Dossiê Venezuela: o desafio do jornalismo
Quando decidi escrever um livro, dois anos depois de ser preso com meu amigo e repórter cinematográfico Gilson Fredy na Venezuela em 2017, sabia que teria um desafio pela frente: publicar a obra
Crônicas do Stoliar|Do R7
Sim, meus amigos! Não é fácil ser aceito nesse mercado. Não é fácil ter a história aprovada em uma editora. Não é fácil escrever um texto que prenda o leitor em uma longa história. Mas essa semana eu realizei esse sonho. O sonho de superar um desafio.
Como um jornalista de televisão, acostumado a escrever textos curtos para serem falados, vai conseguir desenvolver quase duzentas páginas de um livro? Escutei muito essa pergunta. Existe um certo preconceito do mundo literário com jornalistas, de televisão então... Nem se fala. Mas eu queria que a história vivida ficasse registrada no papel, principalmente, nesse momento difícil enfrentado pela imprensa mundo a fora. Na era das "fake news", conquistar credibilidade e ter liberdade para trabalhar como jornalista é um desafio. É sobre isso que eu quero falar hoje. Na semana em que lanço meu primeiro livro sobre liberdade de imprensa, venho falar sobre como é difícil fazer jornalismo num país controlado por uma ditadura militar.
"Não existe democracia sem uma imprensa livre". Isso é um fato. Nós jornalistas perguntamos o que as pessoas querem esconder. Descobrir o que está escondido é jornalismo. O resto é publicidade. Fazer isso, sempre será uma forma de resistência. A resistência que preza pela informação verdadeira.
Lá na Venezuela, fomos investigar uma denúncia de desvio de dinheiro brasileiro em obras inacabadas e acabamos na cadeia. Presos por uma polícia que persegue quem fala mal do governo.
Fomos chamados de terroristas, espiões, inimigos da nação. Acredite. Fomos justamente investigar uma suposta corrupção nas obras que deveriam melhorar a qualidade de vida da população... Então por que fomos chamados de inimigos dessa mesma nação?
O livro conta os momentos na prisão, os desafios da reportagem, os medos, as incertezas. Se é difícil fazer jornalismo de qualidade, imagine preso. Leia e tire suas próprias conclusões.
O que quero dizer a você agora é que eu olhava para o rosto dos agentes do serviço bolivariano de inteligência durante os interrogatórios e não via policiais. Via fanáticos. E isso é perigoso. Eu sabia e temia. Assim como a imprensa deve buscar a informação que pode influenciar a vida das pessoas, a polícia deve proteger e servir essas mesmas pessoas. O que pouca gente entende é que o jornalista também é fanático. Só que pela profissão. Falo da maioria ok?
Ninguém escolhe ser jornalista para ficar rico, apesar de receber um bom salário ser o desejo de todos. Escolhemos por amor, paixão, tesão. Você pode chamar do que quiser... A verdade é que saímos de casa todos os dias para enfrentar um leão e quanto mais tentam nos impedir, mais vontade temos de encarar a fera. Não tem glamour, não tem riqueza, não tem fama. Tem vontade, coragem, vício em tentar descobrir o que ninguém mais conseguiu. Quem aí gostaria de ir a outro país para investigar um governo ditador? Era desafiador. Perigoso. Até insano, talvez. Assim como encontrar uma maneira de sair vivo de lá também se tornou um desafio...
A todo momento, até durante as ameaças que sofremos, eu pensava: Se eu sair vivo daqui, a minha reportagem vai ficar ótima! Não é coisa de gente que trabalha por dinheiro, não acha?
Tive medo? Sim. Pensei que não voltaria? Também. Desisti da matéria? Nunca. Jornalismo é isso: Quanto mais tentam impedir, mas dá vontade de fazer. Graças a Deus voltei para escrever o livro. Ou melhor, graças a Jesus e Maria, dois jornalistas venezuelanos que nos ajudaram na libertação. Você vai entender isso depois de ler a história. Parei de acreditar em coincidências... O Dossiê Venezuela é a história de muitos desafios. Foi um desafio fazer a reportagem, foi desafiador ser preso, foi desafiante escrever o livro. Mas a gente gosta de desafios. Essa é a nossa rotina. Sejam bem vindos!
A gente se vê na semana que vem!
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.