Em reunião antes de marcha, participante sugeriu ‘meter o cacete’ em indígenas
Fala ocorreu em reunião entre representante da Apib e Secretaria de Segurança do DF, que nega declaração por algum servidor
Brasília|Lis Cappi e Edis Henrique Peres, do R7, em Brasília

Um vídeo gravado durante uma reunião entre a Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) e a SSP-DF (Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal) mostra o momento em que um participante do encontro, ao discutir a rota que seria feita pelos manifestantes do Acampamento Terra Livre 2025 em um ato em Brasília, responde ao representante da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil: “Deixa descer logo… Deixa descer e mete o cacete se fizer bagunça”.
A pessoa que fez a declaração tinha voz masculina e estava identificada como “iPhoneDeca” na reunião, sem imagem ou nome que possa identificar o autor. A SSP nega que a fala tenha sido dada por um dos servidores da segurança do DF (veja nota da Secretaria mais abaixo).
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A reunião aconteceu um dia antes do tumulto ocorrido em frente ao Congresso Nacional na noite de quinta-feira (10), quando policiais dispersaram indígenas com bombas de efeito moral e spray de pimenta. Segundo Senado e Câmara dos Deputados, a Polícia Legislativa usou os agentes químicos “para conter a invasão e impedir a entrada no Palácio do Congresso”.
O episódio, além de ter sido gravado em vídeo, consta em representação criminal feita pela deputada Célia Xakriabá (PSOL-MG) entregue ao STF (Supremo Tribunal Federal). A parlamentar foi atingida por spray de pimenta no rosto enquanto participava da marcha indígena na Esplanada dos Ministérios.
A reunião da SSP aconteceu na quarta-feira (9) às 17h30 e discutiu as ações integradas das forças de segurança no contexto da marcha do Acampamento Terra Livre 2025. Na representação, a deputado pontua que a fala é considerada um crime de racismo e incitação à violência.
“O que era uma ameaça, proferida por um suposto agente de segurança pública, se materializou na desproporcionalidade da atuação policial”, observou a parlamentar.
A Apib repudiou o ato e disse que vai tomar todas as medidas cabíveis.
O que diz a SSP?
Questionado sobre o tema, a SSP-DF explicou que realiza reunião antes de qualquer ato público ou manifestação, com o objetivo de planejar as ações das forças de segurança locais e federais, para preservar a ordem pública, a mobilidade e a prestação dos serviços públicos.
“Em relação à reunião ocorrida no dia 09/04/2025, em formato híbrido, para tratar da Marcha de Indígenas na Esplanada dos Ministérios, a SSP-DF informa que a manifestação pessoal veiculada pela imprensa não foi proferida por nenhum servidor do Governo do Distrito Federal, nem por qualquer servidor ligado à área de Segurança Pública, seja no âmbito Distrital ou Federal, ou mesmo pelas Polícias das Casas Legislativas ou do STF”, disse a pasta.
O R7 questionou se a pasta sabia de qual órgão era o participante que teria proferido a declaração e perguntou quais os outros envolvidos na reunião, já que segundo a SSP a pessoa responsável pela declaração não é ligada ao Governo do Distrito Federal, à Segurança Pública, aos policiais das Casas Legislativas ou ao STF. Até a publicação desta reportagem, no entanto, não houve posicionamento. O espaço segue aberto.
Na primeira nota enviada pela pasta, a SSP disse que o fato ocorrido durante a reunião será noticiado ao órgão de lotação do servidor, “o qual está atrelado ao aparelho celular que ingressou na reunião, no caso, na modalidade virtual, para apuração e providências cabíveis”.
“A SSP-DF reitera que não coaduna com qualquer manifestação de caráter violento, que as reuniões são gravadas, e os órgãos, nas três esferas de poder, tanto a nível Distrital como Federal, são convidados formalmente e indicam servidores que agem em nome das referidas instituições”, frisou a secretaria.
A pasta afirmou também que acompanha todo ato ou evento de manifestação. “Esse monitoramento é feito de maneira integrada entre as forças de segurança e outros 31 órgãos, bem como instituições e agências do governo local e federal, com suporte de câmeras de videomonitoramento. Esses órgãos integrados monitoram atos públicos de toda e qualquer natureza, respeitados os limites constitucionais. Além disso, auxiliam na promoção de ações de segurança pública - o trabalho em conjunto corrobora com a segurança, mobilidade, fiscalização e saúde da população do DF”, assegurou.
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