Trançados do Piauí
Nova série do Jornal da Record começa nesta segunda-feira (20)
Crônicas do Stoliar|Do R7
Recentemente estive no Piauí, um dos poucos estados do Brasil que ainda não conhecia. Percorrendo o norte, perto do Sertão, descobri um pouco o que é ser sustentável.
Essa palavra ainda é um pouco entediante aqui no sudeste. Quando se fala em sustentabilidade, sempre tem um pra dizer que é um papo chato. Não é por menos! Estamos na parte mais industrial, poluente e frenética do país. Ganhamos dinheiro com isso, não é mesmo?! Bem diferente do Piauí. Lugar de belezas naturais incríveis e de um povo que convive em harmonia com a natureza.
É difícil conhecer os costumes dessa gente e não se motivar. Vivemos no único planeta e precisamos entender como mante-lo vivo. Foi pensando nisso que decidimos mostrar numa série de reportagens como comunidades dessa região do país tiram o sustento da natureza, sem destruí-la.
Depois de alguns dias convivendo com os moradores desses povoados, não vou negar que aprendi como a vida pode ser entendida em verso e prosa:
Não é preciso ser rico para se sustentar
Quando a natureza é capaz de lhe incentivar
Nada que eu diga aqui ilustra o que vi por lá
Gente simples, gente humilde, com uma criatividade nota A
Elas sabem fazer arte sem precisar se estressar
Usam a natureza e ainda conseguem preservar
O que elas criam no Piauí, eu só vi pra lá de Bagdá.
O artesanato do norte do Piauí não deixa nada a desejar ao dos estrangeiros. E não pense que são pessoas ignorantes, porque não são...
Lá pelas tantas, num domingo de sol, conheci o Dedé. Um pescador dono de um restaurante simples num povoado perto da praia do coqueiro, bem ao norte. Foi a melhor moqueca que já comi. Mas foi ouvindo as histórias do tal Dedé, que fiquei surpreso. É impressionante como o nordestino cria arte em tudo que faz. Foi assim, segundo ele, quando o primeiro avião foi visto pelos céus do Piauí por volta dos anos 30 do século passado. Ok, foi um pescador que me contou... Mas verdade ou não, o poema que o Dedé contou assim na mesa do "bar", mostra como a arte pode vir de onde menos se espera.
Poema do Dedé
"Dia 19 de novembro, estando nós no oceano vi interessante trabalho, causa do meio engano. Ouvi um trovejo no ar da maquina do aeroplano. Nao vi leme nem S(hélice), nem vi ninguém governar. Vi ele perfeitamente na macieza do ar. Pelas historias que contam não posso acreditar. Soltando fumaças brancas, como nunvem em mês de maio, o tempo que reparemos tivemos a hora de empaio. Vou dar o nome do povo que tava nesse trabaio. Manuel Teixeira Veras , Laurindo e Chico Agostinho, Joao de Paula Ferreira e seu Chico Serafino. " Manuel Teixeira Veras, pescador.
Fique com vontade de ver o avião... E você?
A série de reportagens Trançados do Sertão começa nessa segunda no Jornal da Record.
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