inclusive no Brasil que, como já disse, tem seus próprios problemas para resolver. Mas tem como deixar de receber alguém que está entre a vida e a morte? Isso se chama "Diplomacia Internacional". Mas soa mais como o exemplo de como um problema local pode se tornar mundial.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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